19 de dezembro de 2011

O Cândido de Voltaire, o Mundo e o Autor de Eclesiastes

Acabei de ler o livro "Cândido ou o Otimismo", de Voltaire. É um romance muito interessante, onde o filósofo narra as desventuras de Cândido, um rapaz que aprendeu desde criança que este é o melhor dos mundos possíveis, que tudo o que acontece sempre é bom, que tudo leva ao bem e todos estão maravilhosamente. Esta é a filosofia positivista de Leibniz, a qual Voltaire combate ao longo de todo o livro. Cândido passa por muitas desventuras, encontra seu antigo professor, o otimista Pangloss, perde sua amada, a encontra e a perde de novo, viaja para América, encontra o pais de Eldorado, único lugar da terra onde todos são efetivamente iguais e felizes, um paraíso perdido, no qual, contudo, Cândido e seu servo Cacambo não ficam por muito tempo, um querendo encontrar sua amada e o outro desejando voltar à sua terra, a Europa. Eles partem cheios de riquezas, que contudo perdem depois de muito caminho, Cândido é roubado por um holandês, por muitos franceses e por mercadores. Depois encontra um filósofo para o qual tudo no mundo é ruim, chamado Martinho. Ele é o oposto de Pangloss, que tinha sido enforcado mas que depois Cândido vai achar de escravo numa galera, remando. Depois de idas e vindas, Cândido reencontra sua amada, agora muito feia, e casa com ela por teimosia, perde o resto da sua fortuna e termina com uma granja em Constantinopla, vivendo com uma mulher amargurada, um servo que reclama da existência e um Pangloss que não admite que este não é o melhor dos mundos. Ele, Cândido, Martinho e Cacambo discutem esse assunto ao longo do livro, ora afirmando, ora confrontando essa afirmação ao que encontram no caminho: pessoas que sofrem, miseráveis, tristes, países em guerra, injustiças e opressão. No fim, Cândido, depois de conhecer um homem que simplesmente é feliz com o que tem, em lugar de procurar uma felicidade idealista, conclui que o que ele tem a fazer é "cultivar o seu jardim". Assim, ele chega a um equilíbrio entre o otimismo de Pangloss e o pessimismo de Martinho. O mundo não é nem o melhor dos mundos possível, nem a pior das porcarias. O mundo é algo a ser aproveitado. Tem suas coisas boas, e tem suas coisas ruins, e o melhor a fazer é desfrutar o que se tem, e ser produtivos, já que o homem não nasceu para o ócio. 
Este livro, mesmo sendo escrito há muito tempo, ainda é muito atual. Hoje em dia, mesmo que todos saibam que há tristezas no mundo, que há muitas injustiças, que há opressão, desigualdade, racismo, preconceito, escravidão, violência, as pessoas muitas vezes pretendem fingir que não há nada disso. O mundo consumista de hoje faz as pessoas cegas, preocupadas com seus próprios umbigos, interessadas unicamente em adquirir mais e mais coisas para seu próprio prazer, buscando a sua felicidade sem se importar com os outros. Cândido, na sua caminhada pelo mundo, se surpreende com todas as desgraças que acontecem aos homens, e, querendo encontrar alguém feliz com sua condição, não o encontra, nem mesmo quando esse alguém é rico, pois é tão rico que fica aborrecido com sua própria riqueza, e não acha mais prazer em nada. Hoje há muitas pessoas assim, que têm tudo e não têm nada, que, mesmo sendo ricos, não são felizes.
Não posso deixar de ligar o pensamento de Voltaire ao do autor do Eclesiastes. Tanto um como outro refutam um pensamento: Voltaire, aquele de que o mundo em que vivemos é o melhor possível, o autor de Eclesiastes, o pensamento, ou melhor, a teologia que diz que o justo se da bem e o mau se da mal. Eles não tem que fazer outra coisa que dar uma olhada ao seu redor: onde quer que eles vêem, há dor, tristeza, injustiça. E o pior é que poucas coisas mudaram desde os tempos bíblicos, e desde os tempos de Voltaire. Ainda há injustiça, maldade, opressão, desigualdade. O que acho mais interessante é que os dois autores chegam a uma conclusão semelhante: ante todas as tristezas do mundo, o que há de melhor a fazer é aproveitar o dia-a-dia. Cultivar o jardim, aproveitar o tempo, desfrutar das coisas do mundo: o pão, o vinho, a mulher ou o homem com quem se está. Não adianta querer inventar um mundo perfeito, pois o mundo não o é. 
No final do livro, Pangloss ainda teima que este é o melhor dos mundos e que todas as desgraças sofridas por Cândido foram boas. Ao que este responde: "Muito bem, mas é preciso cultivar nosso jardim". É uma frase que resume todo o pensamento de Voltaire, e que se coneta com o "bebe teu vinho, come teu pão e desfruta a vida com a mulher da tua juventude, pois esta é a tua parte na terra" (versículo parafraseado) de Eclesiastes. E que, ao meu ver, é o melhor que podemos fazer neste nosso mundo maluco. Não podemos nos enfiar numa cápsula de cristal e pretender ignorar as tristezas deste mundo. Mas também não podemos achar que não há nada neste mundo que valga a pena (como muitos cristãos fazem). Temos é que viver a nossa vida, dia após dia, com simplicidade, sem deixar-nos levar pelo consumismo do nosso tempo, fazendo bem o que podemos fazer.

18 de dezembro de 2011

Facebook e a Feira da Banalidade

E por fim o Facebook virou moda no Brasil. Depois de muito tempo ignorado, o Facebook conseguiu desbancar o Orkut. Agora todo mundo usa Facebook, e fala mal do Orkut. Algo que chama minha atenção em tudo isso é a Feira da Banalidade que o site de relacionamentos virou de um tempo pra cá. São piadas sem graça, frases sem noção, machistas ou apelativas de alguma forma, desenhos mal feitos, coisas que não dá pra entender como foram parar ai. E todo mundo curte, todo mundo compartilha. Parece que a impessoalidade da internet nos permite exibir um pouco da nossa banalidade, e usamos sites como o Facebook para compartilhar a parte de nós que é mais brincalhona, mais sem noção. 
Mesmo que haja pessoas postando coisas "sérias", a maioria das coisas que se vê no Face é pura "palhaçada". Sites como esse tiram nossa inibição, parece que podemos falar tudo que pensamos, zoar os outros sem piedade, compartilhar um pouco da nossa tolice. 
O problema é quando a tolice é real, quando pessoas sem noção compartilham seus pensamentos sem te-los pensado, e acontecem coisas como a brincadeira de mau gosto com o Lula, as frases chatas quando a Amy Winehouse morreu. Mesmo sendo o Facebook um site que muitos usam para relaxar, para passar o rato, devemos ser conscientes do que escrevemos nele, do que postamos. Afinal, mesmo que cada um escreva e poste na privacidade do seu lar, no seu quarto ou escritório, o que se coloca na internet vira algo público! 
Ahhh, ser humano... pretendemos ser tão sábios, tão sérios, quando no fundo todos temos algo de tolice!

24 de novembro de 2011

Menina, Mulher e a Perda do Auto-respeito

Às vezes acho que o mundo está virando de cabeça para baixo e ninguém percebe. E quem percebe se enfia na cabeça que a solução é se fechar ao mundo e viver numa redoma de cristal, que se chama fé, igreja ou o que seja. E enquanto isso, o mundo continua virando. Nestes dias vi no Facebook uma dessas postagens prontas, e achei interessante. Ela dizia: "As mulheres ficam esperando pelo seu príncipe encantado, mas não se preocupam em se comportar como princesas". A afirmação é absolutamente verdade. Hoje em dia as mulheres estão se comportando de formas absurdas. 
Me pergunto se foi para isso que as mulheres do passado recente lutaram, se foi para isso a libertação feminina. Agora tenho TV a cabo, e uma das coisas que gosto de assistir são vídeos musicais. Porém, ultimamente os vídeos tem me deixado estarrecida. Eu sei que desde sempre mulheres rebolando com poucas roupas foram usadas para vender. Mas agora está demais. Além das letras horríveis das músicas, que só cantam coisas como "me morda", "venha me pegar", "estou nem ai se saio com muitos caras", "vamos transar esta noite" e "vou te seduzir", as cantoras estão competindo sobre quem exibe mais o corpo. O que me deixou mais chocada foi ver meninas mal saídas da adolescência ou ainda apenas entrando nesta (como a filha do Will Smith) cantando que vão pegar o homem, que vão trair o homem, que são livres de quebrar o barraco e fazer o que bem entendem, quase sempre sexualmente falando. A liberdade duramente conquistada virou libertinagem.
O problema é que fazendo isso a mulher está se degradando. Está ainda concordando com a mentalidade machista de mulher-objeto, mulher que se vende como um produto na vitrine. Do tipo: se não estou gostosa, ninguém me pega. Que não haja mal-entendidos. A mulher que ama a si mesma se cuida, se arruma. Simplesmente por gostar de si mesma. E o auto-respeito, então? Parece que as mulheres procuram que os homens as respeitem e as tratem como devem ser tratadas, mas vivem demonstrando que não se respeitam nem um pouco, vendendo baratos os beijos, que dão a qualquer desconhecido em qualquer boate, isso para não falar do próprio corpo. 
Não estou pregando aqui o vestir-se de freiras, ou sei lá que puritanismo extremo. Simplesmente o simples bom gosto que as mulheres têm que ter quando se vestirem, e na forma de se comportarem. Elas têm que lembrar que valem muito, que não são objetos para passar pela vida de mão em mão, exibindo seus atributos para chamar a atenção, deixando que as tratem como lixo. Já bastante temos com a indústria da música, com a televisão, com a publicidade que ainda passam a imagem da mulher burra, loira e gostosona que só serve para mostrar o peito e a bunda para a felicidade masculina. Já temos bastante com a luta que as mulheres têm para conseguir um salário digno, para superar o machismo numa sociedade que ainda é extremamente machista. Já temos bastantes mulheres filés, frutas e outros comestíveis, que, pelo menos para mim, são vergonhosas. As mulheres devem se respeitar um pouco, caramba! Para não terminar nos braços de caras como o Enrique Iglesias, que canta "eu vou te amar esta noite (leia-se transar com você), você conhece minha fama, sabe como eu sou mas mesmo assim está afim de mim", num vídeo que mostra que o amor dele dura menos de uma noite, depois de uma rapidinha ele já partiu para outra. E as pessoas ouvem isso e acham a música o máximo...
E o pior é que como as coisas estão, a infância das meninas está acabando. Desde crianças são instruídas a comprar maquiagem (vejam-se algumas propagandas de maquiagem em canais infantis) para conquistar "o gatinho dos sonhos". Meninas que nem sabem lavar a calcinha, como diria minha mãe, que deveriam estar pensando em brincar e curtir a brevidade da infância, se preocupam com saltos, maquiagem, roupa ousada, chapinha no cabelo, unhas feitas, sem falar nas fofocas dos famosos e em quem delas já começou a namorar. Meninas que vêem garotinhas como elas rebolando nos clipes musicais e falando que vão fazer o cara "pirar" por elas. Misericórdia! 
Este mundo está cada vez mais maluco, e os valores estão sendo jogados no lixo à toa. E no meio disso tudo há meninas crescendo acreditando que no mundo só se pode viver se se é a mais bonita, a que mais fica com um e com outro. Afinal, agora somos livres de fazer o que queremos. Só que uma coisa é liberdade, e outra libertinagem. E a libertinagem não machuca ao próximo, machuca ao libertino. Cedo ou tarde. 
Graças a Deus as mulheres atuais temos mais liberdade com relação às nossas avós. Graças a Deus podemos pensar por nós mesmas e agir por nós mesmas, e sermos independentes. Vamos continuar a desperdiçar nossa liberdade agindo como vagabundas, gritando ao mundo que só servimos para rebolar, vender produtos e pegar homens? A mulher é muito mais do que isso!! 


