31 de julho de 2011

Ocidente vs. Oriente...?

Eu sei que estou um pouco atrasada para falar sobre o massacre que aconteceu na Noruega, mas também sei que tenho que falar disso. Porque é um absurdo, e um absurdo de proporções gigantescas.
Depois de saber da notícia, e ficar espantada, como sempre, pela loucura e a maldade a que podem chegar alguns, fiquei indignada com uma notícia que vi no jornal alguns dias depois. No jornal falaram que na Europa, em alguns países e em partidos de extrema direita, políticos tinham falado em favor do norueguês assassino e das suas ideias. Um dos políticos italianos seguidores de Berlusconi chegou a dizer que as ideias do norueguês eram magnificas, enquanto outro dizia que por fim alguém se levantava para defender o Ocidente. Achei absurdo. E achei ainda mais absurdo que ninguém na Itália se indignou com estas afirmações, nem afastaram o político do cargo, como fizeram com um que na França disse coisas semelhantes.
Como é possível que as pessoas ainda tenham esse pensamento medieval? Como é possível que pessoas que se dizem "cristãs" defendam a posição desse assassino que se escudou em desculpas ridículas, racistas e anti-humanitárias para assassinar seus compatriotas? Como disse Osvaldo, esta vez foi um louro, um europeu puro sangue quem cometeu os atos terroristas que os "ocidentais" amam imputar aos morenos muçulmanos. Até quando vamos ver o mundo através da cor da pele, através dos credos pessoais, da geografia? Até quando a divisão artificial entre "Ocidente" e "Oriente"? Não somos todos cidadãos do mesmo mundo? As mudanças climáticas não afetam todo mundo? Não sentimos igual, pensamos, vivemos, sonhamos igual?
Essa declaração do norueguês miserável e assassino, aplaudida por alguns babacas europeus, nos coloca num perigo muito real: o de volver atrás, ao tempo da Idade Média, onde se matavam judeus por "terem matado Jesus" e onde se perseguia muçulmanos por serem dessa religião. Agora devemos adicionar os imigrantes, aqueles corajosos que deixam sua terra e tudo o que conhecem para enfrentar o desconhecido, em busca de uma vida melhor. Não é direito de todos procurar uma vida melhor? Os mesmos europeus, os mesmos italianos emigraram um dia a outros países, procurando um melhor futuro. Se Europa não reclamou, se Itália não reclamou contra o que seus políticos disseram, o que podemos esperar do futuro? Paz não, com certeza. E os atos sangrentos do norueguês, que foram rejeitados pelo mundo inteiro, se encontrarem eco em alguns poucos, políticos ou não, poderão ser repetidos?
Eu não entendo porque as pessoas são tão intolerantes. Porque, depois de tantos discursos de igualdade, liberdade e fraternidade, ainda não se aprendeu a viver como seres humanos, sem divisão de classes, de raças, de credos. Europa se orgulha de sua fraternidade, o lema dos franceses é justamente "liberdade, igualdade, fraternidade". Mas até onde chega tanta democracia? Até onde os "defensores da liberdade", como os europeus e os americanos amam chamar a si mesmos, vão para defender esses princípios? Se seguem, se seguimos encarando o mundo como Ocidente e Oriente, como se o globo estivesse dividido no meio com uma linha, se não encaramos os outros como sendo iguais a nós mesmos, ainda que sejam muçulmanos, ainda que sejam imigrantes, a dor ainda vai continuar, porque haverá sempre loucos como o norueguês, achando-se donos da verdade e da vida dos outros, sem escrúpulos para causar dor e derramar sangue. Contra Osama se realizou uma operação guerreira, até vê-lo morto. Com o louro e europeu norueguês, se escutaram vozes de consentimento, mesmo que poucas, com seus "ideais ótimos". Definitivamente o ser humano é uma maravilha...


P.S. Pensando bem, e tendo em conta que a Terra é redonda, podemos dizer que nós estamos ao Oriente deles...

