14 de dezembro de 2009

A Mulher Invisível, o mundo invisível

A mulher invisível é um filme brasileiro de comédia. É engraçado. E faz pensar. A trama do filme mostra um homem abandonado pela mulher que, depois de um tempo de luto, se encontra com uma mulher atraente, perfeita para ele, tão perfeita... e só ele a ve. Enquanto isso, a sua vizinha, uma mulher casada com um homem que a faz infeliz, sonha com o homem que vive no apartamento ao lado.
O que me chamou a atenção neste filme é que aqui não há só uma mulher invisível. Ou melhor, a cabe se perguntar qual mulher é a invisível. Porque neste filme há duas mulheres. E as duas são invisíveis. Uma é invisível para todo mundo. A outra é invisível para a pessoa que ela ama. A mulher invisível vista pelo protagonista representa tudo o que ele sempre quis. É uma projeção dele mesmo, um sonho, o desejo de não estar sozinho que faz com que este homem "fique louco" e invente uma coisa que não existe. Aqui se trata do homem que "ve só aquilo que quer ver". E muitos somos assim, muitas vezes, em determinadas situações. É mais fácil, afinal, levar a vida do modo que nos interessa, ver só as coisas agradáveis, ver o mundo do nosso jeito. Assim ele machuca menos. E podemos criar uma bolha na qual viver, isolados dos problemas dos outros, dos problemas do mundo. É o nosso mundo. É a nossa realidade. Mesmo que seja um sonho.

Por outro lado, está uma mulher de verdade. Todos sabem que ela existe, até o melhor amigo do protagonista se apaixona por ela. Mas quem ela ama, por quem ela se interessa, não percebe sua existência. Para ele, ela é literalmente invisível. No filme vemos que o seu marido a trata como uma coisa sem importância. Ela não tem direito a sonhar. Quando ele morre, ela fica livre. Mas tem medo. E quando se avizinha daquele por quem suspirou tanto tempo, ele confunde a sua realidade (já havendo passado pelo choque de reconhecer que a sua perfeita mulher não existe) com a realidade do mundo, na qual vive esta outra mulher. E pensa que ela é irreal. Afinal, ele estava tão concentrado no seu mundo que nunca reparou nela no elevador, na entrada do edifício, no seu próprio andar. E ela não fazia nada, também, para ser reconhecida. Se achava tão pouca coisa... isso acontece quando ouvimos ou somos tratados assim por muito tempo. Ou mesmo por pouco. Se a pessoa com quem moro me acha pouca coisa, com o tempo eu vou aceitar que deve ser verdade (sobretudo se se tem tendência à baixa auto-estima).

Bom, no final o protagonista reconhece a existência da mulher de verdade. Reconhece o seu valor. Sai do seu mundo (ou não, o filme mostra o homem indo atrás da mulher real junto com a mulher invisível) e mergulha no mundo real para procurar esta mulher que, mesmo sendo real, para ele foi invisível tanto tempo.

Muitas vezes, como já disse, nós passamos a vida enfiados no nosso mundinho. Pode ser o trabalho que nos absorve a vida, podem ser os nossos problemas. Podemos ser tão loucos para criar-nos pessoas invisíveis (em caso extremo, ou não? para pensar...) ou para inventar-nos problemas invisíveis. Mas geralmente nos basta com ver só aquilo que queremos. Porém, há um mundo lá fora, um mundo no qual vivemos. Um mundo que tem muito a oferecer, experiências novas, realidades novas. E também um mundo que precisa de nós. Se ficamos enfiados na nossa bolha de sabão, escapando da realidade, não vamos fazer nada de relevante. Não vamos cumprir nossa missão que, para mim, é ajudar a fazer deste um mundo melhor. Para o nosso próximo. Para os nossos vizinhos, os outros seres que habitam este grande mundo.