P.S. Uma cantora muito boa que não anda ensinando a bunda, e é maravilhosa, é a Adele. Todas deviam seguir o exemplo dela...

1 de outubro de 2011

Ler a Bíblia Sem Óculos

Esta semana ouvi alguém falar: "Vocês podem ver que eu tenho a paciência de Jó...". Eu achei engraçado. Não por quem falou, mas pela expressão em si, que é muito conhecida, pois me lembrei do texto de Jó, que li faz não muito tempo. É engraçado que as pessoas achem que Jó é um exemplo de paciência. Paciente, Jó? Aonde?! Jó reclama do dia em que nasceu, reclama do que lhe aconteceu, chama Deus a um confronto para que lhe explique a razão das suas desgraças. Ele não é um sujeito passivo que aceita calmamente a dor da perda de tudo o que tinha e as críticas dos seus amigos, pelo contrário, ele afirma sua inocência e reclama do que lhe está acontecendo. Não há nada no texto que exorte à paciência em lugar nenhum. Jó não fala de paciência, mas de sofrimento e da sua causa, e no final o texto não consegue explicar a existência do sofrimento. Então, de onde saiu da expressão "paciente como Jó"?
Eu acho que é uma questão de não ler realmente os textos bíblicos. As pessoas estão tão acostumadas a ler a Bíblia da forma como foram ensinadas que não param para pensar no real significado do texto, no que o autor quis dizer, às vezes até em textos absolutamente simples eles não enxergam o sentido do texto. Um pequeno exemplo, muito simples, se encontra no mesmo livro de Jó, na parte onde ele fala que há esperança para as árvores cortadas: "Uma árvore tem esperança: mesmo que a cortem, volta a brotar e não deixa de lançar rebentos; ainda que envelheçam suas raízes na terra e o toco esteja amortecido entre torrões, ao cheiro da água reverdece e produz folhagem como planta jovem" (Jó 14,7-9). Até ai o texto é bonitinho, e as pessoas o pegam para falar de como a gente tem esperança em Deus e tudo o mais, até fizeram uma música em cima dele. Porém, ninguém se toma a moléstia de ler o texto inteiro (e se leem, não registram no cérebro o que o texto está dizendo), cujo sentido é totalmente oposto ao uso comum que se dá a esses versículos. Jó está afirmando que até as árvores têm esperança, mas que para o homem não há esperança nenhuma, que o fim do homem é a morte e ponto final (ver versículos 10-13). Ou seja, tudo fica bem no final para as arvorezinhas, mas nós, humanos, estamos ferrados mesmo! Até hoje não ouvi ninguém falar dessa parte do texto de meu querido amigo Jó.
E assim as coisas vão, e as pessoas gostam de pegar a Bíblia e dizer que ela é Palavra de Deus e tudo o mais, mas não a usam toda, não param para pensar no que está escrito nela. Em lugar de pegar a Bíblia e estudar o que ela tem a dizer, pegam sua tradição, o que eles acham que a Bíblia diz e pronto. Para mim isso não é sério. Basear na fé em pedaços de Bíblia não me parece sério. Dizer que a Bíblia é homogênea é tirar sua riqueza, a personalidade, a opinião de cada autor da Bíblia. É muito bonito uma pessoa ser sincera na sua fé, e por isso acho injusto não lhe ensinar a pensar a Bíblia, a ler realmente a Bíblia. A maioria de pessoas nas igrejas são papagaios, repetindo o que aprendem na EBD, o que aprendem com seus líderes. E se alguém chega pensando diferente, meu Deus! É heresia, é pecado, é coisa do capeta! É uma coisa absurda. É como usar pedaços dos salmos para afirmar que Deus nos cuida se formos justos. Tudo bem, sim, Deus nos cuida, ele é bom conosco, isso diz um texto. Mas na mesma Bíblia que há salmos afirmando isso, também encontramos Jó, Eclesiastes, que afirmam que o sofrimento é independente de sermos ou não justos. Contradição? Joguemos a Bíblia no lixo? Isso diriam alguns, espantados, pois foram treinados a acreditar que a Bíblia não se contradiz. Mas é simplesmente que o autor de Eclesiastes pensava diferente do autor do salmo, o qual segue a linha conhecida como "Deuteronomista", que afirma que o justo se da bem e o mau se ferra. Autores como o de Eclesiastes e Jó pararam para pensar e ver o mundo em que viviam, e perceberam que o que acontecia na vida real não condizia com o que lhes era ensinado. Hoje em dia o seu ponto de vista deveria ser também ensinado, não ocultado nas teologias marmorizadas que pegam a Bíblia como uma coisa de sentido único. 
Há muitas histórias na Bíblia que diferem do pensamento que se construiu em cima da Bíblia. Há salmos que reclamam com Deus, há mortes, há injustiças justificadas divinamente, há muita, mas muita humanidade. Jó é um livro humano, que mostra a dor do sofrer. Eclesiastes é humano, pessimista, desesperado. Há profetas que reclamam desses reis que em Reis e Crônicas seguem o coração de Deus. A Bíblia não narra uma história de mão única. E muitos dos seus sentidos ficam ocultos nas tradições, nas leituras cegas que as pessoas fazem. E assim se perde bastante da sua riqueza. Até quando? Quando as pessoas começarão a ler realmente o que está escrito, tirando o óculos da tradição que receberam um dia?  

