31 de março de 2010

2012 e a sociedade de 2009/2010

Semana passada tive a oportunidade de assistir o tão famoso filme "2012". Não achei a grande coisa. Os efeitos especiais até que são legais, mas nem por todos os efeitos possíveis a história do filme se salva. É uma história fraca. E muito cínica. O único que gostei mesmo é que o filme é tão descarado que da para falar um monte de coisas sobre ele.
Descarado porque? A coisa mais óbvia é que só os países do primeiro mundo se salvam. Mas tem mais do que isso. Não são todos os europeus e norteamericanos que se salvam. Não. São só os ricos, os poderosos, os governantes (deve ser para garantir que no "novo mundo" a corrupção apareça o mais rápido possível...).

Este filme é descarado não tanto porque os ricos se salvam. Nisto ele é até realista. Quando alguma coisa acontece, se o rico se salvou, podem ter morrido outras tantas pessoas que ninguém está nem ai. Se assassinam um famoso, a polícia faz de tudo para achar o culpável. Se for um zé ninguém, muitas vezes nem se sabe que morreu alguém. Tantas pessoas morrem todos os dias, seus crimes arquivados em algum estante cheio de poeira... Mas voltando ao filme, ele é descarado porque quem se salva, sob o comando do "magnânimo" geólogo estadunidense, se acha o bom samaritano porque abriu as portas da "arca" para "o pobre pessoal que tinha ficado sem arca". Não foi ato de crueldade ter deixado morrer milhões, bilhões de pessoas do mundo todo. Foi ato de crueldade a negação do Anheuser de abrir as portas da arca para os ricos poderem se salvar.

Fala sério. Eu sei que filme de ação é uma coisa ilógica atrás de outra coisa ilógica, e que nesses filminhos a metade do grupo original de personagens morre, comido por tubarões ou assassinado por maníacos homicidas, derretido pelo vulcão ou levado pelo tornado... mas este filme passa sobre tudo isso. Técnicamente eles narram a história de um escritor que descobre que o mundo vai acabar e a conspiração e tudo mais. Ele se tinha separado da mulher, que aparentemente está feliz com o marido novo. Mas quando este último é engolido pelos mecanismos de apertura das portas da arca (no ato de caridade de deixar os pobres ricos entrarem as portas se abrem justo quando os pobres se infiltram na arca por baixo), ninguém chora. Ninguém diz: tadinho dele, eu gostava dele. Depois nem parece que ele existiu. E assim acontece com um monte de pessoas. A amante do russo morre, em um inverossímil afogamento (são três compartimentos, os protagonistas ficam no primeiro, ela passa com uma criança. A criança vai para um tercer compartimento, e a russa fica no meio. Depois, a água enche o compartimento dela, estranhamente sem invadir primeiro o dos protagonistas, que é por onde, técnicamente, a água entra).

Além dessas inverossimilitudes, tem a história dos governantes mártires. Como sempre, o presidente dos EUA salva a pátria e fica com seu povo. Isso não é novo. Em todos os filmes o presidente norteamericano é quase um deus da caridade, cheio de coragem e amor pelos pobres (da até para rir). Mas a piada maior é o premier italiano ficar com o seu povo também. Isso sim faz rir mesmo. Se fosse verdade o tal 2012, o primeiro a entrar no barquinho aquele, com tudo e suas empresas, iria ser o Berlusconi. Ah sim, seguro ele vai ficar e morrer. Ele não quer nem admitir que cometeu crimes e enfrentar a justiça italiana! (e tem dois processos contra ele...) Imagina decidir morrer. Nem em sonhos.

Em resumo, este filme, além de distrair o povo com seus efeitos especiais, além de contar-nos a velha história de como os norteamericanos são súper-heróis, além de aproveitar o alarme todo do tal calendário maia, mostra um panorama real da sociedade atual. Não precisa ser 2012. Como já disse, se os ricos se salvam, o resto do mundo pode se danar. Isto é exatamente o que acontece na sociedade. Não somente no sentido de crimes e morte. Mas no sentido de bem-estar, de justiça social. Os ricos, os poderosos, os governantes, quem seja que tenha um pouco de poder, sempre vão procurar primeiro defender os próprios interesses. Esse papo de representantes do povo é uma mentira que a gente prefire engolir para não aceitarmos que somos enganados. Os ricos só querem ser mais ricos. Quem sai adiante na vida muitas vezes, em lugar de lembrar de onde saiu, se coloca na posse de "sou superior". E claro, gente superior primeiro.