Como não poderia deixar de fazer alusão, é importante que nós, como "igreja", não esqueçamos que nosso lugar não é dentro de quatro paredes, cantando e ouvindo pregações todo domingo, terça, quarta, ou quinta. O nosso lugar é fora, nas ruas, nos lugares onde há miséria. A nossa bolha de sabão, nossa realidade irreal deve ser deixada de lado, devemos procurar a realidade, mesmo com todas as dores, com todas as mágoas, mas com todas as satisfações, com todas as alegrias que possa trazer. Jesus veio ao mundo a salvar este mundo, a sarar os feridos, amar os esquecidos. Sua igreja deve seguir seu exemplo. Devemos deixar de enxergar só aquilo que nos interessa (geralmente os pecados alheios) e passar a ver o que devemos ver. O que é real.

Quando o homem do filme percebeu seu erro, e toda a bagunça que fez, e a dor que causou à mulher real, optou primeiro pela saída fácil: voltar à mulher invisível. Algo que todos, em algúm momento da nossa vida, fazemos. É quase uma coisa instintiva, no ser humano, procurar a saída mais simples. Mas geralmente o melhor a se fazer é também o mais difícil.

Este filme, com todas as situações engraçadas, faz pensar. Mostra os dois lados da moeda, as duas invisivilidades do mundo. Por isso é um filme interessante.

12 de dezembro de 2009

Ahhhh Hipocrisia...

CALA A BOCA SEU BABACA!!! SÓ FAZ CRITICAR A CASA E SEUS PROFESSORES. AGORA VEM COM ESSE DISCURSO QUE AMA O SEMINARIO. O QUE VOCE TEM FEITO PRA AJUDAR O SUL? R: NADA!!! ENTAO AO INVÉS DE FOMENTAR DEBATES QUE NAO LEVAR AO A LUGAR NENHUM, PROCURE USAR TODO SEU "CONHECIMENTO'' PRA FAZER ALGUMA COISA. SE JUNTE AOS QUE ORAM E BUSCAM REALMENTE UM MEIO DE SALVAR UMA CASA QUE ESTA ATOLADA NUM MAR DE LAMA E DIVIDAS.

Este e-mail, recebido por um amigo de um remetente anônimo, é absurdo. Como é possível alguém que diz que "ora" (ai que coisa linda!) chamar um seu irmão em Cristo de BABACA? Como é possível que alguém que se diz ser vo do Senhor escreva um absurdo destes? Agora quem está inconforme com certas situações que estão acontecendo no seminário onde moramos e estudamos não pode falar! Não pode protestar! Já são poucos (quase ninguém) os que se atrevem a falar em voz alta suas opiniões, dúvidas e reclamações. E quem o faz recebe cartas ANÔNIMAS, ameaças e insultos! Que beleza, e isto por parte de quem se proclama defensor do seminário, crente fervoroso que "ora" e busca uma solução para o seminário... só que puxando o saco não se soluciona nada!

Ahhh hipocrisia, temos que estar dentro do molde, senão somos apontados como os ruins, os que não fazem nada por ajudar... claro, a gente tem que baixar a cabeça e morrer de medo e calar ante as injustiças às quais somos sometidos... e ainda tem gente que fala que estão fazendo tudo pelo bem de quem mora-estuda no seminário! É absurdo! É hipocrisia se dizer cristão e escrever uma coisa dessas. É hipocrisia pôr a máscara de santo, de crente, e ameaçar o próximo! É hipocrisia, é antiético, é totalmente ridículo que alguém queira calar a quem tem todo o direito de opinar, de expôr seus pensamentos!

Até onde chegarão estes "cristãos" que "oram" (da mesma forma que os fariseus oravam)? Até onde irá o seminário se ninguém se levanta para protestar? Ai de nós! Quando deixaremos o medo? Quando de verdade agiremos para procurar melhorar o nosso lugar de estudo e moradia, sem pensar nos interesses da instituição somente? E nós? Não temos voz? Não temos opinião?