21 de agosto de 2011

A Megera Domada e a Condição da Mulher

Algumas semanas atrás li o livro de Shakespeare "A Megera Domada". É um livro interessante. Mostra perfeitamente a mentalidade machista da época de Shakespeare. Devo dizer que não gostei. Tudo bem, é engraçado, as situações, as falas das personagens. E é absolutamente filho da sua época. A trama é simples, um homem que tem duas filhas, uma das quais é muito rebelde, e quer casá-las, mas que, como só recebe propostas para sua caçula, a "meiga", põe a condição de casar primeiro a rebelde Catarina, para assim sua caçula ter o direito de casar. Assim, os aspirantes à mão de Bianca, a caçula, procuram um homem disposto a casar com Catarina. Ai chega Petrucchio, um homem que procura um casamento que lhe proporcione uma bela dote. Ele aceita o desafio de domar Catarina, casa com ela depois de acordar a dote que receberá e começa a domar sua mulher, deixando-a com fome, frio e sem sono, até que ela se rende e passa a ser totalmente submissa à vontade de seu marido. Enquanto isso os pretendentes de Bianca arrumam jeitos de se aproximar dela, até que um deles consegue conquistá-la, e foge com ela para casar-se, enquanto o outro aceita a derrota e vai atrás de uma viúva com condições econômicas para casar com ela. 
Há vários aspectos da obra que mostram a condição da mulher nessa época. O primeiro é a condição da mulher de objeto, propriedade, primeiro de seu pai, e depois de uma transação comercial, de seu marido. A obra mostra isto claramente quando o pai das moças, Batista, impõe a condição para o casamento das suas filhas. Também é notável que o único motivo pelo qual Petrucchio quer casar com Catarina é o dinheiro que vai ganhar com o casamento. Não se fala de amor, não se fala de sentimento algum, além da ganancia. Ela foi vendida pelo pai e comprada por Petrucchio. 
Outro aspecto é o caráter das moças. Catarina é chamada de megera por ter as próprias opiniões. Ela também é grossa com as pessoas, sobretudo os homens, e rejeita o casamento. Nessa época, porém, era imprescindível para a mulher que casasse, e por isso ela é considerada uma moça horrível. Bianca, pelo contrário, faz tudo o que o pai ordena, é educada com todos e segue as opiniões dos outros. Pode-se dizer que há um exagero no contraste entre as duas. A educada, doce, dócil, atenta ao bem de todo mundo menos o dela. A megera, rebelde, mal-educada, grossa, que se atreve a bater no professor e a caçoar dos que a cortejam. Assim, na época de Shakespeare a mulher desejável era aquela que vivia para o seu dono, primeiro seu pai, depois seu marido.
O tratamento que Catarina recebe depois do casamento é atualmente ilegal. Mas no livro é a coisa mais normal. Nessa época, sendo o homem dono da sua mulher, podia fazer com ela o que bem entendesse. Assim, Catarina passa fome, frio, o marido se comporta como um louco, não a deixa dormir, não a respeita, até que ela se submete a ele. E é uma submissão completa. Ela deixa de ser pessoa, e passa a ser sombra do seu dono-marido. E se ele diz que está escuro, mesmo vendo o sol brilhando no céu, ela deve concordar. Se ele trata um ancião como se fosse uma bela moça, ela deve secundá-lo, sob pena de novos maus tratos e loucuras por parte do marido. E quando ela se submete, Petrucchio é felicitado por todos, já que "domou a megera!". Ele merece um premio por fazer da sua mulher um robô às ordens dele. 
Não gostaria de ter nascido na época de Shakespeare. Mas a mulher não foi tratada assim só nessa época. Desde há muito tempo, desde os tempos bíblicos, e quem sabe quanto tempo antes, a mulher foi tratada como um ser inferior, um objeto, alguém submetido ao todo-poderoso homem. Mesmo na atualidade há sociedades onde a mulher é tratada assim, onde ela é inferior. O Islã legitima isso, a mulher é, por ordem divina, um degrau inferior ao homem. E até pouco tempo atrás, na nossa sociedade a mulher era criada para casar, ter um monte de filhos e se submeter a todas as vontades do marido, sem direito a reclamar pelas humilhações que o marido pudesse lhe fazer sofrer. Se ele tinha muitas amantes, ela não podia dizer nada, pois afinal os homens são assim, "têm necessidades especiais". Se ele pegava ela pelos cabelos e a arrastava pelo chão, ela não podia reclamar, afinal essa era a "sua cruz" e ela, como boa cristã, devia carregá-la.
A obra de Shakespeare é uma janela ao pensamento da época dele sobre a mulher. Mas, lido com os olhos da minha atualidade, é um livro indignante. Queria dizer que é um pensamento ultrapassado, que agora a mulher é tratada dignamente, que agora ela tem direito a pensar, a decidir se quer casar ou não, ter filhos ou não, que ela pode ter personalidade. Queria dizer que o casamento agora é uma comunhão igualitária, onde os dois estão no mesmo nível e as coisas se falam para chegar a um ponto comum. Mas ainda falta muito. Sobretudo em Latino-América, onde a sociedade é tradicionalmente machista, onde ainda há a imagem da mulher como objeto, símbolo sexual, simples portadora de seios e nádegas, objeto não pensante, alguém que só serve para ser dona de casa, para servir o marido, para aguentar os chifres, onde ainda há muitas mulheres maltratadas que não denunciam seus maridos, ainda falta muito para deixar para trás uma obra como "A Megera Domada". É algo triste. Eu conheço as histórias de minhas avós, minhas bisavós, a avó do meu marido, histórias de submissão, de violência, de dor e de silêncio. E quando alguém sai do padrão, como minha avó, que teve a coragem de lutar pela sua dignidade, então ela é que é a louca, aquela que teve que criar sozinha os filhos, aquela que jogou o casamento pela janela. Idem com minha sogra. E o preconceito é sempre sofrido pela mulher, mesmo quando o homem está errado, mesmo quando ela simplesmente não quis se submeter. Ela é sempre a megera. A rebelde, a grossa, a chata.
A sociedade foi, durante muito tempo, um lugar de privilégios exclusivos para os homens. Imagino que ao longo dos séculos houve muitas "megeras" que não se deixaram domar. Mas no geral o homem estava certo e a mulher devia ser simples sombra do seu homem. Agora há um espaço para as mulheres. Ainda falta muito, como já disse, para uma sociedade justa e sem preconceitos, mas pelo menos agora as mulheres podemos escolher o destino das nossas vidas. E casamento não é mais, pelo menos na maior parte dos casos, uma transação comercial, nem uma relação de dominação. Muitos, ao ler isto, pensarão que eu sou feminista. Mas não me vejo como tal. Não detesto os homens, nem os desprezo. Mas também não me conformo com o machismo existente na sociedade. Eu queria era igualdade. Sem predominância de um ou outro gênero. Mas, como tudo na vida, para a mulher chegar a um ponto de igualdade com o agora não tão poderoso homem, ela deve lutar. Como tem lutado há tanto tempo. Catarina nesta época teria um fim bem mais digno do que o que Shakespeare lhe deu. E Batista e Petrucchio poderiam, com toda a razão e com todo o gosto, ser mandados ao inferno (ou a catar coquinho, ou a comer aspáragos, como se diz na Colômbia)...

8 de agosto de 2011

De Preconceitos, Estereótipos e Hipocrisia

Preconceito é algo que muitos sofrem, mesmo que não sejam homossexuais, negros ou membros de minorias. Na sociedade as pessoas são frequentemente estereotipadas, e aquele que sai do padrão é objeto de preconceito. Eu quero falar aqui de certo tipo de pessoas que sofrem de bastante preconceito, que são bastante estereotipadas, mesmo que não se fale do assunto nos jornais. É conhecido que os "crentes", os "evangélicos", são um grupo bastante estereotipado. Para o resto do mundo, crente é aquele que não bebe, não fuma, não dança, usa cabelo comprido, não se maquia (dependendo da denominação), só sabe falar de Jesus e é alguém que se deixa manipular. Eu não concordo com este estereótipo. Para mim cada cristão é livre de pensar e de agir, de vestir como quer, dançar se ele gostar, fumar se quer morrer cedo, enfim, não há um caixão onde enfiar todos os crentes.
Mas o que me interessa aqui é falar dos líderes, e sobretudo, as esposas destes líderes. Dentro da igreja se tem a ideia de que esposa de pastor é uma espécie de sombra do pastor, que fica atrás dele, trabalhando junto com ele em todas as atividades que existam. A mulher do pastor não pode vestir de certa forma, não pode fazer isto ou aquilo, e os filhos não podem ir a certos lugares, não podem ser isto ou aquilo, e devem fazer isto ou aquilo outro. Como se fossem uma família de alienígenas, que devem ser diferentes do resto da comunidade só porque são o líder e a sua família. Isto se aplica, em maior ou menor medida (depende da igreja), também às famílias dos ministros de música e de quem for líder da igreja. E assim, existe um estereótipo de mulher de pastor perfeita, de filhos de pastor perfeitos, de líderes perfeitos. E se esquece que as pessoas têm direito cada uma à sua individualidade, que as pessoas não se casam com uma pessoa pela sua profissão e sim pelo seu caráter, que cada indivíduo tem o direito de procurar a sua felicidade e pôr em prática suas habilidades, que ninguém pode regulamentar as vestes ou o modo de pensar de alguém só por ser casado ou ser filho do líder.
E quem quer sair do estereótipo sofre preconceito. É alvo de críticas, é rejeitado, pressionado a assumir o padrão predeterminado. Isso sob ameaça do líder "perder seu cargo" (Não que se fale isso na cara da pessoa, mas o que se subentende é que "isso atrapalha o ministério...")! Quem disse que mulher de pastor é a sombra do pastor? Quem disse que mulher de pastor, que filhos do pastor não têm vida própria? Acaso os filhos do pastor nasceram com auréola na cabeça só pela profissão do pai? São descendentes de anjos ou algo assim? E a mulher de pastor deixou de ter personalidade, opiniões próprias, desejos de realização pessoal, gostos, afinidades, só porque o marido é pastor? A cobrança que a igreja faz sobre a família dos líderes é irracional, é injusta, porque o que se exige dos outros, o que se exige deles não é realizado por aqueles que exigem. A família do pastor tem que estar enfiada na igreja, tem que fazer tudo, estar sempre lá, enquanto eu não posso, estou cansado, trabalho, tenho que sair... assim é bem fácil!
Desse preconceito ninguém fala, e quem o sofre só tem duas alternativas: ou se submete ou se rebela. Quantos filhos de pastor revoltados com a igreja não há por ai? Mas se se rebelam, sofrem mais ainda o preconceito, são duplamente mal falados, são alvo de mais julgamentos. E o pior é que geralmente ninguém se dispõe a se importar com a pessoa, a perguntar como está indo a vida dela. Para o resto do grupo, a família do pastor não é composta de pessoas, mas de papéis a ser desempenhados. 
E eu me pergunto, no meio de tudo isso, onde fica o amor cristão? Onde fica o "não julgueis para não ser julgados" e o "cuidado com a língua"? As igrejas em geral sofrem de uma doença crônica de hipocrisia e de fofocas, parece que as pessoas se acham santas por não roubar, não matar, ir à igreja todo domingo, e isso lhes dá a liberdade de falar mal dos outros, de aqueles que depois vão chamar de irmãos. E quando se trata da família dos líderes, ai é que as línguas se afiam! Ai é que as máscaras se fazem universais, e os dedos mais prontos para apontar "falhas" e "defeitos". Que vestiu ou deixou de vestir, fez ou deixou de fazer, que o filho do pastor não pode ir na tal festa, que a esposa de pastor não pode vestir shortinho. E biquíni então, vira veste do capeta! E o amor de Deus, tudo o que Jesus pregou, até as músicas que se cantam, onde fica tudo isso? Como se pode cantar que somos irmãos, que somos um em Jesus, que vamos unidos em comunhão, e depois falar mal dos irmãos? Falar mal dos líderes e de suas famílias? Cadê a prática do cristianismo?
As igrejas esquecem que os líderes são pessoas iguais a elas. Que sofrem igual, têm lágrimas também, se cansam, pensam, sonham, e que as suas famílias têm sonhos, que são feitas de indivíduos. Não são uma massa grudada ao líder. Cada membro da família é único e independente. Esse negócio de que líder deve ser mais santo é uma desculpa furada. Ser humano é ser humano, não há ninguém mais perfeito ou melhor que os outros.
O estereótipo de família de pastor (e de forma mais ampla, as famílias de todos os líderes) deve desaparecer. As igrejas precisam reconhecer a individualidade dos membros da família do seu líder. Afinal, os filhos do pastor não escolheram os pais, e a mulher dele não casou com a sua profissão. Se tiver vocação para ajudar na igreja bem. Se não tiver, deve se respeitar sua postura. A família dos líderes deve deixar de ser vista como os alienígenas perfeitos que se exige que sejam, e passar a ser vista como simples membros da igreja, iguais a todos os outros. Além disso, a igreja deve deixar de prestar atenção no que os irmãos fazem ou deixam de fazer. A hipocrisia está acabando com as igrejas. O pior é que a pessoa não tem tempo para dar um alô para o irmão, chama-lo para um jantar em casa, mas todas as fofocas ao respeito dele sabe de cor, e tem tempo ainda de falar mal dele com os outros. A fofoca é um problema grave, um pecado como qualquer outro. Ninguém tem o direito de falar mal dos outros, sejam líderes ou não. E se alguém tiver queixas sobre o líder, fale com ele. Não pode ficar falando pelas costas dele. Os preconceitos e os estereótipos na igreja devem cair! As famílias dos líderes devem ser liberados do peso do estereótipo, devem poder ser livres para viver sua individualidade como cristãos e como seres humanos!