11 de julho de 2011

Sincretismo e a Liberdade em Deus

Sábado passado assisti a um filme (Santo Forte) que falava das diversas religiões que existem no Brasil. Pessoas de diversas religiões eram entrevistadas, contando suas experiências e seus costumes nas respectivas religiões. Uma das coisas que achei interessante é que a maioria das pessoas entrevistadas fazia parte da religião católica e mais alguma coisa. Uma era católica e umbandista. Outro era católico, batizou a filha no candomblé (com água benta conseguida em uma igreja católica; o padre gostou de saber que a filha dele já tinha sido batizada no catolicismo) e pediu à mãe dele para orar por ele na Universal quando estava doente. Uma outra se declarava ateia, mas acreditava nos espíritos da vizinha (que era umbandista) e até pedia favores para eles.
O que mais me chocou foram os relatos que as diferentes pessoas envolvidas na umbanda faziam. Uma moça, que deixou de praticar a sua religião mas que não se "converteu" a nenhuma outra, contava que quando ia ao seu terreiro e tinha feito algo de errado, o preto velho dava uma "paulada" nela: montava nela, como se fosse um cavalo, e batia nela. A moça sentia dor como de pauladas, e saia do terreiro com dor de cabeça e o corpo doendo, apesar de não apresentar feridas visíveis. Também na própria casa, se ela falava alguma coisa indevida, o seu preto velho a castigava, fazendo-a voar de um cômodo ao outro da casa. Outro relato foi o de uma senhora, já anciã, que contou como perdeu a irmã. Esta última bebia a oferenda de cerveja que tinham feito à pomba-gira chamada "Rainha do Inferno", pelo qual a pomba-gira um dia montou nela e disse para sua irmã que a ia levar. A senhora contava como rogou à pomba-gira para não levar sua irmã, que tinha um filho pequeno, mas a pomba-gira não ouviu. A anciã falou para sua irmã comprar a própria cerveja, mas ela não quis, e um dia, estando no banco para receber um dinheiro, morreu. A senhora ainda contou que estando frente ao caixão da sua irmã, a pomba-gira apareceu e riu, dizendo: "Levei ou não levei?". 
A moça do primeiro relato afirmou que estas entidades não são más em si mesmas, mas que são as pessoas que pedem para elas fazerem o mal aos outros. Porém, o interessante é que elas são compradas, não tem vínculos de fidelidade: Quem pagar mais recebe o favor da entidade. Ao ver e ouvir tudo isso, eu ficava pensando como é possível que as pessoas continuem servindo a deuses que os castigam, que fazem favores a quem dá mais. São literalmente escravos. A senhora anciã chegou até a falar que por uma parte é feliz, mas que por outra não é, e nunca vai ser. Não especificou o porque, mas se via a aflição e o temor no seu rosto. Eu só podia pensar na liberdade que temos em Jesus, no amor que ele nos da, na paz que temos com ele. E não entendi, aliás, não entendo, como as pessoas podem continuar envolvidas nisso.
Um outro relato me deu foi vergonha. Um homem, envolvido na umbanda também, falou dos evangélicos, afirmando que ele como umbandista não ousa mencionar o diabo, e que não entende como os evangélicos, sobretudo da Universal, passam o tempo todo chamando o diabo. Para ele isso é querer ter o capeta por perto. Outro disse que os pastores ficam fazendo palhaçada, e quando as pessoas estão doentes chegam querendo expulsar demônios e gritando, fazendo muito barulho. Ele não gostava desse espetáculo, e por isso preferia ficar com a sua religião, novamente católico misturado com religiões afro-brasileiras. E fiquei pensando nas oportunidades que a gente perde de mostrar a essas pessoas a verdadeira mensagem do Evangelho. Agora estou lembrando de uma passagem em Atos, quando Paulo encontrou uma menina que adivinhava o futuro. Ele simplesmente chegou e a libertou em nome de Jesus. No texto não fala de gritos, barulhos ou objetos milagrosos. Não imagino a Paulo com copos de água ou sabões abençoados.
A mensagem do Evangelho é tão simples e tão libertadora! O nosso Deus é poderoso, e nos ama! E há tantas pessoas que não o conhecem, que até usam o seu nome, já que o Brasil é um pais altamente sincretista, onde, como uma mulher no filme falou, "qualquer coisa está bom, tudo dá no mesmo", onde se fala de Jesus e de Exú, onde os santos tem dois nomes, onde as pessoas assistem a missa de manhã e vão cultuar seus deuses nos terreiros à noite, onde quem vai à Universal pode muito bem "orar alguém". Deus está virando um nome, algo para juntar a muitos outros nomes e tradições. E a mensagem de Jesus se perde muitas vezes na nossa própria ignorância, na vontade de alguns de aparecer, nos ritos inúteis de pastores que usam o nome de Deus para fazer shows que nos ridicularizam, que ridicularizam o nome de Deus. Quantas vezes vi pastores expulsando demônios com paletós na televisão, querendo curar pessoas com copos de água! Só não tinha visto como isso afasta as pessoas de Jesus. Uma pessoa como o senhor do filme, para quem os cristãos são palhaços, como vai querer prestar atenção na mensagem que temos a comunicar?
Há muitas pessoas que não conhecem de Deus. E nós temos uma missão. Muitos há escravos das suas entidades, à mercê das vontades destas. Há muito a fazer. E nós, como cristãos, sabendo que temos um Deus que nos ama e que nos liberta, temos que rever a forma como estamos vivendo o nosso cristianismo. Cristianismo no Brasil muitas vezes é sinônimo de intolerância, de preconceito, de barulho, de ridículo. E enquanto se perde o tempo pregando uma mensagem que nada tem a ver com Jesus Cristo, discutindo se devemos ou não cortar o cabelo, beber, dançar, usar shortinho, expulsando demônios depois de té-los invocado, abençoando sabonetes e mandando ao inferno todo mundo, há pessoas que estão presas a suas entidades, escravas, ou simplesmente sem esperança, sem saber o que fazer com a própria vida, sem rumo e sem amor. Quando estava vendo o filme veio na minha cabeça a passagem de 1 João 4,18: "No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor." Deus é amor. Nele não existe medo. Há muitos que vivem no medo. E nós, que conhecemos Deus e o seu amor, o que estamos fazendo para que as pessoas o conheçam também? 

