5 de fevereiro de 2012

O Que Aprendi Com Livros de Literatura

Minha avó me perguntou um dia o que eu aprendo quando leio. Sobretudo quando leio romances. Segundo ela deveria ler mais livros que me "ensinem alguma coisa", livros como os de autoajuda, que me falam como ser melhor. Eu não concordo com a minha avó. E fiquei muito tempo pensando na pergunta que ela me fez. Confesso que eu gosto de ler qualquer tipo de livro, menos biografias ou livros de autoajuda, esses nem a pau, mas o que mais leio são romances, livros de literatura. Já li muito nesta minha vida, livros policiais, de amor, de suspense, sagas familiares, dramas, histórias infantis, contos antigos e modernos, e muitos, muitos outros. E tenho aprendido com eles, sim senhor. Pode que no livro não haja instruções para viver a vida, mas justamente por isso que eu gosto de ler. E tenho aprendido muito sobre os costumes de outras terras, de outros tempos, como quando os ingleses costumavam achar visitas que durassem mais de meia hora falta de educação, ou quando a filha mais velha era chamada de "miss Tal", enquanto as outras eram chamadas pelo nome. Conheci as terras difíceis da Austrália, soube que no Japão o desjejum é arroz e peixe, viajei pelas montanhas da Suíça, aprendi a história da França durante o reinado de Felipe IV o Belo, enfim, o que tenho aprendido com os livros que li, se fico aqui descrevendo, nunca vou acabar. E tenho aprendido muito sobre a natureza humana. Histórias vão, histórias vem, mas o ser humano retratado nelas é basicamente o mesmo, ambíguo, com suas complicações, suas perguntas sobre sua existência, o bem e o mal dentro dele. Mesmo nos livros de amor, os mais previsíveis que já li (geralmente já sei o que vai acontecer, dependendo do livro fica até chato), dá para aprender bastante sobre o ser humano. Para mim os livros são janelas a outros mundos, com eles eu posso estar aqui e no Japão, posso estar sentada e estar voando, e sobretudo, são janelas à alma humana. Um livro como Madame Bovary, que mostra a complexidade de uma Emma em busca de algo que de um sentido mais profundo a seu ser, algo que a tire da monotonia de um casamento sem amor, algo que, no final, a destrói, não se compararia com mil manuais que falem do adultério ou da infelicidade de uma forma técnica.
Livros de geografia são importantes, mas é mais bonito ler a descrição das terras agrestes, do mares imensos e dos vales desérticos, descrições que transportam realmente ao lugar descrito, ao ponto que às vezes parece que, querendo, se pode deixar os personagens onde estão e sair dar uma volta por ai, é muito mais real do que aprender que na Austrália existe uma rocha gigante e há uma grande parte deserta, ou então saber que na Inglaterra há campinas. Da mesma forma, livros de antropologia nunca vão se comparar a livros que descrevem o ser humano desde dentro, a partir do que tal personagem sente, tal outra pensa e faz.
O que eu aprendi com os livros de literatura? O que me faz não parar de ler? O que me faz mergulhar de cabeça nas páginas dos livros mesmo em um lugar cheio de gente, de barulhos e de rotina? É o mundo. É mais do que possa expressar com palavras. É simplesmente a capacidade de ser livre, de sair por ai conhecendo gente, sofrendo com alguns, rindo com outros, desfrutando um belo sol brilhando no topo das montanhas mesmo estando num lugar banhado pela tormenta viajando em terras onde coisas impossíveis são reais, onde criaturas que não existem aqui falam, pensam, existem. Livros de autoajuda me parecem chatos, entediantes, receitas de bolo para a vida. Livros técnicos são importantes. Ler Nietzsche, Paul Tillich e Platão é importante, mas o que faz realmente meu ser crescer e ser livre, são os livros de literatura. Com eles conheço o mundo que ainda não tenho dinheiro para conhecer de verdade, com eles vou a épocas que nenhuma máquina do tempo vai trazer de volta. E conheço o ser humano no seu mais íntimo.
Os livros para mim são como velhos amigos, cada um contando-me sua história.

3 comentários:

Anônimo disse...

Vivi,
Já copiei e vou usar em minha aula de Produção de Texto, posso?
Obrigada pela lembrança e beijos mil!
Celeste.

Peroratio disse...

E quando leremos o teu?

Viviana Carolina Mendez Rocha disse...

Pode sim, com certeza! Obrigada a você professora!