31 de julho de 2011

Ocidente vs. Oriente...?

Eu sei que estou um pouco atrasada para falar sobre o massacre que aconteceu na Noruega, mas também sei que tenho que falar disso. Porque é um absurdo, e um absurdo de proporções gigantescas.
Depois de saber da notícia, e ficar espantada, como sempre, pela loucura e a maldade a que podem chegar alguns, fiquei indignada com uma notícia que vi no jornal alguns dias depois. No jornal falaram que na Europa, em alguns países e em partidos de extrema direita, políticos tinham falado em favor do norueguês assassino e das suas ideias. Um dos políticos italianos seguidores de Berlusconi chegou a dizer que as ideias do norueguês eram magnificas, enquanto outro dizia que por fim alguém se levantava para defender o Ocidente. Achei absurdo. E achei ainda mais absurdo que ninguém na Itália se indignou com estas afirmações, nem afastaram o político do cargo, como fizeram com um que na França disse coisas semelhantes.
Como é possível que as pessoas ainda tenham esse pensamento medieval? Como é possível que pessoas que se dizem "cristãs" defendam a posição desse assassino que se escudou em desculpas ridículas, racistas e anti-humanitárias para assassinar seus compatriotas? Como disse Osvaldo, esta vez foi um louro, um europeu puro sangue quem cometeu os atos terroristas que os "ocidentais" amam imputar aos morenos muçulmanos. Até quando vamos ver o mundo através da cor da pele, através dos credos pessoais, da geografia? Até quando a divisão artificial entre "Ocidente" e "Oriente"? Não somos todos cidadãos do mesmo mundo? As mudanças climáticas não afetam todo mundo? Não sentimos igual, pensamos, vivemos, sonhamos igual?
Essa declaração do norueguês miserável e assassino, aplaudida por alguns babacas europeus, nos coloca num perigo muito real: o de volver atrás, ao tempo da Idade Média, onde se matavam judeus por "terem matado Jesus" e onde se perseguia muçulmanos por serem dessa religião. Agora devemos adicionar os imigrantes, aqueles corajosos que deixam sua terra e tudo o que conhecem para enfrentar o desconhecido, em busca de uma vida melhor. Não é direito de todos procurar uma vida melhor? Os mesmos europeus, os mesmos italianos emigraram um dia a outros países, procurando um melhor futuro. Se Europa não reclamou, se Itália não reclamou contra o que seus políticos disseram, o que podemos esperar do futuro? Paz não, com certeza. E os atos sangrentos do norueguês, que foram rejeitados pelo mundo inteiro, se encontrarem eco em alguns poucos, políticos ou não, poderão ser repetidos?
Eu não entendo porque as pessoas são tão intolerantes. Porque, depois de tantos discursos de igualdade, liberdade e fraternidade, ainda não se aprendeu a viver como seres humanos, sem divisão de classes, de raças, de credos. Europa se orgulha de sua fraternidade, o lema dos franceses é justamente "liberdade, igualdade, fraternidade". Mas até onde chega tanta democracia? Até onde os "defensores da liberdade", como os europeus e os americanos amam chamar a si mesmos, vão para defender esses princípios? Se seguem, se seguimos encarando o mundo como Ocidente e Oriente, como se o globo estivesse dividido no meio com uma linha, se não encaramos os outros como sendo iguais a nós mesmos, ainda que sejam muçulmanos, ainda que sejam imigrantes, a dor ainda vai continuar, porque haverá sempre loucos como o norueguês, achando-se donos da verdade e da vida dos outros, sem escrúpulos para causar dor e derramar sangue. Contra Osama se realizou uma operação guerreira, até vê-lo morto. Com o louro e europeu norueguês, se escutaram vozes de consentimento, mesmo que poucas, com seus "ideais ótimos". Definitivamente o ser humano é uma maravilha...


P.S. Pensando bem, e tendo em conta que a Terra é redonda, podemos dizer que nós estamos ao Oriente deles...

11 de julho de 2011

Sincretismo e a Liberdade em Deus

Sábado passado assisti a um filme (Santo Forte) que falava das diversas religiões que existem no Brasil. Pessoas de diversas religiões eram entrevistadas, contando suas experiências e seus costumes nas respectivas religiões. Uma das coisas que achei interessante é que a maioria das pessoas entrevistadas fazia parte da religião católica e mais alguma coisa. Uma era católica e umbandista. Outro era católico, batizou a filha no candomblé (com água benta conseguida em uma igreja católica; o padre gostou de saber que a filha dele já tinha sido batizada no catolicismo) e pediu à mãe dele para orar por ele na Universal quando estava doente. Uma outra se declarava ateia, mas acreditava nos espíritos da vizinha (que era umbandista) e até pedia favores para eles.
O que mais me chocou foram os relatos que as diferentes pessoas envolvidas na umbanda faziam. Uma moça, que deixou de praticar a sua religião mas que não se "converteu" a nenhuma outra, contava que quando ia ao seu terreiro e tinha feito algo de errado, o preto velho dava uma "paulada" nela: montava nela, como se fosse um cavalo, e batia nela. A moça sentia dor como de pauladas, e saia do terreiro com dor de cabeça e o corpo doendo, apesar de não apresentar feridas visíveis. Também na própria casa, se ela falava alguma coisa indevida, o seu preto velho a castigava, fazendo-a voar de um cômodo ao outro da casa. Outro relato foi o de uma senhora, já anciã, que contou como perdeu a irmã. Esta última bebia a oferenda de cerveja que tinham feito à pomba-gira chamada "Rainha do Inferno", pelo qual a pomba-gira um dia montou nela e disse para sua irmã que a ia levar. A senhora contava como rogou à pomba-gira para não levar sua irmã, que tinha um filho pequeno, mas a pomba-gira não ouviu. A anciã falou para sua irmã comprar a própria cerveja, mas ela não quis, e um dia, estando no banco para receber um dinheiro, morreu. A senhora ainda contou que estando frente ao caixão da sua irmã, a pomba-gira apareceu e riu, dizendo: "Levei ou não levei?". 
A moça do primeiro relato afirmou que estas entidades não são más em si mesmas, mas que são as pessoas que pedem para elas fazerem o mal aos outros. Porém, o interessante é que elas são compradas, não tem vínculos de fidelidade: Quem pagar mais recebe o favor da entidade. Ao ver e ouvir tudo isso, eu ficava pensando como é possível que as pessoas continuem servindo a deuses que os castigam, que fazem favores a quem dá mais. São literalmente escravos. A senhora anciã chegou até a falar que por uma parte é feliz, mas que por outra não é, e nunca vai ser. Não especificou o porque, mas se via a aflição e o temor no seu rosto. Eu só podia pensar na liberdade que temos em Jesus, no amor que ele nos da, na paz que temos com ele. E não entendi, aliás, não entendo, como as pessoas podem continuar envolvidas nisso.
Um outro relato me deu foi vergonha. Um homem, envolvido na umbanda também, falou dos evangélicos, afirmando que ele como umbandista não ousa mencionar o diabo, e que não entende como os evangélicos, sobretudo da Universal, passam o tempo todo chamando o diabo. Para ele isso é querer ter o capeta por perto. Outro disse que os pastores ficam fazendo palhaçada, e quando as pessoas estão doentes chegam querendo expulsar demônios e gritando, fazendo muito barulho. Ele não gostava desse espetáculo, e por isso preferia ficar com a sua religião, novamente católico misturado com religiões afro-brasileiras. E fiquei pensando nas oportunidades que a gente perde de mostrar a essas pessoas a verdadeira mensagem do Evangelho. Agora estou lembrando de uma passagem em Atos, quando Paulo encontrou uma menina que adivinhava o futuro. Ele simplesmente chegou e a libertou em nome de Jesus. No texto não fala de gritos, barulhos ou objetos milagrosos. Não imagino a Paulo com copos de água ou sabões abençoados.
A mensagem do Evangelho é tão simples e tão libertadora! O nosso Deus é poderoso, e nos ama! E há tantas pessoas que não o conhecem, que até usam o seu nome, já que o Brasil é um pais altamente sincretista, onde, como uma mulher no filme falou, "qualquer coisa está bom, tudo dá no mesmo", onde se fala de Jesus e de Exú, onde os santos tem dois nomes, onde as pessoas assistem a missa de manhã e vão cultuar seus deuses nos terreiros à noite, onde quem vai à Universal pode muito bem "orar alguém". Deus está virando um nome, algo para juntar a muitos outros nomes e tradições. E a mensagem de Jesus se perde muitas vezes na nossa própria ignorância, na vontade de alguns de aparecer, nos ritos inúteis de pastores que usam o nome de Deus para fazer shows que nos ridicularizam, que ridicularizam o nome de Deus. Quantas vezes vi pastores expulsando demônios com paletós na televisão, querendo curar pessoas com copos de água! Só não tinha visto como isso afasta as pessoas de Jesus. Uma pessoa como o senhor do filme, para quem os cristãos são palhaços, como vai querer prestar atenção na mensagem que temos a comunicar?
Há muitas pessoas que não conhecem de Deus. E nós temos uma missão. Muitos há escravos das suas entidades, à mercê das vontades destas. Há muito a fazer. E nós, como cristãos, sabendo que temos um Deus que nos ama e que nos liberta, temos que rever a forma como estamos vivendo o nosso cristianismo. Cristianismo no Brasil muitas vezes é sinônimo de intolerância, de preconceito, de barulho, de ridículo. E enquanto se perde o tempo pregando uma mensagem que nada tem a ver com Jesus Cristo, discutindo se devemos ou não cortar o cabelo, beber, dançar, usar shortinho, expulsando demônios depois de té-los invocado, abençoando sabonetes e mandando ao inferno todo mundo, há pessoas que estão presas a suas entidades, escravas, ou simplesmente sem esperança, sem saber o que fazer com a própria vida, sem rumo e sem amor. Quando estava vendo o filme veio na minha cabeça a passagem de 1 João 4,18: "No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor." Deus é amor. Nele não existe medo. Há muitos que vivem no medo. E nós, que conhecemos Deus e o seu amor, o que estamos fazendo para que as pessoas o conheçam também? 