11 de dezembro de 2009

Día de Censo en Belén

José y María llegaron a Belén al mediodía. El emperador César Augusto había dispuesto que se empadronasen los habitantes de las colonias romanas, y miles de ciudadanos volvieron a su villa de origen para hacerlo. La familia de José, oriunda de Belén, era la misma de David, el mítico rey bíblico, aunque su rama habíase venido bastante a menos. La necesidad lo obligó a emigrar a Nazaret, a muchas leguas de Belén, y él y su mujer tuvieron que recorrer a pie el largo camino de regreso. Estaban fundidos. El viaje había resultado particularmente duro para María, embarazada de su primogénito.
Buscaron alojamiento en una posada, pero eran caras y estaban repletas. Al final se acomodaron en una pesebrera habitada solo por una mula y un buey. Empezaban a descansar cuando apareció un eficiente empadronador del Departamento de Estadísticas que, al saber de los dos inquilinos del establo, acudió a cumplir con su deber e incorporarlos al censo.
Tras indagar por nombres y edades, sondeó el estatus económico de la pareja.
- ¿Profesión del varón?
- Carpintero -respo
ndió José.
- ¿Profesión de la mujer?
- Hogar -respondió María.
- ¿Ingresos mensuales?
- A veces poco y a veces nada -respondieron en coro.
- ¿Casa propia?
- No, pieza de alquiler.
- ¿Aljibe en casa?
- No, tinaja prestada.
- ¿Animales domésticos de su propiedad?
- Ninguno.
- ¿Trajes?
- Las dos túnicas que llevamos puestas.
El censista, conmovido, anotó "Estrato 1" y formuló la última pregunta:
- ¿Nombre de los antecesores del jefe de familia? Supongo -agregó-: que serán desconocidos, con lo cual escribiré N. N.
- Eso sí que no -protestó indignado José-. Sepa usted que soy pobre, pero de muy buena familia, pariente del rey David, y que entre mis antecesores no hay ningún N.N. Ya que lo preguntó, anote con buena letra.
Y empezó a dictar al sorprendido encuestador:
-Abraham engendró a Isaac; Isaac engendró a Jacob; Jacob a Judá, Judá a Fares, Fares a Esrom, Esrom a Aram, Aram a Aminabad, Aminabad a Naasón...
- Perdone: ¿ese Naasón lleva tilde? -interrumpió el funcionario.
- Sí, por tratarse de palabra aguda terminada en ene -respondió José, y prosiguió imperturbable -: Naasón engendró a Salmón (no confundir con Salomón, por favor), Salmón a Booz, Booz a Obed, este a Jesé y Jesé al rey David.
- Muchas gracias -dijo el empadronador aliviando el brazo.
- No, no, la cosa sigue: David engendró a Salomón, Salomón a Roboam, este a Abías, Abías a Asa, Asa a Josafat, Josafat a Joram...
- Mijo -lo detuvo María¿: voy a recostarme porque me siento como mareada.
- Anda -dijo José, y continuó-: Joram engendró a Ozías, Ozías a Joatam, Joatam a Ajaz, Ajaz a Ezequías, este a Manasés, Manasés a Amón, Amón a Josías y Josías a Jeconías y sus hermanos... ¿recuerda la historia del cautiverio en Babilonia?
La noche caía sobre el portal de Belén y José seguía dictando.
- Creo que sí -comentó el agobiado funcionario, que ya había llenado seis papiros proforma con los antepasados de José.
- Bueno, pues Jeconías engendró a Salatiel, Salatiel a Zorobabel, este a Abiud, Abiud a Eliaciam, que engendró a Azor...
- ¿Con zeta?
- Sí; los Asor con ese son una familia distintísima. Le decía que Azor engendró a Sadoc, Sadoc a Aquim, Aquim a Ekiud, Ekiud a Eleazar...
En ese momento una luz celestial iluminó el pesebre y flotaron cantos angelicales. José se vio obligado a gritar para que lo escuchara el agotado censista:
- Eleazar engendró a Matán, Matán, que era mi abuelito, engendró a Jacob, y Jacob, que era mi papá, me engendró a mí...
Se oyó entonces el llanto de un recién nacido y, desde el fondo del establo, agregó la voz dulce de María:
- ¡Y José acaba de engendrar a Jesús...!
El funcionario largó mamotreto y lápiz y cayó de rodillas, maravillado.
Por Daniel Samper Pizano
* Daniel Samper Pizano es un muy conocido y buen humorista colombiano