8 de julho de 2011

Tudo o que foi será

A cada novo desastre que acontece, as pessoas estão ficando mais paranóicas. Se fala de fim de mundo, de aumento da maldade, de decadência da sociedade, de castigo pelas culpas. E o Deus que se descreve muitas vezes parece um carrasco interessado em destruir a vida daqueles que "não o seguem". Se o Japão sofreu um tsunami e terremotos, algo de mau eles fizeram. Se Haití foi destruído pelo terremoto do ano passado, a culpa foi deles por fazer bruxarias. Se fala que o mundo nunca esteve tão mal, que nunca tantas pessoas morreram, que os sinais do iminente fim do mundo estão por todas partes.
Só que analisando um pouco a história, ou mesmo simplesmente parando para pensar, se percebe que ao longo de tantos milênios de história humana sempre houve catástrofes, sempre houve guerras, mortes e doenças. E no passado, assim como hoje, houve sociedades que surgiram e foram embora, e pessoas que achavam que a sua sociedade era a última, que não dava mais para aguentar tanta maldade, que o fim do mundo já estava chegando. Mesmo os primeiros cristãos achavam que Jesus voltaria logo, até Paulo mesmo escreveu ao respeito, e muitos deixavam suas posses e vendiam tudo esperando o fim do mundo. Opressão, injustiça e desigualdade faziam parte do mundo desde as primeiras sociedades. Até os europeus, que se acham o modelo de igualdade, já tiveram pessoas morrendo de fome e exploradas enchendo suas cidades.
 Cada época teve sua própria maldade, seu próprio sofrimento. Isso me faz pensar em Eclesiastes, onde diz que não há nada de novo debaixo do sol: "O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol. Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Não! Já foi nos séculos que foram antes de nós." (Eclesiastes 1, 9-10). Se se lê o texto no sentido literal, ele nos diz que o que foi será, tudo é cíclico. Eu gosto muito do livro de Eclesiastes, e acho interessante que ninguém pára para pensar no sentido destas palavras. Será que é melhor anunciar desastres apocalípticos? Claro, como cada coisa que acontece no mundo é sinal de fim de mundo, melhor fiquemos parados, atentos para identificar direitinho os sinais!
Para mim a sociedade atual é simplesmente sociedade, composta por seres humanos falhos. Como tal, sempre haverá coisas absurdas acontecendo. O ser humano não é tudo bonzinho. Muitos gostam de poder, muitos usam de violência. Isso sempre foi assim. Se queremos mudar alguma coisa, é melhor parar de esperar o fim do mundo e começar a fazer algo. Se uma catástrofe natural acontece, é melhor ajudar quem sofreu, em lugar de procurar causas sobrenaturais no acontecimento. A terra é muito frágil, o aumento da temperatura global tem consequências. E tudo está acontecendo pela ação do homem. Deus não tem que ser carregado com as culpas humanas. Ele não é criança mimada, que fica chateada com alguém e manda a tormenta para castigá-lo. E também, se existem guerras é porque uns poucos gostam do poder, de ter nas mãos a vida e a morte de outros. Se existe injustiça, é porque em muitos lugares há corrupção. Se há fome, é pela indiferença de muitos, o abuso do poder de outros, o acumulo de riquezas de uns quantos. A sociedade é falível, aliás, até agora, depois de mais de 2000 anos de história, nunca houve uma sociedade perfeita. Achar que o fim de mundo está perto por isso não quer dizer nada.
É claro que o mundo algum dia há de acabar. Os cientistas dizem que um dia o sol vai morrer, como todas as estrelas do universo fazem. Além do mais se a gente não fazer algo para encontrar medidas sustentáveis para nossa pobre Terra destruída, se não cuidamos o lar que Deus nos deu, aí é que o fim vai chegar rapidinho. Por isso temos que deixar de procurar causas apocalípticas em cada coisa que acontece, e começar a nos preocupar em melhorar nosso próprio presente, e nosso futuro.   