8 de julho de 2011

Tudo o que foi será

A cada novo desastre que acontece, as pessoas estão ficando mais paranóicas. Se fala de fim de mundo, de aumento da maldade, de decadência da sociedade, de castigo pelas culpas. E o Deus que se descreve muitas vezes parece um carrasco interessado em destruir a vida daqueles que "não o seguem". Se o Japão sofreu um tsunami e terremotos, algo de mau eles fizeram. Se Haití foi destruído pelo terremoto do ano passado, a culpa foi deles por fazer bruxarias. Se fala que o mundo nunca esteve tão mal, que nunca tantas pessoas morreram, que os sinais do iminente fim do mundo estão por todas partes.
Só que analisando um pouco a história, ou mesmo simplesmente parando para pensar, se percebe que ao longo de tantos milênios de história humana sempre houve catástrofes, sempre houve guerras, mortes e doenças. E no passado, assim como hoje, houve sociedades que surgiram e foram embora, e pessoas que achavam que a sua sociedade era a última, que não dava mais para aguentar tanta maldade, que o fim do mundo já estava chegando. Mesmo os primeiros cristãos achavam que Jesus voltaria logo, até Paulo mesmo escreveu ao respeito, e muitos deixavam suas posses e vendiam tudo esperando o fim do mundo. Opressão, injustiça e desigualdade faziam parte do mundo desde as primeiras sociedades. Até os europeus, que se acham o modelo de igualdade, já tiveram pessoas morrendo de fome e exploradas enchendo suas cidades.
 Cada época teve sua própria maldade, seu próprio sofrimento. Isso me faz pensar em Eclesiastes, onde diz que não há nada de novo debaixo do sol: "O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol. Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Não! Já foi nos séculos que foram antes de nós." (Eclesiastes 1, 9-10). Se se lê o texto no sentido literal, ele nos diz que o que foi será, tudo é cíclico. Eu gosto muito do livro de Eclesiastes, e acho interessante que ninguém pára para pensar no sentido destas palavras. Será que é melhor anunciar desastres apocalípticos? Claro, como cada coisa que acontece no mundo é sinal de fim de mundo, melhor fiquemos parados, atentos para identificar direitinho os sinais!
Para mim a sociedade atual é simplesmente sociedade, composta por seres humanos falhos. Como tal, sempre haverá coisas absurdas acontecendo. O ser humano não é tudo bonzinho. Muitos gostam de poder, muitos usam de violência. Isso sempre foi assim. Se queremos mudar alguma coisa, é melhor parar de esperar o fim do mundo e começar a fazer algo. Se uma catástrofe natural acontece, é melhor ajudar quem sofreu, em lugar de procurar causas sobrenaturais no acontecimento. A terra é muito frágil, o aumento da temperatura global tem consequências. E tudo está acontecendo pela ação do homem. Deus não tem que ser carregado com as culpas humanas. Ele não é criança mimada, que fica chateada com alguém e manda a tormenta para castigá-lo. E também, se existem guerras é porque uns poucos gostam do poder, de ter nas mãos a vida e a morte de outros. Se existe injustiça, é porque em muitos lugares há corrupção. Se há fome, é pela indiferença de muitos, o abuso do poder de outros, o acumulo de riquezas de uns quantos. A sociedade é falível, aliás, até agora, depois de mais de 2000 anos de história, nunca houve uma sociedade perfeita. Achar que o fim de mundo está perto por isso não quer dizer nada.
É claro que o mundo algum dia há de acabar. Os cientistas dizem que um dia o sol vai morrer, como todas as estrelas do universo fazem. Além do mais se a gente não fazer algo para encontrar medidas sustentáveis para nossa pobre Terra destruída, se não cuidamos o lar que Deus nos deu, aí é que o fim vai chegar rapidinho. Por isso temos que deixar de procurar causas apocalípticas em cada coisa que acontece, e começar a nos preocupar em melhorar nosso próprio presente, e nosso futuro.   

5 de julho de 2011

Em Nome de Deus

Em nome de Deus já se fizeram muitas coisas. Se condenaram pagãos, se rebelaram camponeses, se invadiram países e se massacraram povos. "Deus" tem sido usado para justificar muitas ações, que no fundo tinham como base mesmo era a ambição de alguns, o desejo de poder de poucos. 
A história mostra muitas abominações feitas em nome de Deus. Os índios foram mortos e os negros escravizados em nome de Deus, e depois mortos e torturados por grupos de "cristãos" como o Klu Klux Klan. Durante as reformas protestantes, Lutero e muitos outros mataram em nome de Deus, e os camponeses, os anabatistas e muitos outros grupos que se atreveram a pensar por si mesmos foram condenados por ir "em contra de Deus". E também se levantaram "profetas" que em nome de Deus proclamavam o fim do mundo e que realizaram loucuras como os acontecimentos de Munzter (cf. Jan de Leiden). As cruzadas massacraram os povos árabes em nome de Deus. Na época vitoriana era mais fácil mandar as prostitutas para o inferno do que mudar as injustiças e a hipocrisia da sociedade.
Muitas vezes o nome de Deus se usou para submeter vontades, para justificar injustiças, para manipular massas. Até os dias de hoje se ouvem muitos absurdos pronunciados em nome de Deus. Milagres, promessas, o nome de Deus se usa para vender benefícios e para comprar fidelidades. "Deus" é usado para justificar doutrinas contrárias umas às outras, para amaldiçoar pecadores e para curvar pessoas a determinadas regras. Uns dizem que Deus não aceita tatuagens, outros dizem que Deus não gosta de quem bebe, alguns dizem que Deus está à disposição de quem quiser um milagre, outros condenam quem não segue direitinho o manual de "seguidores de Deus". Deus até autorizou a invasão do Iraque (O Bush achava que estava servindo a Deus, ou pelo menos isso disse...)!
 Me pergunto o que Deus pensa de todo esse mal uso do seu nome... e o pior é que foram ações humanas as que usaram o nome de Deus para encobrir-se ou justificar-se, mas as pessoas muitas vezes não querem ouvir falar de Deus por culpa de todo o mal que já foi feito em seu nome!  