Como já disse, aquele ato falso de generosidade é descarado. "Vamos salvar os pobres ricos!" E o geólogo fica como o herói compassivo da história. Ah claro, ele queria salvar o amigo dele... ele queria salvar todo mundo... Na vida real, não há geólogo nenhum. Só o Anheuser, que não se importa nem com a vida da própria mãe.

Não é meu propósito apelar para aquela coisa de "oprimidos" e "opressores". Mesmo dentro do grupo dos oprimidos há opressores, dispostos a ferrar quem estiver um pouco embaixo deles. Só queria falar de um filme que não gostei... mas que mostra na cara (com alguns adoçantes mentirosos) como funcionam as coisas deste mundo. Ricos, pobres... não é o "destino" quem decide. É o interesse de quem tem poder para fazer algo por si mesmo.

Detalhe final: Eles falam que salvaram a humanidade... como se a humanidade se reduzisse a Europa e Norte America! Ninguém falou em Brasil, Colômbia, Haiti... Nenhum africano entrou nas tais arcas... o unico que mostram do Brasil é o Cristo derrubado e o povo morrendo de fome. Mostra do mundo tal qual é. Se o filme não tivesse tido o geólogo legalzinho, seria uma fiel cópia da realidade, porque, claro, o Anheuser ia poder fazer a vontade dele e mandar até os ricos morrer. Como já disse, se tem um pouco de poder, a pessoa vai fazer tudo... para ganhar algo ela mesma.

Velha... Espírita???

Deixando de lado o que está acontecendo no seminário, a terrível situação na qual nos encontramos e da qual todos esperamos sair sem ter que fechar nosso querido centro de estudos, onde tantos temos aprendido a enxergar a vida desde outro ponto de vista, onde conhecemos tantos companheiros, amigos, professores, rituais, paisagens, tem coisas que passam e que, pela situação geral, estão passando despercebidas.

Primeiro, o estatuto. Tanto o estatuto em si, como a forma como está sendo introduzido entre nós, fazendo a gente engolir um monte de regrinhas puritanas da noite pro dia, querendo "moralizar" o pessoal (como se não beber e fumar fosse sinônimo de moralidade, pureza e integridade), estão sendo demais. Em lugar de criar um senso de unidade, em meio à crise que o seminário enfrenta, dá raiva. A solução não é bater nos alunos. A solução não é tratar as pessoas como crianças pequenas.

Se sabe que muitos dizem que o seminário tem má fama. Mas, como disse um professor, se aqui tem pessoas "que agem errado", não é pelo seminário. Não é um "efeito de perdição" exercido pelo seminário. Elas já vem assim de suas casas, suas igrejas. Quando se mete todo mundo num saco e se diz que todos são um bando de safados, que fazem um monte de coisas erradas, se generaliza. Nem todos são assim. Na verdade, em meus três anos de aluna, não vi ninguém fumando, se drogando nem fazendo todas as coisas que as pessoas que nunca vieram na vida dizem que se fazem aqui.

Em lugar de vir impondo coisas, porque não fizeram uma assembléia? Quando foi que os "representantes dos alunos" perguntaram aos alunos o que eles pensavam? Afinal, todos moramos aqui, seja por vontade ou por necessidade (este é o caso mais comum), e todos queremos que o seminário supere a crise, que melhore, que mais alunos venham.

Pode ser que tudo seja feito com a melhor das intenções. Mas vir empurrando um estatuto em cima das pessoas, fazendo-as assinar sob pena de "ser convidadas a deixar a casa", é demais. Não tem nada de moral. Vira ditadura. E para mim a solução não é a ditadura. Não é o fanatismo. Claro, há que estabelecer regras. Mas acho que é melhor fazer isso unidos. Estamos ou não no mesmo barco?

Uma última coisa. Uma coisa que ouvi. No momento, por respeito, e cansaço, o unico que fiz foi ficar olhando pra quem disse isso, quase como se o que ouvi não tivesse sido dito. Mas foi. E foi absurdo. Dizeram-me que no futuro (espero que haja, um futuro), não se usará mais a palavra "velha" para nomear a/o colega de quarto. Não porque é falta de respeito, não porque é uma palavra feia. Não. Uma tradição de mais de 100 anos deve mudar porque quem disse isto pensa que quando dissemos velha estamos invocando espíritos. Espíritos!! Acaso aqui tem alguém que pratica espiritismo? Tem mães de santo entre nós? Eu não compreendo como se pode enxergar uma tradição inocente e engraçada dessa forma. Ah, fala sério! Agora temos que procurar uma palavra "melhorzinha"? Com tudo o que há para ressolver, ainda há tempo para besteiras deste tipo! Repito: Fala sério!

