31 de março de 2011

De Ideologias e a Visão que os E.U.A Têm do Resto do Mundo

Uma explosão. O terrorista árabe ou o traficante latino-americano surgem na tela correndo com um fuzil enorme, sendo perseguidos pelo herói, um americano disposto a salvar o mundo, ou o presidente dos Estados Unidos que pilota um avião pronto a jogar uma bomba no terrorista. No final, todos os terroristas são mortos, o herói surge entre as ruínas provocadas pelas bombas e abraça a moça que tentava resgatar. Ou fica brincando xadrez com o parceiro que o ajudou a massacrar os "maus". E assim mais um filme americano termina.
A visão de mundo dos americanos se encontra em seus filmes, em seus livros. Eles sempre salvam o mundo. Claro, para eles o mundo é o pais deles. O resto que se dane. O engraçado é que eles invadem os países dos outros, matam quem querem, destroem cidades inteiras, e ninguém faz nada. Como no filme do Hulk. Hulk tinha se refugiado no Rio, na favela da Rocinha, e trabalhava numa fabrica de guaraná (um guaraná verde radioativo). Quando o governo gringo descobre manda todo um exército para invadir a favela da Rocinha. Claro, eles fazem e desfazem. E o governo brasileiro nem aparece, porque, como sempre, se os gringos querem invadir um lugar entram e pronto. Essas cenas se repetem em outros filmes, e os estadounidenses entram em qualquer pais do globo quando e como querem. Eles nem se dão ao trabalho de descrever direito os outros paises: se é um pais latinoamericano, sempre tem burros nas ruas, pessoas sujas, carros caindo aos pedaços e casinhas de argila. Se é Europa, cidades velhas, ou lugares cheios de neve. No filme "Sr. e Sra. Smith", na cena na Colômbia, eles estão em um hotel caindo aos pedaços, e estão com roupas de verão em Bogotá, uma cidade bastante fria.  
Também nos livros deles podemos ver o que eles pensam sobre a gente. Recentemente li um livro horrível, chamado "Desvio". Ele se passa na Colômbia. Justo na minha cidade, Bogotá. Já nas primeiras páginas o autor descreve um lugar horrível: fotos de cadáveres no aeroporto (!!), pessoas sendo espancadas no meio da rua, guerrilheiros das Farc andando de farda por ai. Se percebe que o autor nem se tomou ao trabalho de ir de verdade na cidade, porque nem o aeroporto ele descreve direito. Em outros livros já vi a opinião que eles têm de quem não é do pais deles: alguém ignorante, sempre pobre, que não tem noções de civilização.
O pior de tudo isso não é que eles pensem isso (se bem que é ridículo eles se acharem o centro do mundo). O pior é que a gente vê os filmes deles, a gente lê os livros deles. Claro que não vou fazer campanha contra os filmes ou os livros. Mas é importante "consumir" estes produtos de uma forma crítica, e não passiva. É como com todas as informações, é preciso estar atento ao que se recebe, analisar e decidir o que presta e o que não. Tem muitos filmes interessantes. Tem outros, geralmente de ação, que só passam uma mensagem "somos os donos da Terra". Podem servir como entretenimento, para quem gosta de ver sangue correndo e explosões a cada três segundos. Mas é preciso ter em conta a mensagem que eles transmitem. É preciso perceber que tudo o que a gente assiste, lê, ouve, tudo passa uma mensagem. 
