17 de setembro de 2008

De Autores e Autoridade

Para falar de temas que causam polêmicas é necessário ter muito cuidado, para não ofender as pessoas que pensa diferente de mim. Mas é necessário falar, fazer as pessoas pensar, refletir.

Desde sempre nos foi ensinado que certas tradições são a regra, em muitos aspectos da nossa vida. As tradições bíblicas são as mais fortes, e mexer com estas tradições é, na maior parte dos casos, mexer com as convicções e a fé das pessoas. Para mim isto é errado. Se uma descoberta, um novo conhecimento surge, e se este conhecimento contraria as tradições por longo tempo defendidas, as pessoas entram em choque, se revoltam, condenam tudo sem escutar razões. Não digo que todo conhecimento ou nova descoberta seja verdade absoluta, assim como as tradições antigas não o são. O que eu quero dizer é que muitas vezes baseamos as nossas convicções em ditas tradições, ou em cada nova descoberta que surge. E nos esquecemos do que é realmente importante.

Para falar num caso simples, o Pentateuco. Todo mundo acredita que foi Moisés quem escreveu o Pentateuco, ele sozinho criou os cinco livros a partir de narrativas orais. Tudo mundo afirma isto, nas igrejas, nas ruas. Só que esta tradição foi há muito tempo ultrapassada. Hoje em dia, no ambiente acadêmico, se sabe que não foi (não é possível, simplesmente) Moisés quem escreveu o Pentateuco (como podia ele descrever a própria morte?). Este conjunto de livros é o resultado de um longo processo de compilação de tradições, relatos, narrações e leis, no período do post-exílio.

Mas então, se isto é reconhecido oficialmente há muito tempo, porque nas igrejas, porque as pessoas "leigas" ainda acreditam na autoria mosáica? Muitos dizem que as pessoas não estão preparadas para este conhecimento. Segundo eles, se as pessoas soubessem estes fatos, ao meu ver tão simples, elas perderiam a sua fé, veriam questionadas as suas crenças, e, no pior dos casos, renegariam a sua fé. Isto, lastimosamente devo dizer, muitas vezes é a verdade. Afirmar uma coisa tão simples como que Moisés não escreveu o Pentateuco ocasiona nas pessoas condenação, rejeição da afirmação.
Ou os Evangelhos. Quantas vezes ouvimos nos púlpitos que foram os apóstolos, cujos nomes levam os livros, aqueles que escreveram os quatro Evangelhos. Hoje se sabe que não é assim. Com excepção de Lucas, os Evangelhos foram escritos por comunidades cristãs do primeiro século, preocupadas em resolver questões internas e em relatar aos novos convertidos, que não eram da geração de Jesus, os fatos e ditos do seu Mestre e Senhor. E Paulo. As cartas paulinas em sua totalidade afirmam que foi Paulo quem as escreveu. Mas, atualmente, as pesquisas revelaram que, por exemplo, a carta aos Efésios não pode ter sido escrita por Paulo, já que data de uma época posterior à morte do apóstolo.
E agora? O que fazer? Renegaremos todos a nossa fé? Claro que não!!! O que as pessoas têm que entender, o que é necessário que as pessoas parem para pensar é: em que você está colocando a sua fé? Se eu deixo de acreditar que a Bíblia é a Palavra de Deus só porque Moisés não escreveu o Pentateuco, eu estou demonstrando que a minha fé não está posta em Deus, mas em Moisés. Eu creio que a Bíblia é Bíblia porque Paulo escreveu Efésios, e que é um livro sagrado porque o apóstolo Mateus escreveu o Evangelho com seu nome. E ai, onde deixo a Deus? Onde está o Autor principal, aquele que ao longo dos séculos cuidou da formação do cânon, da propagação da palavra, da Bíblia? Onde está a minha fé?