10 de dezembro de 2009

13 de novembro de 2009

Heranças medieváis na Igreja

A Idade Média acabou há muito tempo. Isto é o que pensamos, o que dizemos. Quando pensamos em Idade Média imaginamos um mundo escuro, cheio de pessoas ignorantes, supersticiosas, um mundo onde as leis eram ditadas pela Igreja Católica, e o mundo era "cristão", porque o mundo era Europa.
Em muitos aspectos a Idade Média acabou de verdade. Mas dentro das nossas igrejas insistimos em conservar muitas coisas que desde esta época aprisionam o ser humano, fazendo-o ser, literalmente, uma "ovelha", na mão do seu pastor. Algumas são tão ridículas que se as pessoas parassem para pensar um pouco se revoltariam. Mas geralmente todo mundo se submete. Afinal, é da vontade de Deus que as coisas sejam desta maneira. E aqui é onde começam as heranças medieváis:
1. Qualquer regra de conduta é legitimada na vontade de Deus. Isto era feito pela Igreja Católica na Idade Média, e continua sendo feito por cada pastor em cada igreja. Eu tenho que ler a Bíblia porque é vontade de Deus. Eu não posso ir dançar porque Deus não gosta disso. Assim, além das pessoas ser alienadas e amedrontadas (contra a vontade de Deus, o que podemos fazer?), elas nunca vão a aprender a ser donas dos seus próprios atos, de afrontar as consequências de suas próprias escolhas. Elas vão fazer-não fazer por medo do castigo "divino".
2. A deificação do sacerdote-pastor ou o que seja. Agora são até bispos primazes, apóstolos, títulos que demonstram que o ser humano não saiu da coleira. A maioria de igrejas tem o seu pastor ou líder no patamar dos santos. Seja pelo impedimento de chamá-lo pelo nome, seja pela adoração descarada, as massas estão sendo levadas, ou melhor, já estão acostumadas, a ver no pastor a representação de Deus. Ele é o "servo de Deus", o que lhe dá direito a ser infalível. Sua palavra é lei (mesmo em algumas igrejas batistas, pelo que deveriam ser democráticas, quem faz o que quer é o pastor... e se alguém não gostar pode mesmo é ir embora!!), sua pregação revelação divina, não é possível questioná-lo... afinal, ele é um santo, e sabe mais do que a gente, então o que ele diz está certo. E assim, dia após dia muitas abobrinhas são lançadas sobre os fiéis (nem todos os pastores são ruins, mas há uns que misericórdia! E lastimavelmente eu tenho conhecido muitos dos últimos...). Ahhh, o povo da igreja, somos fiéis, não de Deus, mas do pastor. Olha só, e somos ensinados a obedecer, abaixar a cabeça como boas ovelhinhas, porque, você sabe, Deus não gosta de rebelião...
3. A demonização do outro. Isto vem mesmo desde antes da Idade Média, vem desde o regime sacerdotal pós-exílico, que se abrogou o direito de ser dono da verdade absoluta. Se eu estou certo, o outro está errado, é ou não é? Pois é, e até hoje quem não comparte o que eu penso, quem não aceita a minha verdade, é o pagão, o errado, o filho do diabo... aquele que me contamina se fico por perto dele. E pensar que esta mentalidade legitimou as massacres da colonização, que os povos nativos destas terras foram assassinados em nome de uma verdade absoluta revelada por um "Deus absoluto"... e o cristianismo, desde a sua origem, se fez com sangue! Hoje não matamos, mas desprezamos, discriminamos, olhamos com cara de "tadinho dele vai pro inferno", rejeitamos