Os Estados Unidos são conhecidos pela sua mania de grandeza. Eles se entrometem nos assuntos dos outros paises, claro, quando há algúm interesse pessoal no meio. Eles dizem que lutam pela liberdade e pelos direitos de todos, mas massacram e oprimem bastante gente nos lugares onde intervêm, além de ter bastantes problemas sociais dentro das próprias fronteiras. Eles não são exemplo de nada. São um pais como qualquer outro. Só que eles passam a mensagem, pelo menos na mídia, de que eles são melhores. Eles falam de violações de direitos em vários paises, sendo que no próprio pais o racismo e a violação dos direitos de quem é negro ou imigrante são pão de cada dia. 
Mas aqui só quero falar mesmo do que a gente recebe, que são os filmes, os livros, as séries de TV, ahh, e as visitas do presidente. A gente consume várias ideologias, várias visões do mundo. A visão que eles têm dos outros. Uma visão do mundo que me indigna cada vez mais. Quando assisto um filme onde o Esquadrão classe A ou os agentes secretos, os assassinos pagos ou os Silvester Stallones invadem, explodem e matam a vontade quem entrar no seu caminho, sem importar se estão em outro pais, com outras leis e com uma soberania própria, tudo "para salvar o mundo", fico me perguntando se as pessoas alguma vez pararam para pensar sobre o que estão assistindo. Ou se estão simplesmente consumindo tudo passivamente. Sendo adoutrinados a sentir como povos inferiores, dependentes dos súper heróis gringos. 
Só quero que as pessoas reflitam, que não consumam tudo passivamente, que não achem que o que eles nos mostram é a verdade absoluta, que percebam que é por isso que os Estados Unidos fazem o que fazem, passando por cima das decisões da ONU, invadindo onde ninguém os chamou. Afinal, a gente está acostumado a isso, desde sempre fomos ensinados que se são eles podem fazer o que quiserem. Eles, que falam de armas nucleares no Oriente, quando o único pais do mundo a realmente usar uma bomba nuclear foram eles.
As ideologias são uma coisa sutil, que penetra no imaginário de todos sem que se perceba. Ou quem é que não pensa nos árabes como terroristas? Quem que não pensa na Colômbia como o pais das drogas? Quem primeiro falou de terrorismo árabe foram os gringos, quem vive mostrando droga "colombiana" são os filmes gringos. E meu sangue ferve cada vez que vejo isso.
O povo estadouni
dense pode ser uma maravilha. As pessoas em si não podem ser enfiadas numa sacola e dizer que todos são racistas ou com ar de superioridade. Mas o que o governo e os produtores de filmes, aqueles que estão na mídia e "dão a cara" pelo pais, passam, é a mensagem errada. Porque ninguém é perfeito. Nem eles são perfeitos, nem superiores, não são maravilhosos nem éticos nem corretos em tudo o que fazem. Eles não defendem o mundo, defendem só os próprios interesses. E o pais deles não é o mais civilizado e limpo do mundo. Os paises latinoamericanos não são cheios de índios, não há burros nas nossas escolas (como mostra um episódio de "Todo mundo odeia o Chris", e olha que essa série é engraçada...), os colombianos não nadam em rios de coca e os brasileiros não são todos favelados, os russos e os italianos não são todos mafiosos, e sobretudo, cada pais tem sua soberania, e os gringos não podem entrar num pais sem pedir permisso. Claro, excepto quando a ONU passa a mão na cabeça deles ou quando desobedecem na cara, mas ai já é em escala maior, como a guerra do Iraque. Operações tipo "Hulk" são absurdas. O Esquadrão classe A não pode andar por ai livremente. Espero que algúm dia os estadounidenses percebam que não são os reis do pedaço. Aliás, se é por potência mundial os Estados Unidos estão declinando bastante. Num futuro próximo outro pais será a tal potência. Ai quero ver o que eles vão colocar nos filmes deles.