5 de julho de 2011

Em Nome de Deus

Em nome de Deus já se fizeram muitas coisas. Se condenaram pagãos, se rebelaram camponeses, se invadiram países e se massacraram povos. "Deus" tem sido usado para justificar muitas ações, que no fundo tinham como base mesmo era a ambição de alguns, o desejo de poder de poucos. 
A história mostra muitas abominações feitas em nome de Deus. Os índios foram mortos e os negros escravizados em nome de Deus, e depois mortos e torturados por grupos de "cristãos" como o Klu Klux Klan. Durante as reformas protestantes, Lutero e muitos outros mataram em nome de Deus, e os camponeses, os anabatistas e muitos outros grupos que se atreveram a pensar por si mesmos foram condenados por ir "em contra de Deus". E também se levantaram "profetas" que em nome de Deus proclamavam o fim do mundo e que realizaram loucuras como os acontecimentos de Munzter (cf. Jan de Leiden). As cruzadas massacraram os povos árabes em nome de Deus. Na época vitoriana era mais fácil mandar as prostitutas para o inferno do que mudar as injustiças e a hipocrisia da sociedade.
Muitas vezes o nome de Deus se usou para submeter vontades, para justificar injustiças, para manipular massas. Até os dias de hoje se ouvem muitos absurdos pronunciados em nome de Deus. Milagres, promessas, o nome de Deus se usa para vender benefícios e para comprar fidelidades. "Deus" é usado para justificar doutrinas contrárias umas às outras, para amaldiçoar pecadores e para curvar pessoas a determinadas regras. Uns dizem que Deus não aceita tatuagens, outros dizem que Deus não gosta de quem bebe, alguns dizem que Deus está à disposição de quem quiser um milagre, outros condenam quem não segue direitinho o manual de "seguidores de Deus". Deus até autorizou a invasão do Iraque (O Bush achava que estava servindo a Deus, ou pelo menos isso disse...)!
 Me pergunto o que Deus pensa de todo esse mal uso do seu nome... e o pior é que foram ações humanas as que usaram o nome de Deus para encobrir-se ou justificar-se, mas as pessoas muitas vezes não querem ouvir falar de Deus por culpa de todo o mal que já foi feito em seu nome!