15 de maio de 2011

Literatura policial e a destruição do assassinado

Nestes últimos tempos não tenho escrito muito aqui. Tenho passado o tempo de desempregada lendo, e lendo bastante, graças à biblioteca daqui, que, mesmo não tendo muitos livros, tem bastantes volumes interessantes. Depois de quatro anos lendo textos acadêmicos dei um descanso e passei a ler romances. Romances policiais, de amor, suspense, comédia, enfim, estou lendo à vontade.
De todos os livros que eu gosto, eu desfruto bastante o gênero policial e de suspense. Na minha vida de leitora eu tenho lido livros policiais de diversos tipos. Os clássicos, tipo Agatha Christie e Sherlock Holmes, os modernos, que parecem um CSI, os sangrentos, os que combinam humor. E devo dizer que gosto mais dos livros tipo Agatha Christie. Nada contra os livros de suspense modernos, onde os policiais esperam as provas forenses, os patólogos fazem as próprias pesquisas, tipo Kay Scarpetta, e onde os detetives se apoiam bastante nas provas de DNA e afins. O negócio é que o leitor não participa do desenvolvimento da obra. Ele simplesmente lê, esperando para saber a identidade do assassino quando o autor decidir, depois de ter descrito as provas, os parentescos estabelecidos pelo DNA e o tipo de fibras que foram achadas na cena do crime. Já nos livros da Agatha Christie o leitor recebe uma série de pistas, que, colocadas no lugar pelo grande Poirot, por Miss Marple ou algum outro dos personagens da Christie, dão como resultado a identidade do assassino. E o leitor pode tentar descobrir, pretender saber ou adivinhar quem é esse assassino tendo como base essas pistas. Não que a gente descubra. Eu pessoalmente às vezes soube quem foi, mas não é algo que aconteça sempre. Mas é muito legal se sentir parte da obra, como sabendo que a Christie escreveu o livro como um desafio, cada página dizendo nas entrelinhas "tudo está aqui, agora junte os pedaços". Às vezes até Poirot fala isso para seu amigo Hastings. Por isso, devo dizer que livros policiais como os da Agatha Christie, são dos que sempre vão estar em auge. Pelo menos essa é minha opinião.
Os outros livros são interessantes. Tem alguns que são séries, como a já mencionada Kay Scarpetta, criação de Patricia Cornwell. Os primeiros livros são muito interessantes, desses que prendem o leitor do início ao fim, apesar de saber que no final ela sempre vai ser perseguida pelo criminoso e este vai ser preso ou morto. Mas depois os romances passam de livro policial a livro rosa, com as aventuras amorosas da patóloga e da sua sobrinha gay em primeiro lugar, e os crimes e situações, cada vez mais absurdos, em segundo. P.D. James escreve outra série, brilhante e às vezes melancólica (e quem não gosta de melancolia quando bem colocada na trama?) de livros detetivescos, com o inspetor chefe Adam Dalgliesh.
Eu tenho lido muitos livros policiais, alguns memoráveis, alguns meio devagar, desses que fazem minha irmã parar na segunda página por falta de ação, outros muito cômicos, outros tão sangrentos que chega a dar repulsão ou ainda alguns clássicos (além da Christie não se pode esquecer Conan Doyle). Os livros policiais são parte importante do meu repertório de leitura. Eles me entretêm, e também me fazem pensar um pouco. Mortes violentas não acontecem, infelizmente, somente nos livros ou na tv. O mundo está cheio de violência e de insegurança, de pessoas doidas, cruéis, cheias de ódio contra o próximo ou simplesmente gananciosas ou passionais, e há mortes. Além, claro, dos mortos decorrentes de guerras. E uma coisa que eu penso ao terminar de ler um romance policial é que essas vidas, das pessoas assassinadas, foram truncadas. Seus sonhos, suas metas, desejos, tudo foi roubado. Claro que são só personagens de um livro. Mas no mundo real há muitos que são mortos. E suas vidas, com isso, são roubadas das suas possibilidades. Uma pessoa com sonhos, expectativas, lutas, que em determinado momento perde a vida, perdendo com isso tudo o que poderia ser e fazer, tudo o que poderia realizar no mundo. E filhos são roubados dos pais, maridos das esposas e vice-versa, parentes, amigos. O assassinato é a destruição total do ser humano. E isso me deixa uma certa tristeza pesando no coração. E penso na minha Colômbia, onde tantos morrem a cada dia, por causa da guerra, por causa da injustiça, por causa da intolerância.
Para terminar, uma última reflexão: os livros policias são uma distração, um desafio a descobrir o culpado, uma descarga de adrenalina. Seria tão bom se assassinato fosse só isso. Mas na vida real não tem nada a ver com distração: significa dor, significa destruição. E não posso entender como alguém, que se proclama civilizado, pode sair às ruas a comemorar o assassinato de um ser humano. Mesmo quando o morto é um "terrorista", mesmo que ele mesmo tenha sido um assassino. É desumano vitorear a morte. É absurdo. E não leva a nada, só criando um ciclo vicioso de ofendidos e vingadores. Quando as Torres Gêmeas cairam, muitos árabes celebraram a morte de inocentes. Quando Bin Laden morreu, muitos americanos e outros celebraram sua morte. E o único que ficou foi mais dor, mais mortes, mais lágrimas, e agora o Paquistão sofreu um atentado, e o mundo continua seu ciclo de violência e de dor. E a hipocrisia nessa (e muitas outras questões) está aí, mas ninguém fala sobre isso. Porque Bin Laden matou muitos, mas os americanos mataram muitos outros, mesmo se proclamando os mocinhos da história. Porém, ninguém é inocente quando se fala de morte.

2 de abril de 2011

De respeito e o que aconteceu no Afeganistão

Hoje (aliás, ontem) vi no jornal a notícia sobre o Afeganistão, onde uma multidão de afegãos enfurecidos atacaram e mataram alguns guardas americanos em represália a um pastor que queimou o Corão, livro sagrado deles. E claro, os americanos choram seus mortos. Toda essa dor e confusão provocada por um ato de desrespeito e de ignorância...
O fundamentalismo americano é bem conhecido. Aliás, tem bastante desse fundamentalismo nas igrejas brasileiras. Esse fundamentalismo marca todas as coisas que não são "cristãs" como sendo "do mundo, ou do capeta". E ai, as pessoas devem ser adoutrinadas à verdade que se prega, porque todo o resto de opções são erradas. O cristianismo pode ser às vezes muito egocêntrico. Tudo bem. Para nós Jesus é o centro das nossas vidas, e a Bíblia é a Palavra de Deus. Mas não podemos impor as nossas opiniões aos outros. E muito menos desrespeitar os outros. 
Queimar o Corão foi simplesmente um ato absurdo, que demonstra uma mania de superioridade em relação aos outros, bastante ignorância e muita intolerância. O que é que o tal pastor pretendia demonstrar, afinal? O que ele ganhava queimando o livro? O único que a sua intolerância conseguiu foi a morte de vários seus compatriotas. Os muçulmanos tinham o direito de ficar ofendidos. E se sabe bem que eles são muito sensíveis quando se trata da sua religião. A situação no Afeganistão já é bastante tensa, depois do longo sofrimento que o povo afegão tem experimentado, seja em mãos dos comunistas, das diferentes facções guerrilheiras (Mujahidin), dos talibãs. Recentemente se ouviu falar de uns soldados americanos que matavam afegãos só por diversão. E ainda por cima vem este pastor e queima o livro sagrado deles. Esperava uma salva de palmas? Ou que todos se convertessem por milagre a Jesus? 
Essa forma totalmente errada de pregar o evangelho tem sido usada desde as cruzadas. Aliás, desde bem antes. Como se obrigar alguém a falar que é cristão fizesse dessa pessoa efetivamente cristã. O pior de tudo é a imagem que os outros têm de nós, cristãos. Para eles somos um povo arrogante, fechado, que condena e julga quem não é cristão. E ações como a desse pastor só confirmam essa visão errada. Quando vão entender que Jesus não veio obrigar ninguém a segui-lo? Quando vão entender que a intolerância e o desrespeito só levam a confusões e tragédias como a de ontem? Quando vão deixar de ser tão tapados e ignorantes? Assim o povo muçulmano só vai sentir mais aversão ao ouvir o nome de Jesus! E depois reclamam! Se tivesse sido o contrário, e os muçulmanos tivessem queimado a Bíblia, as igrejas iam ficar bastante revoltadas. Claro, não iam sair matando gente (espero, quando se fala do ser humano não se pode ter muita certeza...) mas iam no mínimo fazer protestos. Por que então não deixam os símbolos religiosos deles em paz?
O desamor e o ódio surgem da intolerância e o desrespeito. Cristo veio a mostrar ao mundo o amor, a compaixão, o serviço ao próximo. Pastores queimando Corães e mandando todo mundo ao inferno não fazem ninguém conhecer Jesus. No mínimo só fazem que as pessoas associem o nome de Cristo a algo detestável. É algo para pensar. Os muçulmanos tem direito de ser respeitados. A gente pode falar da nossa fé, pode mostrar com nosso estilo de vida e nossa atitude o amor de Jesus. Agredir os outros não é um caminho. E, como se viu, pode levar à morte de inocentes. Que absurdo!      