16 de março de 2010

Domanda

Ci sono cose, tante cose che non capisco, che non riesco a vedere come giuste, anche se tutti dicono che è così che deve essere. Dicono che tu devi fare le cose che fanno gli altri. Tanto fuori come dentro della chiesa la cosa è uguale: se fai qualcosa di diverso sei strano, peccatore, oppure hai qualcosa che non va in te. Non che le regole siano delle cose terribili, non che non si deve seguire un modo di condotta che sia morale. Ma ci sono delle piccole cose che mi infastidiscono, non mi sembrano poi tanto cattive. Sarà perché nel mio paese d'origine cose come "il credente" che beve il vino o un cocktail non è niente di male. E dopo sono venuta e mi hanno detto dal nulla che è peccato.
Non dico che tutti quanti dovrebbero ubriacarsi, o che bere sia una meraviglia. Ma la proibizione non insegna auto controllo, soltanto limita il condotta per paura: se sbagli andrai in inferno, sarai in peccato, ecc. Immagino che fuori della chiesa le cose sono al contrario: se non bevi, se non vai a letto con chiunque trovi per strada, allora hai qualcosa che non va. Neanche in questo c'è auto controllo, neanche un pizzico di amore per se stesso. Fai le cose per pressione di gruppo.

E per me questo non va bene. Io devo fare le cose cosciente delle conseguenze. Devo sapere, o per lo meno cercare di sapere se una cosa è buona o cattiva, non perché gli altri mi dicono, ma perché mi farà del male. Non che le regole, come ho già detto, siano cattive. soltanto che bisognano di un spiegazione. Quello di "è cattivo perché si" non va più bene. Per lo meno per me.

E qui arriva la mia domanda. Dicono che se tu hai sbagliato, devi sopportare per sempre le conseguenze del tuo sbaglio. Io non so, non riesco ad accettare che sia così. E' una questione delicata, perché ci sono sbagli in cui i danni non sono subiti soltanto dai protagonisti dello sbaglio, ma anche di quelli che li circondano.

Uno di questi è il divorzio. Dicono che non ti puoi divorziare, in chiesa, se non perché qualcuno ha commesso adulterio. Io non sono d'accordo con questo. Chiaro, non sono neanche d'accordo con quelli che si divorziano perché lui l'ha guardata male o lei non ha fatto bene il cibo. Io credo che il matrimonio sia un compromesso, qualcosa che si fa con la testa e non soltanto con il cuore, un compromesso di dividere l'esistenza con una persona diversa di te, che ha difetti e qualità, che ha certi gusti e manie, e che non cambierà per diventare quello che c'è nell'immaginazione dell'altro. Che questo è uno degli sbagli più comuni di chi si sposa: pensa che potrà cambiare il suo compagno per farlo diventare un principe azzurro. Se si ama una persona, la si ama così com'è.

Ma ci sono situazioni che non so se si possono sopportare per sempre. Diciamo pure che due persone si sono sposati senza pensare. Per una gravidanza, per uscire dalla casa paterna, per tante ragioni... e poi si rendono conto che le cose non vanno bene. Noi siamo, alla fine, esseri umani, e gli esseri umani la maggior parte del tempo sbagliano, sia di proposito o involontariamente. Allora, non dico che non si deve lottare per raggiungere una soluzione. Non dico che alla prima discussione si deve rinunciare al matrimonio. No. Parlo della fine della strada, quando tutto già si è fatto, o quando le persone sono già così stanche di lottare che non ce la facciono più. In queste opportunità, cosa dobbiamo fare, condannare queste persone alla sofferenza eterna perché "il matrimonio non si può finire"?