Eu acredito que as pessoas devem ser preparadas para o confronto. Devem dar importância ao que é realmente importante. Que seja ou não uma pessoa conhecida e famosa a autora de um texto bíblico não aumenta nem tira autoridade ao texto. Ele tem autoridade em si mesmo, como o texto que ao longo dos tempos tem sido combatido, escondido, destruido, mas que ao longo de tudo tem permanecido até os nossos dias. A Bíblia não tem autoridade pelas pessoas que a escreveram ou formaram, mas tem autoridade por ser a Palavra de Vida, a Palavra de Deus. Esse Deus que usou simples pessoas, com seus erros, suas culturas e costumes, para formar este grandioso livro.
Para terminar: "O fato de que o autor pessoal seja ou não conhecido por seu nome, ou que seja mais ou menos exatamente datável na história, é secundario e não modifica a natureza do texto, que teve um autor e quis comunicar alguma coisa." (Horácio Simian-Yofre. Metodologia do Antigo Testamento)

8 de setembro de 2008

Meu Deus é um Deus alegre!!

Eu li uma vez, num livro infantil, de uma garota que perguntava à mulher que cuidava dela: "Porque este Jesus sempre tem a cara tão triste?" Ela se referia aos diversos quadros que "retratavam" a Jesus Cristo, nos quais os artistas tinham retratado um rosto serio, geralmente com aspecto triste e deprimido. Eu mesma tenho visto muitas imagens de "Jesus" que o mostram como um homem serio e de olhar muito triste.

Eu ouvi uma vez uma mulher me dizer que Jesus não ria, nem sorria, que sorrir e rir não é coisa boa e por isso Jesus não o fazia. Ele era sério, sempre.

Eu percebi que neste mundo as pessoas cada vez mais ficam tristes, cada vez nas ruas é mais difícil ver pessoas rindo, ou pelo menos alegres, com um sorriso no rosto. Cada vez mais as pessoas passam pela vida com um rosto cheio de tristeza, de dor e solidão. Pois bem, quando vejo estas pessoas, e penso no que eu li, no que aquela mulher me falou, eu sinto que Jesus não poderia ser uma pessoa de olhar triste, de rosto sempre sério. Para mim Jesus foi um homem alegre, já que tinha a alegria de ter um relacionamento direto com Deus Seu pai, e também estava aqui na terra, nos dando o exemplo, com a sua vida, de como nós deveriamos ser. E não creio que nós devamos ser pessoas sérias.

Como bem se sabe, o riso ajuda na curação das doenças. Estar alegres faz se sentir mais leve, e riri um pouco alonga a vida. O meu Deus, o Deus que criou o mundo, criou o homem para ser alegre, criou a boca para rir e sorrir. Senão nós não teriamos essa capacidade. Jesus foi um homem extraordinário. Ele deixou toda a sua glória e se fez um simples homem por nós (ver Filipenses 2), e enquanto estava entre nós fez muitas coisas maravilhosas. Mas o mais importante de tudo foi que nos deu o seu amor. Eu não posso me imaginar Jesus olhando para a mulher adúltera com um olhar cheio de amor em um rosto sério. Ele com certeza estava sorrindo para ela, dissendo-lhe com seu sorriso que a amava, que a perdoava e a aceitava.

Um sorriso faz toda a diferença. Um sorriso dado a uma pessoa preocupada pode animá-la. Um sorriso pode fazer uma pessoa séria e preocupada sorrir. Um sorriso recebido de alguém que achavamos que não gostava de nós pode mudar tudo dentro de nós.

Neste mundo triste e deprimido, é importante que as pessoas saibam que tem alguém que as ama, alguém que olha para elas não com um rosto sério e um olhar triste, mas alguém que as olha com amor, que está com os braços abertos esperando-as, com um sorriso de amor no rosto. Jesus não pode ter sido uma pessoa triste, pois ele é a fonte da nossa alegria.

Que os cristãos nos lembremos sempre disto, e que passemos a refletir a alegria e o amor de Cristo a todos, não só na igreja, mas lá nas ruas, no trabalho, na escola, nos lugares onde realmente se encontram aquelas pessoas que ainda não acharam a alegria de Deus, aqueles que vivem num mundo cheio de tristeza, solidão e individualidade.