31 de março de 2011

De Ideologias e a Visão que os E.U.A Têm do Resto do Mundo

Uma explosão. O terrorista árabe ou o traficante latino-americano surgem na tela correndo com um fuzil enorme, sendo perseguidos pelo herói, um americano disposto a salvar o mundo, ou o presidente dos Estados Unidos que pilota um avião pronto a jogar uma bomba no terrorista. No final, todos os terroristas são mortos, o herói surge entre as ruínas provocadas pelas bombas e abraça a moça que tentava resgatar. Ou fica brincando xadrez com o parceiro que o ajudou a massacrar os "maus". E assim mais um filme americano termina.
A visão de mundo dos americanos se encontra em seus filmes, em seus livros. Eles sempre salvam o mundo. Claro, para eles o mundo é o pais deles. O resto que se dane. O engraçado é que eles invadem os países dos outros, matam quem querem, destroem cidades inteiras, e ninguém faz nada. Como no filme do Hulk. Hulk tinha se refugiado no Rio, na favela da Rocinha, e trabalhava numa fabrica de guaraná (um guaraná verde radioativo). Quando o governo gringo descobre manda todo um exército para invadir a favela da Rocinha. Claro, eles fazem e desfazem. E o governo brasileiro nem aparece, porque, como sempre, se os gringos querem invadir um lugar entram e pronto. Essas cenas se repetem em outros filmes, e os estadounidenses entram em qualquer pais do globo quando e como querem. Eles nem se dão ao trabalho de descrever direito os outros paises: se é um pais latinoamericano, sempre tem burros nas ruas, pessoas sujas, carros caindo aos pedaços e casinhas de argila. Se é Europa, cidades velhas, ou lugares cheios de neve. No filme "Sr. e Sra. Smith", na cena na Colômbia, eles estão em um hotel caindo aos pedaços, e estão com roupas de verão em Bogotá, uma cidade bastante fria.  
Também nos livros deles podemos ver o que eles pensam sobre a gente. Recentemente li um livro horrível, chamado "Desvio". Ele se passa na Colômbia. Justo na minha cidade, Bogotá. Já nas primeiras páginas o autor descreve um lugar horrível: fotos de cadáveres no aeroporto (!!), pessoas sendo espancadas no meio da rua, guerrilheiros das Farc andando de farda por ai. Se percebe que o autor nem se tomou ao trabalho de ir de verdade na cidade, porque nem o aeroporto ele descreve direito. Em outros livros já vi a opinião que eles têm de quem não é do pais deles: alguém ignorante, sempre pobre, que não tem noções de civilização.
O pior de tudo isso não é que eles pensem isso (se bem que é ridículo eles se acharem o centro do mundo). O pior é que a gente vê os filmes deles, a gente lê os livros deles. Claro que não vou fazer campanha contra os filmes ou os livros. Mas é importante "consumir" estes produtos de uma forma crítica, e não passiva. É como com todas as informações, é preciso estar atento ao que se recebe, analisar e decidir o que presta e o que não. Tem muitos filmes interessantes. Tem outros, geralmente de ação, que só passam uma mensagem "somos os donos da Terra". Podem servir como entretenimento, para quem gosta de ver sangue correndo e explosões a cada três segundos. Mas é preciso ter em conta a mensagem que eles transmitem. É preciso perceber que tudo o que a gente assiste, lê, ouve, tudo passa uma mensagem. 
Os Estados Unidos são conhecidos pela sua mania de grandeza. Eles se entrometem nos assuntos dos outros paises, claro, quando há algúm interesse pessoal no meio. Eles dizem que lutam pela liberdade e pelos direitos de todos, mas massacram e oprimem bastante gente nos lugares onde intervêm, além de ter bastantes problemas sociais dentro das próprias fronteiras. Eles não são exemplo de nada. São um pais como qualquer outro. Só que eles passam a mensagem, pelo menos na mídia, de que eles são melhores. Eles falam de violações de direitos em vários paises, sendo que no próprio pais o racismo e a violação dos direitos de quem é negro ou imigrante são pão de cada dia. 
Mas aqui só quero falar mesmo do que a gente recebe, que são os filmes, os livros, as séries de TV, ahh, e as visitas do presidente. A gente consume várias ideologias, várias visões do mundo. A visão que eles têm dos outros. Uma visão do mundo que me indigna cada vez mais. Quando assisto um filme onde o Esquadrão classe A ou os agentes secretos, os assassinos pagos ou os Silvester Stallones invadem, explodem e matam a vontade quem entrar no seu caminho, sem importar se estão em outro pais, com outras leis e com uma soberania própria, tudo "para salvar o mundo", fico me perguntando se as pessoas alguma vez pararam para pensar sobre o que estão assistindo. Ou se estão simplesmente consumindo tudo passivamente. Sendo adoutrinados a sentir como povos inferiores, dependentes dos súper heróis gringos. 
Só quero que as pessoas reflitam, que não consumam tudo passivamente, que não achem que o que eles nos mostram é a verdade absoluta, que percebam que é por isso que os Estados Unidos fazem o que fazem, passando por cima das decisões da ONU, invadindo onde ninguém os chamou. Afinal, a gente está acostumado a isso, desde sempre fomos ensinados que se são eles podem fazer o que quiserem. Eles, que falam de armas nucleares no Oriente, quando o único pais do mundo a realmente usar uma bomba nuclear foram eles.
As ideologias são uma coisa sutil, que penetra no imaginário de todos sem que se perceba. Ou quem é que não pensa nos árabes como terroristas? Quem que não pensa na Colômbia como o pais das drogas? Quem primeiro falou de terrorismo árabe foram os gringos, quem vive mostrando droga "colombiana" são os filmes gringos. E meu sangue ferve cada vez que vejo isso.
O povo estadouni
dense pode ser uma maravilha. As pessoas em si não podem ser enfiadas numa sacola e dizer que todos são racistas ou com ar de superioridade. Mas o que o governo e os produtores de filmes, aqueles que estão na mídia e "dão a cara" pelo pais, passam, é a mensagem errada. Porque ninguém é perfeito. Nem eles são perfeitos, nem superiores, não são maravilhosos nem éticos nem corretos em tudo o que fazem. Eles não defendem o mundo, defendem só os próprios interesses. E o pais deles não é o mais civilizado e limpo do mundo. Os paises latinoamericanos não são cheios de índios, não há burros nas nossas escolas (como mostra um episódio de "Todo mundo odeia o Chris", e olha que essa série é engraçada...), os colombianos não nadam em rios de coca e os brasileiros não são todos favelados, os russos e os italianos não são todos mafiosos, e sobretudo, cada pais tem sua soberania, e os gringos não podem entrar num pais sem pedir permisso. Claro, excepto quando a ONU passa a mão na cabeça deles ou quando desobedecem na cara, mas ai já é em escala maior, como a guerra do Iraque. Operações tipo "Hulk" são absurdas. O Esquadrão classe A não pode andar por ai livremente. Espero que algúm dia os estadounidenses percebam que não são os reis do pedaço. Aliás, se é por potência mundial os Estados Unidos estão declinando bastante. Num futuro próximo outro pais será a tal potência. Ai quero ver o que eles vão colocar nos filmes deles.

P.S. Ainda acho engraçado que os filmes deles mostrem a mania de perseguição que os gringos têm. Tudo acontece com eles. Os árabes não têm mais nada para se preocupar que em explodir as cidades deles, os extraterrestres não têm mais planetas para visitar que não a terra deles, todos os imigrantes querem ir para lá, todos, desde o mais simples ladrão até o terrorista mais poderoso querem matar o presidente deles. Fala sério! 

22 de março de 2011

Igreja de Produção em Massa II

As vezes a pressão que a gente sente na igreja é mais do que podemos suportar. Sei disso porque às vezes não sei o que fui fazer lá, não sinto aquela paz, aquele "estou aqui louvando a Deus", mas sinto uma carga, uma pressão, um "tenho que vir porque pega mal...". Pega mal. Para meu marido, claro. Acho que é o preço de casar com ministro. Ainda bem que ele não é pastor. As igrejas cobram demais do pastor e da sua família. A esposa de pastor deve ser uma mulher submissa que trabalha em todas as atividades da igreja. Que está ai sempre que se precisa. Ahhh fala sério, isso não é pra mim! De mim só se cobra que eu vá na igreja. Mas ainda isso é bastante.
Mas o que eu queria falar mesmo é da hipocrisia que resulta dessa pressão da igreja por fazer seus membros "santos". Santo não é qualquer um, ele tem que cumprir certas regras: tem que ser religioso, ir na igreja todo domingo, participar em todas as atividades, nunca beber nem fazer nada que não seja "de crente".  Isso corta muito as asas das pessoas. Pelo menos as minhas e de muitos que conheço. E ai, surge a hipocrisia. Alguns se resignam, cumprem ao pé da letra o que os outros membros da igreja cobram, e vivem felizes. Até eu já fui assim, e achava que tudo era vontade divina. Mas um dia acordei para a vida real, e não consigo mais ser assim. Não consigo me sentir pecadora por tudo. Não consigo eleger minhas roupas com base no que posso ou não usar na igreja. Só que a pressão ainda existe. E só resta andar, mesmo sem querer, mesmo odiando ter que fazer isso, pelo caminho da hipocrisia.
A hipocrisia que faz dividir o guarda-roupa em dois: roupa que se pode usar na igreja, roupa que não se pode usar. Mesmo que o vestido seja comprido até o chão, se ser tomara-que-caia pode ferir a respeitabilidade de certos velhinhos membros da igreja, então melhor não. E se a gente quiser ir tomar um gole com os amigos num barzinho, melhor sentar nos fundos, não seja que alguém da igreja passe e veja a gente. Absurdo! Como se a gente estivesse cometendo o maior crime! Porém, se sabe que certas coisas pegam mal. Então a gente tem que fingir, tem que se esconder, tem que fazer tudo quando os outros não vão ver. Tem que ser hipócrita.
Eu já cansei disso. Sinceramente não estou nem ai para o que os outros pensam de mim o do que eu faço. Mas tenho que pensar no meu marido, porque pode pegar mal para ele. E assim, tenho que continuar com a hipocrisia. Tenho que me segurar quando quero sair dançando, tenho que deixar de ser eu mesma.
Nesse sentido a igreja me asfixia. Em lugar de ser o grupo de irmãos com os quais me reúno para louvar Deus, virou um grupo de gente pronta a apontar o dedo na minha direção, para falar mal de mim. E não suporto mais isso.
Afinal, onde fica a liberdade? Se todos os olhos estão atentos para qualquer nosso "erro", onde fica a nossa liberdade individual?