Così è che nascono le doppie vite. Felicità fuori di casa, facendo finta che tutto sta benissimo. E poi, dentro di casa, l'inferno. Oppure maltratti, parole cattive che feriscono più che un calcio o un pugno in faccia. E se la coppia ha dei figli, e questi sono abbastanza grandi per capire un po' cosa succede, allora l'inferno è più completo. I bambini qualche volta pensano che sia colpa loro. Anche se non fanno così, loro soffrono. Loro vedono la sua casa diventare scenario di guerra ogni volta che qualcuno dei suoi entra nella casa, e l'altro è lì. L'aria diventa pesante. Tutto tace. E il dolore si può quasi toccare in ogni cuore.

Non è più salutare finire le cose in pace? Non è meglio esseri onesti con se stessi? E con i figli? E con gli altri? Prima di fare qualcosa di peggio, che faccia soffrire ancora di più l'altro?

Ma quello che mi porta a scrivere non sono le motivazioni del divorzio. Ognuno con la sua coscienza. Ognuno con il suo amore, il suo egoismo (i matrimoni tante volte finiscono per l'egoismo di uno o dei due...). Ma qui io voglio dire che per me è meglio il divorzio alla sofferenza. Meglio abitare in luoghi diversi, ad abitare una sola casa e fare di questa un tormento diario, fino ad arrivare a non voler tornarci più. Meglio finire con l'ipocrisia che tante volte le persone esigono, chiedono, mettono sulle spalle dei diretti interessati, che alla fine dei conti non hanno niente da rendere conto agli altri.

Non è male chiedere di tentare. Non è male cercare di aiutare, quando la coppia cerca quest'aiuto e da confidenza alle persone (non troppe, fin per carità), e sperare che il matrimonio non finisca. Ma quando una cosa deve finire, deve finire. E le persone esterne alla coppia, esterne alla famiglia, non capiranno mai cosa succede dentro di casa. per questo loro non devono aprir bocca quando le cose finiscono. Non devono venire con l'argomento moralista-religioso che dice che "Dio ha fatto il matrimonio per non finire mai". E' vero. Dio lo ha fatto. Ma l'ha lasciato nelle nostre mani. siamo noi che facciamo la scelta di sposare qualcuno (grazie a Dio, per lo meno in questa parte del mondo). Siamo noi che tante volte non pensiamo, non vogliamo ascoltare consigli. Siamo noi. E ognuno è protagonista della sua storia, ognuno sa cosa fa e cosa pensa e sente. E nessun altro ha il diritto di venire ad imporre niente. "Rimani sposata oppure ti chiediamo di lasciare questo posto". Che assurdità. Eppure occorre.

Ripeto: nessuno ha il diritto di ficcare il naso negli affari degli altri. Nessuno ha il diritto di dire che è peccato divorziare. Nessuno ha il diritto di escludere le persone perché scelgono fare cose che non vanno d'accordo con quello che quel nessuno pensa. Non sono d'accordo con quei moralisti che mettono tutti in scatole: questo è peccatore, questo è giusto (segue tutte le mie regole), questo è divorziato, questa è puttana (non intendo offendere usando questa parola). Non sono d'accordo con la passività davanti alla sofferenza. Mamma mia, se stai soffrendo, fa' pure qualcosa! Ah, ma come dicono che non si può... come dicono che devi soffrire fino alla morte... allora facciamo finta! Non si può. Io non potrei. E non vorrei imporre a qualcuno il peso eterno di dover sopportare una sofferenza eterna.

Cosa c'è di male nel andare contro la corrente? Perché si deve sempre accettare quello che dicono gli altri senza pensare se va bene, senza riflettere si è davvero il meglio per noi? Cosa c'è di male in lottare, e nel stancarsi di lottare? Perché le persone parlano nel generale sempre? Non tutti sono uguali. Anzi, ognuno è un mondo. Cada caso è diverso. Ci sono quelli che divorziano per sport. E ci sono quelli che non sopportano più la tristezza. Non si può giudicare i due ugualmente. (Soprattutto, non si può giudicare). Non si può dire che il divorzio in generale è un crimine. Quando c'è bisogno, c'è bisogno.

Ebbene, il mio post si chiama domanda, ma faccio qui tante domande... non capisco ancora come le persone possono essere così ingiuste con le altre, senza importarsi veramente con loro, soltanto facendo pressione per avere un'apparenza di benessere... ma solo apparenza. E dopo dicono che sono servi del Signore e robe del genere. Già non so a chi credere... Misericordia!

2 de março de 2010

Proibido pensar?