P.S. Ainda acho engraçado que os filmes deles mostrem a mania de perseguição que os gringos têm. Tudo acontece com eles. Os árabes não têm mais nada para se preocupar que em explodir as cidades deles, os extraterrestres não têm mais planetas para visitar que não a terra deles, todos os imigrantes querem ir para lá, todos, desde o mais simples ladrão até o terrorista mais poderoso querem matar o presidente deles. Fala sério! 

22 de março de 2011

Igreja de Produção em Massa II

As vezes a pressão que a gente sente na igreja é mais do que podemos suportar. Sei disso porque às vezes não sei o que fui fazer lá, não sinto aquela paz, aquele "estou aqui louvando a Deus", mas sinto uma carga, uma pressão, um "tenho que vir porque pega mal...". Pega mal. Para meu marido, claro. Acho que é o preço de casar com ministro. Ainda bem que ele não é pastor. As igrejas cobram demais do pastor e da sua família. A esposa de pastor deve ser uma mulher submissa que trabalha em todas as atividades da igreja. Que está ai sempre que se precisa. Ahhh fala sério, isso não é pra mim! De mim só se cobra que eu vá na igreja. Mas ainda isso é bastante.
Mas o que eu queria falar mesmo é da hipocrisia que resulta dessa pressão da igreja por fazer seus membros "santos". Santo não é qualquer um, ele tem que cumprir certas regras: tem que ser religioso, ir na igreja todo domingo, participar em todas as atividades, nunca beber nem fazer nada que não seja "de crente".  Isso corta muito as asas das pessoas. Pelo menos as minhas e de muitos que conheço. E ai, surge a hipocrisia. Alguns se resignam, cumprem ao pé da letra o que os outros membros da igreja cobram, e vivem felizes. Até eu já fui assim, e achava que tudo era vontade divina. Mas um dia acordei para a vida real, e não consigo mais ser assim. Não consigo me sentir pecadora por tudo. Não consigo eleger minhas roupas com base no que posso ou não usar na igreja. Só que a pressão ainda existe. E só resta andar, mesmo sem querer, mesmo odiando ter que fazer isso, pelo caminho da hipocrisia.
A hipocrisia que faz dividir o guarda-roupa em dois: roupa que se pode usar na igreja, roupa que não se pode usar. Mesmo que o vestido seja comprido até o chão, se ser tomara-que-caia pode ferir a respeitabilidade de certos velhinhos membros da igreja, então melhor não. E se a gente quiser ir tomar um gole com os amigos num barzinho, melhor sentar nos fundos, não seja que alguém da igreja passe e veja a gente. Absurdo! Como se a gente estivesse cometendo o maior crime! Porém, se sabe que certas coisas pegam mal. Então a gente tem que fingir, tem que se esconder, tem que fazer tudo quando os outros não vão ver. Tem que ser hipócrita.
Eu já cansei disso. Sinceramente não estou nem ai para o que os outros pensam de mim o do que eu faço. Mas tenho que pensar no meu marido, porque pode pegar mal para ele. E assim, tenho que continuar com a hipocrisia. Tenho que me segurar quando quero sair dançando, tenho que deixar de ser eu mesma.
Nesse sentido a igreja me asfixia. Em lugar de ser o grupo de irmãos com os quais me reúno para louvar Deus, virou um grupo de gente pronta a apontar o dedo na minha direção, para falar mal de mim. E não suporto mais isso.
Afinal, onde fica a liberdade? Se todos os olhos estão atentos para qualquer nosso "erro", onde fica a nossa liberdade individual?