12 de março de 2011

Igreja de Produção em Massa

Hoje estava conversando com a minha amiga e pensei de repente na frase que é o título deste texto. Eu vinha pensando já há algum tempo sobre o assunto, sobre as diferenças, individualidades e sobre a igreja. Querida e velha igreja. A igreja de que eu falo não são as pessoas em si, cada uma, cada "crente". É a igreja instituição, aquela que é representada pelo prédio com a cruzinha, geralmente. Que é composta de pessoas, mas que ao se pensar nela se pensa como uma. Eu mudei muito desde que deixei a minha igreja na Itália e vim fazer teologia. Às vezes me pergunto até que ponto foi bom ter mudado. Mas acho, não, tenho certeza que não posso voltar atrás. Eu sou o que sou agora e não vou jogar fora quatro anos andados. E não quero ser o que eu era. Porque agora eu estou numa crise ferrenha, mas estou me encontrando. Antes eu
 era mais uma "ovelhinha". Mais uma. Pensando igual, agindo igual, se der mole até vestindo igual aos outros membros da igreja.
Analizando a sociedade, vejo que as pessoas gostam de ser diferentes. Só que terminam se encaixando em algum grupo "diferente", onde todos são iguais. Tem os rastafaris, tem os punk, tem aqueles que gostam de hip hop e muitos outros grupos. Cada um proclama a sua vontade de ser diferente dos padrões normais da sociedade. Só que, dentro da sua própria sociedade, que é seu grupo, todos são iguais. Vestem as mesmas roupas, usam as mesmas gírias, ouvem as mesmas músicas. É uma homogeneização de pessoas em um grupo separado. Mas, para mim, afinal dá tudo na mesma.
E na igreja é a mesma coisa. Vivem proclamando que devemos ser diferentes, que a gente tem que se afastar do "mundo", que o "mundo" não presta e todo é do capeta, e que nós, crentes, devemos ser referência. Mas, afinal, terminam todos sendo iguais. Vira uma produção em massa de "crentes" que, dependendo da denominação, podem ser mais ou menos evidentes. Assembleianas que não cortam o cabelo, não usam maquiagem e não depilam as pernas. Crente não bebe. Crente não dança. Crente não pode fazer isso ou aquilo. Crente de verdade vive na igreja. Crente não vai de tomara-que-caia na igreja, não usa shortinho, não usa saia curta. Os homens vão de cabelo curto. Se der mole vão até pedir para as mulheres usarem véu! E todo mundo fica igual.
E eu cansei disso. Eu sou diferente, e gosto da minha individualidade. Gosto de fazer as minhas coisas, de vestir como eu quero, como eu me sinto bem. Gosto de ouvir minhas músicas, cantar, dançar. Gosto de sair, de curtir, de rir. Gosto de fazer as coisas sem ter que pensar se "vai pegar mal", se vou escandalizar alguém. E não gosto de fazer nada obrigada. E às vezes acho a igreja muito opressiva. Como se ao entrar ai me enfiassem num saco de generalização, e eu deixasse de ser eu, para ser igual aos outros (saindo um pouco do tema, mas dentro do mesmo raciocínio, penso que isso leva muita gente a aloprar. Essas pessoas que eram os super cristãos, e que de um momento ao outro saem por ai não querendo saber de igreja, indo na gandaia e vestindo roupas estrafalárias. Elas se libertam da "opressão", mas vão ao outro extremo, achando que agora tudo está liberado... isso porque nunca aprenderam a administrar a própria liberdade). 
Eu penso que é algo normal dentro da sociedade. Como já disse, em todos os grupos que proclamam sua "diferença" acontece o mesmo. O problema é que eu não quero mais ser igual. Não sou igual àqueles que os evangélicos dizem ser do mundo. Mesmo porque eu acho que essa diferenciação entre "a gente, os cristãos" e "o mundo" é coisa do Agostinho, do Platão e de toda a teologia medieval, que já devia ter sido ultrapassada. Ainda por cima não gosto de Agostinho. Mas, voltando ao assunto, eu não quero mais seguir um padrão imposto de comportamento. Nem de uns nem de outros. Ou seja, não é que agora eu vá correndo fazer tudo o que a igreja diz que não posso fazer. Não é isso. Simplesmente peço o meu direito de ser livre. De poder ser eu. De deixar de fazer parte da massa, e de pensar com a minha cabeça, de refletir, até de criticar. O meu direito de não aceitar tudo que me falam como verdade absoluta, como algo que devo acatar em silêncio. O direito de poder decidir o que é que eu quero, o que é que eu gosto. Se eu gosto de dançar, não quero ter dedos apontando em minha direção. Se uso sainha, shortinho, e se bebo um ice ou um cuba livre, não quero fazer tudo isso escondida. Não tenho de que me envergonhar. Não estou fazendo nada de errado!! Eu quero ser livre daquela praga chamada "o que pensam os outros". Que se dane. Estou pouco me lixando para os outros!
Esse negócio de dar testemunhança da minha fé não rola mais comigo. Para mim ser cristã não é ser como dizem. Não é ir na igreja, orar e ler a Bíblia. É algo mais profundo. Às vezes me pergunto o que é mesmo. Só peço que Deus tenha paciência comigo. Eu estou como Jó, questionando esse Deus que a teologia tradicional lhe punha na frente. Porque o problema é esse: a igreja usa Deus no seu discurso, para poder fazer funcionar a sua produção em massa. E como é que uma pessoa em sã consciência pode falar contra Deus? Tem que estar mesmo em crise para poder fazer isso...
Para concluir, só espero, sinceramente, que as pessoas nas igrejas comecem a enxergar com seus olhos, e a pensar com suas cabeças. Deus é muito mais do que nos dizem, e muito do que se prega por ai é cultura, não Deus. Como se a minha salvação dependesse de um copo de caipirinha!! A vida é muito complexa, e o discurso das igrejas é muito simplista. E depois se queixam de que o povo tem o coração duro... o problema é que o discurso não satisfaz mais as perguntas da alma e da razão! E esse negócio de que Deus não se entende com a razão não é justificativa, porque para mim se Deus me deu um cérebro foi para usá-lo, em qualquer situação.
Espero muito que algum dia a produção em massa das igrejas termine, e as pessoas lutem pela sua individualidade. Afinal, diante de Deus não somos uma massa informe. A gente não prega que Deus se relaciona com cada um na sua individualidade? Então, se Deus faz isso conosco, porque a igreja espera que todo mundo seja igual? É mesmo um sem-sentido...

17 de janeiro de 2011

Um dia

Hoje não estou afim de falar muito. Quero devanear um pouco... tenho muitas coisas que eu queria escrever, sobre o ano que passou, sobre o meu seminário, sobre o que alguns falam sobre as mulheres na igreja. Mas hoje não estou com vontade de protestar. Hoje eu quero sonhar um pouco, desenhar com palavras o que se passa na minha imaginação.
Estes dias têm sido isso que se chama "um dia após o outro". Sempre a mesma rotina, acorda-arruma casa-pendura as roupas-faz comida-lava a louça. Sinceramente, as donas de casa merecem um troféu do tamanho do mundo. É um trabalho pra lá de chato. Acho que se deve ter um dom especial para gostar de ficar em casa e cuidar dela. Em fim. Depois do breve desabafo, vou para outro assunto.
Esperar. Nada mais estressante que esperar. Acho que na verdade a gente vive a vida inteira esperando. A gente espera crescer. Espera se formar. Espera que chegue aquela pessoa especial que vai fazer o coração parar no estómago. Se espera um novo emprego, se espera que as coisas melhorem, se espera o salário a fim de mês. E tudo é uma espera. Mas há uma espera que é mais irritante que as outras, aquela que deixa você suspendido no tempo e no espaço, sem ter como se mexer, como se estivesse numa caixa de madeira escura e molhada, flutuando no meio de um oceano de nada.
É quando o que se espera não tem data determinada de chegar. Quando não sabemos se vai acontecer ou não. Quando o que esperamos depende dos outros. E a gente ai, em suspenso, sem saber o que fazer, sem enxergar para onde se pode avançar. Esperar assim é cansativo, chega a ser desanimador.
Outra coisa que cresce cada dia mais dentro de mim é a saudade da minha terra. Nunca pensei que chegasse a ser tão grande, de sentir às vezes que o coração vai estourar no peito. Nada como a patria. Mesmo conhecendo lugares incríveis, com gente maravilhosa, nada pode se comparar à minha Colombia linda, minha cidade Bogotá, que saudades!! Dá até vontade de chorar... Espero poder voltar logo, nem que seja por um pouco de tempo!
Hoje tive umdia estranho. Daqueles que a gente se levanta de um jeito, esperando um dia legal, e nada dá certo, ou pelo menos o nosso ánimo estátão pelo chão que sentimos que tudo está indo horrivelmente. Espero que amanhã seja um dia melhor. Ou espero me sentir melhor, não gosto quando tenho mudanças de ánimo assim do nada...  
Bom, para terminar este meu texto-desabafo, não tenho muito a dizer... só posso pensar que às vezes a gente fica choramingando pelas nossas pequenas tragédias pessoais, e ao ver uma catástrofe de verdade compreendemos o tamanho do nosso egoismo... e percebemos que o planeta não gira ao nosso redor... porém depois de um tempo voltamos a choramingar, e esquecemos o resto do mundo... afinal as tragédias da nossa vida tomam a frente sobre tragédias alheias... eis o ser humano!