Há muito tempo não escrevo. Há muito quero escrever, mas não sabia o que. E não sabia como escrever o que tinha na cabeça. São esses bloqueios que dão de vez em quando, quando se pensa em muitas coisas e não se consegue lidar com nenhuma. Como que se juntam todas, se misturam dentro da cabeça, e se negam a sair, claras e limpas, uma por uma.

Muitas coisas estão acontecendo, têm acontecido ao meu redor. Muitas mudanças e incertezas rondam minha vida estudantil. Muitas correrias e preocupações, esperanças e mais correrias, meu futuro próximo (muito, muito próximo, faltam só 3 meses!) casamento. Voltei das férias com muitas coisas rondando por ai...

Inconforme com a impossibilidade de ser eu. Não posso ser como sou nem na minha casa. Não posso me expressar (e trato sempre de ser o mais "delicada" possível ao falar do que penso, para "não escandalizar"), não posso ser sincera nem com aqueles que são mais vizinhos a mim. Não que eu me reduza às minhas opiniões teológicas. Só que a teologia é o que eu estudo. Faz parte de mim, do que eu quero ser, do que eu penso e vivo. Não posso me desligar da teologia quando entro na igreja. Não posso deixar meus pensamentos e opiniões na porta da igreja, só porque dentro dela se dizem coisas diferentes ao que penso. Não que os outros não possam pensar do jeito deles. Mas quando me dizem para me expressar, para ensinar-lhes o que tenho aprendido, é tão esquisito ver as caras de "terror", as expressões de "meu Deus a menina pirou", as frases diretas e a censura indireta (mas muito clara, dava para perceber), é tão incompreensível! Acaso não foram eles mesmos que me enviaram a estudar no seminário?

Dizer que "o seminário virou liberal" não é excusa para aqueles que não quiseram ouvir. E que não querem. Mas se não deixam que eu fale, pelo menos me deixem tranquila no meu canto. Mas não. Ainda por cima tenho que ir no psicólogo porque "o seminário me está deixando mal"! O que eu tenho aprendido me é cada vez mais querido. Muitas coisas tenho visto que confirmam o que aprendi, muitas coisas tenho ouvido para fechar os olhos e os ouvidos e voltar para o que era antes, para onde querem que volte. E mesmo que tenha que lutar, com os outros e sobretudo comigo mesma, para achar um equilíbrio, por fino que seja, nestes meus pensamentos confusos, prefiro esta maluquice confusa àquelas certezas pre-fabricadas que um dia me ensinaram como verdade absoluta.

Mas é difícil. É difícil perceber que virei um bicho raro. Difícil perceber que mesmo minha família me olha de ladinho nas pregações do pastor, para ver se "concordo ou não". Como se eu tivesse as respostas. É esse o problema das pessoas: não conseguem viver com as dúvidas. A dúvida é um buraco negro do qual se foge, sendo preferível morar na casinha feliz das coisas que se aprendeu desde sempre, que se repetem sem possibilidade de mudança. Melhor o conhecimento velho que a incerteza nova. E voltando à minha família, é meio complicado ouvir sua mãe dizer que quando Jesus vir você vai ficar, porque "estás morna, querida". Meio complicado mesmo pensar o que responder, pesar dentro de você mesmo as palavras, para não chocar os outros com a incerteza deste evento... eu não sei. Pode que ele venha. Se vir, seja bem-vindo. Se não, temos uma luta longa para tentar salvar este mundo moribundo que é nosso lar. Que se ele acabar não vai ser obra de Deus, mas nossa.

A igreja é um vício. Eu não posso deixá-la. Eu não posso deixar de gostar de cantar, orar, me reunir com meus irmãos para louvar a Deus (que é, para mim, o propósito original dos cultos), e não posso deixar de "ouvir a Palavra". Só que agora não é como antes. Não é tudo "lindo, maravilhoso, glória a Deus irmão!!!". Agora é uma luta. Luta para não reclamar das músicas sem sentido (pedir chuva, chuva, e para que carambas eles querem tanta água? Aquele negócio de que são metáforas não me satisfaz mais). Luta para não criticar a mulher que fica "ministrando" meia hora entre cada canção. Luta, sobretudo, para não encontrar coisas que não concordo nas pregações do pastor, ou de quem seja. Não que, repito, eu tenha as respostas. A minha não é verdade absoluta para os outros. Mas a deles não deve sê-lo para mim. E o problema é que eles querem que eu volte a engolir o que eles dizem como isso, como verdade absoluta. E também não é que todos os pastores sejam uns pregadores horríveis. Mas o que eles ensinam é o que vem sendo ensinado há tanto, mas tanto tempo, que já quase todo mundo sabe isso de cor. Todos os que tenham um bom tempo de igreja, pelo menos.