12 de março de 2011

Igreja de Produção em Massa

Hoje estava conversando com a minha amiga e pensei de repente na frase que é o título deste texto. Eu vinha pensando já há algum tempo sobre o assunto, sobre as diferenças, individualidades e sobre a igreja. Querida e velha igreja. A igreja de que eu falo não são as pessoas em si, cada uma, cada "crente". É a igreja instituição, aquela que é representada pelo prédio com a cruzinha, geralmente. Que é composta de pessoas, mas que ao se pensar nela se pensa como uma. Eu mudei muito desde que deixei a minha igreja na Itália e vim fazer teologia. Às vezes me pergunto até que ponto foi bom ter mudado. Mas acho, não, tenho certeza que não posso voltar atrás. Eu sou o que sou agora e não vou jogar fora quatro anos andados. E não quero ser o que eu era. Porque agora eu estou numa crise ferrenha, mas estou me encontrando. Antes eu
 era mais uma "ovelhinha". Mais uma. Pensando igual, agindo igual, se der mole até vestindo igual aos outros membros da igreja.
Analizando a sociedade, vejo que as pessoas gostam de ser diferentes. Só que terminam se encaixando em algum grupo "diferente", onde todos são iguais. Tem os rastafaris, tem os punk, tem aqueles que gostam de hip hop e muitos outros grupos. Cada um proclama a sua vontade de ser diferente dos padrões normais da sociedade. Só que, dentro da sua própria sociedade, que é seu grupo, todos são iguais. Vestem as mesmas roupas, usam as mesmas gírias, ouvem as mesmas músicas. É uma homogeneização de pessoas em um grupo separado. Mas, para mim, afinal dá tudo na mesma.
E na igreja é a mesma coisa. Vivem proclamando que devemos ser diferentes, que a gente tem que se afastar do "mundo", que o "mundo" não presta e todo é do capeta, e que nós, crentes, devemos ser referência. Mas, afinal, terminam todos sendo iguais. Vira uma produção em massa de "crentes" que, dependendo da denominação, podem ser mais ou menos evidentes. Assembleianas que não cortam o cabelo, não usam maquiagem e não depilam as pernas. Crente não bebe. Crente não dança. Crente não pode fazer isso ou aquilo. Crente de verdade vive na igreja. Crente não vai de tomara-que-caia na igreja, não usa shortinho, não usa saia curta. Os homens vão de cabelo curto. Se der mole vão até pedir para as mulheres usarem véu! E todo mundo fica igual.
E eu cansei disso. Eu sou diferente, e gosto da minha individualidade. Gosto de fazer as minhas coisas, de vestir como eu quero, como eu me sinto bem. Gosto de ouvir minhas músicas, cantar, dançar. Gosto de sair, de curtir, de rir. Gosto de fazer as coisas sem ter que pensar se "vai pegar mal", se vou escandalizar alguém. E não gosto de fazer nada obrigada. E às vezes acho a igreja muito opressiva. Como se ao entrar ai me enfiassem num saco de generalização, e eu deixasse de ser eu, para ser igual aos outros (saindo um pouco do tema, mas dentro do mesmo raciocínio, penso que isso leva muita gente a aloprar. Essas pessoas que eram os super cristãos, e que de um momento ao outro saem por ai não querendo saber de igreja, indo na gandaia e vestindo roupas estrafalárias. Elas se libertam da "opressão", mas vão ao outro extremo, achando que agora tudo está liberado... isso porque nunca aprenderam a administrar a própria liberdade). 
Eu penso que é algo normal dentro da sociedade. Como já disse, em todos os grupos que proclamam sua "diferença" acontece o mesmo. O problema é que eu não quero mais ser igual. Não sou igual àqueles que os evangélicos dizem ser do mundo. Mesmo porque eu acho que essa diferenciação entre "a gente, os cristãos" e "o mundo" é coisa do Agostinho, do Platão e de toda a teologia medieval, que já devia ter sido ultrapassada. Ainda por cima não gosto de Agostinho. Mas, voltando ao assunto, eu não quero mais seguir um padrão imposto de comportamento. Nem de uns nem de outros. Ou seja, não é que agora eu vá correndo fazer tudo o que a igreja diz que não posso fazer. Não é isso. Simplesmente peço o meu direito de ser livre. De poder ser eu. De deixar de fazer parte da massa, e de pensar com a minha cabeça, de refletir, até de criticar. O meu direito de não aceitar tudo que me falam como verdade absoluta, como algo que devo acatar em silêncio. O direito de poder decidir o que é que eu quero, o que é que eu gosto. Se eu gosto de dançar, não quero ter dedos apontando em minha direção. Se uso sainha, shortinho, e se bebo um ice ou um cuba livre, não quero fazer tudo isso escondida. Não tenho de que me envergonhar. Não estou fazendo nada de errado!! Eu quero ser livre daquela praga chamada "o que pensam os outros". Que se dane. Estou pouco me lixando para os outros!
Esse negócio de dar testemunhança da minha fé não rola mais comigo. Para mim ser cristã não é ser como dizem. Não é ir na igreja, orar e ler a Bíblia. É algo mais profundo. Às vezes me pergunto o que é mesmo. Só peço que Deus tenha paciência comigo. Eu estou como Jó, questionando esse Deus que a teologia tradicional lhe punha na frente. Porque o problema é esse: a igreja usa Deus no seu discurso, para poder fazer funcionar a sua produção em massa. E como é que uma pessoa em sã consciência pode falar contra Deus? Tem que estar mesmo em crise para poder fazer isso...
Para concluir, só espero, sinceramente, que as pessoas nas igrejas comecem a enxergar com seus olhos, e a pensar com suas cabeças. Deus é muito mais do que nos dizem, e muito do que se prega por ai é cultura, não Deus. Como se a minha salvação dependesse de um copo de caipirinha!! A vida é muito complexa, e o discurso das igrejas é muito simplista. E depois se queixam de que o povo tem o coração duro... o problema é que o discurso não satisfaz mais as perguntas da alma e da razão! E esse negócio de que Deus não se entende com a razão não é justificativa, porque para mim se Deus me deu um cérebro foi para usá-lo, em qualquer situação.
Espero muito que algum dia a produção em massa das igrejas termine, e as pessoas lutem pela sua individualidade. Afinal, diante de Deus não somos uma massa informe. A gente não prega que Deus se relaciona com cada um na sua individualidade? Então, se Deus faz isso conosco, porque a igreja espera que todo mundo seja igual? É mesmo um sem-sentido...