10 de novembro de 2010

De Ovelhas e Costumes

Sábado passado assisti ao vídeo de uma pregação sobre família e casamento. Algumas coisas do que ele falou eu gostei, outras não. Nem concordei com tudo o que ele falou. Mas o que me fez pensar foi um fato que achei muito engraçado. Por cada coisa que ele falava, dizia: "Digam amém!" E o pessoal da igreja, unânime, respondia: amém!. Tudo eram améns e aleluias. O que o pastor dizia era acatado na hora. 
Eu não sei se todo mundo falava amém quando era pedido para fazê-lo. Só sei que me fez pensar que na igreja as pessoas tomam mesmo atitude de ovelhas. Pouco importava se o que o pastor estava falando não tinha graça, era ofensivo ou generalizado. As pessoas riam, achavam legal e totalmente verdadeiro. Claro, e tudo era amém. "A mulher tem mentalidade de Barbie. Amém, irmãos!""Amém!!". E percebi que disfarçar a mensagem de palavra de Deus é algo muito, muito perigoso. Faz as pessoas deixar de pensar. Vão atrás do pastor como ovelhinhas, sem parar para pensar se é o não verdade, se é ou não relevante, se é ou não edificante para a vida de cada um. Estamos tão acostumados a entrar na igreja e achar que tudo é Deus, que esquecemos que quem prega a palavra é um ser humano, que, sim, acreditamos esteja sendo usado por Deus, mas que tem suas ideologias, costumes e até preconceitos, todo o qual se evidencia nas suas mensagens.
Não quero aqui falar contra os pastores e a pregação. Que tem pastores safados por ai, tem, assim como tem pastores maravilhosos que vivem suas vidas na certeza de que querem cumprir a vontade de Deus. Aqui não quero falar dos pastores. Quero falar das ovelhas.
Ovelha é um bicho burro, que deve ser guiado em tudo, alimentado, cuidado, que não sabe se virar sozinho. Desde que eu soube como eram as ovelhas me incomodou a comum comparação entre os fiéis e as ovelhas. Mas assistindo esse vídeo percebi como é perfeita a comparação. 
O nosso costume na igreja é ser ovelhas. Deixamos de pensar, de questionar, de analisar. A Bíblia é um livro ao alcance de todos, segundo Lutero, mas ainda achamos que a unica chave de interpretação certa é a do pastor. O que o pastor fala, portanto, deve ser verdade. E ai, mesmo que o pastor tenha falado algo muito questionável, todo mundo grita glórias, aleluias e améns. E a ovelha segue ai, querendo ser levada pelo cabresto, sem parar para pensar no que ouviu.
A igreja deveria ser comparada às ovelhas no sentido do cuidado de Jesus por nós. Era o sentido em que os reis do Antigo Testamento falavam. Tecnicamente eles eram os pastores que cuidavam das ovelhas-povo. Que afinal, não foram pastores e não cuidaram nada mesmo, explorando o povo cada um à sua maneira. E claro, às vezes em nome de Deus (por isso não gosto de Ezequias e sua reforma "justa"). Aliás, a igreja não deveria ser comparada às ovelhas. Elas são bichos estúpidos, enquanto o ser humano que faz parte da igreja tem um cérebro dentro do crânio. As pessoas da igreja deveriam parar para pensar, refletir, questionar. o pastor não é Deus. Sua palavra não é infalível. E não é coisa de sair agora questionando tudo. É simplesmente não ouvir automaticamente, é pensar no que está sendo dito. Assim até a mensagem se aproveita mais, pois prestamos atenção no que está sendo falado. Questionar, se perguntar se é assim mesmo. Na Bíblia há um exemplo disto, os tais bereanos. Eles questionaram Paulo e foram ver o que ele tinha dito na sua Bíblia. Que eles são elogiados porque gostaram do que Paulo falou, e o que teria acontecido se não tivessem concordado, é assunto para outra ocasião. O importante é que eles não aceitaram de primeira o que ele tinha falado. Eles pesquisaram sobre o assunto.
A gente fala de estudar a Bíblia, fala que cada um é sacerdote e tudo o mais. Mas, na prática, a gente repete nos estudos o que aprendeu na doutrinação inicial, a Bíblia é lida com o olhar que é indicado pelo líder. Não paramos para pensar, para refletir sobre o que estamos lendo. Não paramos para ver que em Gênesis não há como estar Jesus, nem para ver que o serpente do jardim não tem inveja de Eva (o texto não menciona tal coisa, que foi invenção de Irineu...), e muito menos se fala no texto que Eva estava merodeando sempre a árvore ou que estava só. A gente vê com olhos de ovelha, e o que o pastor falou é a unica interpretação válida. E assim, a gente se acostuma a não pensar, a gente se acostuma ao automático, e as igrejas se enchem de ovelhas que falam amém a qualquer coisa que seja dita desde um púlpito. E eu não concordo com isso!