E não se quer mudar. Mesmo sabendo que algumas coisas não são assim (eles, muitos deles, passaram pela mesma cadeira de seminarista que eu ocupo atualmente), ou que se poderia dar ums perspectiva diferente dos velhos conhecimentos, eles repetem a mesma velha lição. A desculpa deles é o que mais me irrita. Não é porque é vontade de Deus (seria uma explicação cara de pau, mas nem tanto quanto a outra), mas porque "a igreja não está preparada, eles não estão prontos para saber isso". Mas, por acaso, os líderes não estão ai para ensinar? (e cuidar das 'ovelhas', mas isso é outra coisa) Levam tantos anos, ou mesmo poucos, criam igrejas do zero para que? Para seguir com a mesma coisa! Assim as igrejas nunca vão estar prontas. E isso me irrita. É como dizer que eles são inferiores, pobre povo que não entenderia. Ahh, e nós não, nós somos privilegiados. Temos o conhecimento, sabeos mais do que eles e não queremos lhes ensinar.

Por acaso o seminarista estava preparado quando começou a estudar? Que eu saiba, eu não estava. Mas aprendi. E, na medida do possível, fui assimilando as coisas, tentando encaixar as coisas de uma forma coerente para mim. Há muitas coisas que ainda não encaixam. E tudo está bagunçado. Mas pelo menos eu posso pensar, posso pegar os conceitos, ponderar o que me serve e o que posso deixar de lado. É complicado, porque não é conhecimento humano. Ou é, mas é mais do que isso. Porque mexe com a fé, com aquilo que é Deus, o grande mistério da nossa vida. Não é algo como matemática. Eu uso a matemática, mas ela não me define. A fé define. E é complicado mexer. Mas, para mim, é necessário. Para mim foi bom perceber outras realidades, ver outras caras na velha moeda. Pode ser que não todos possam fazer isso. Mas deveriam lhes dar a oportunidade de tentar.

E então fui silenciada aos poucos. Cada dia se fez mais difícil saber o que falar, o que deixar guardado dentro de mim. E se fez mais difícil saber quem era eu. Eu já não sou o que era quando estava naquela igreja, quando morava com minha família. Eu não era o que sou, não pensava, criticava nem questionava nem a metade do que faço hoje. Estou tentando encontrar um equilibrio, porque acho que a crítica extrema me fecha às possibilidades. Mas não estou conseguindo muito. A crítica vem quase que automática. E o que penso... só Deus para me entender. Tenho tantas perguntas, tantos pontos vazios e peças do quebra-cabeça que não encaixam no lugar, e que muitas vezes nem têm lugar nele... Isto é doloroso. É complicado. É desanimador. Muitas vezes me perguntei se estou errada. Se ofendi a Deus com isso. Se estou sendo, como disse minha mãe, uma incrédula. Mas não posso voltar ao que era. Seja porque, como disse meu professor, a inocência se perdeu. Seja porque os eventos da minha vida e os que acontecem ao meu redor me confirmam que muitas coisas que nos vendem como brancas são na verdade marrom, cinza podre, verde venenoso. Talvez seja uma mistura de tudo.

Só sei que há mais coisas no fundo do que se mostra a primeira vista. E sei que muitas coisas não entendo, muitas coisas eu não sei. Algumas dessas coisas que não sei não me parecem fundamentais para a vida. Como se a existência de Adão e Eva fosse definir quem eu sou! E cada vez que vejo as confusões, as brigas e as condenações que se fazem fundamentadas em negócios desse tipo, vou andando com um pé atrás. Se algum dia eu vou entender tudo? Duvido muito. Só espero entender o fundamental para viver sem enlouquecer. E mesmo que esteja condenada a ir contra a corrente, condenada a viver procurando uma resposta às dúvidas (que no presente me parecem eternas, para sempre sem resposta), prefiro isso. É melhor ser, como minha mamãe disse, racional, analisar as coisas (e ela disse isso em sentido negativo: deixa de ser assim), tratar de entender um pouquinho de todas as loucuras que se encontram neste mundo. Tentar, só. Que esteja certa, isso já é outra história. Só Deus sabe...