e às vezes até humilhamos. E dizemos ainda por cima que Cristo amou o mundo... só que, para nós, esse mundo somos nós mesmos! Que lindo, Deus nos ama, o resto que se ferre, eles não acreditam na minha verdade, merecem ser condenados! E depois colocamos a culpa na maldade do mundo pelas injustiças, guerras e ódios, todos fruto de um preconceito que não ve o outro como um igual, mas como um objeto: de conquista (missionária: o outro é objeto de conquista porque deve 'ser convertido', ele não interessa de outro jeito, só esse), de compaixão pela sua "tolice", de desprezo. E ainda estamos dispostos, mesmo disfarçadamente, a queimar em fogueiras quem for diferente de nós.
4. A depreciação da mulher. Depois de 2000 anos, depois da chegada da modernidade, dos direitos, da igualdade, ainda temos o descaro de tratar a mulher como prato de segunda mão. Ela pode, sim, trabalhar na igreja. Mas olha, só pode ser missionária... educadora religiosa... dar aula na EBD... ahhh, e a mulher do pastor é o substituto voluntário (ou forçado?) do pastor. Ela tem que estar onde se precise, não pode deixar de liderar a MCA, os jovens, as crianças, a EBD... ahhh! mas se a mulher ousar pensar em chegar a ser pastora, ou algum outro título semelhante, ai va a igreja medieval, com a Bíblia em mão, para dizer que "Deus não gosta disso". Claro, Deus não gosta se eu não gosto. E o homem é ciumento com seus títulos. Sinceramente eu não sei se poderia ser pastora, se aguentaria tudo o que esse cargo significa. Mas negar à mulher o direito de fazer o que ela quer fazer é a coisa mais retrógrada do mundo.
Além dos cargos dentro da igreja, a mulher ainda é banida, o seu corpo ainda não foi aceito pela sociedade. O curioso é que a negação do corpo da mulher foi acentuado, sim, desde o início da tradição, com o safado de Tertuliano colocando a culpa em nós pelo pecado, e com Agostinho, que para mim não tinha se resolvido totalmente... mas de forma teórica, porque se podem ver gravuras onde os vestidos medievais não tinham nada de discreto, pelo menos em questão de decotes... pero a era vitoriana tampou a mulher de cabeça a pés. O protestantismo tirou de nós uma das poucas coisas que tinhamos.
Engraçado, numa sociedade como a brasileira, onde o que mais se vê são corpos de mulheres nuas ou seminuas... mas elas não são mulheres, elas são objetos, coisas que despertam o desejo masculino, a cobiça masculina, mas nunca o respeito masculino. E por isso, as castigadas somos nós. Isto é, o cara não consegue olhar uma mulher sem respeitar sua integridade, sem controlar sua lascívia, e por isso nós devemos nos cobrir até os olhos. Criticamos a burka mas não aceitamos blusas de alcinha. Claro, os ombros são atraentes, e os homens podem ser seduzidos... fala sério! O homem que aprenda a controlar seu corpo e sua mente, que eu tenho o direito de me vestir como melhor me sinta! (porém, é necessário atender aos limites do vulgar... porque uma coisa é liberdade e outra libertinagem, e andar por ai peladona porque me sinto a vontade também já não da). Quem pensou, num calor de 40 graus, usar camisa de manga porque a alcinha "é do diabo"?
5. Sexo é tabu. Ainda. O corpo é algo que deve ser ocultado, esquecido, ele é mau, nos leva ao pecado... devemos procurar ser anjinhos, escapar da carnalidade deste corpo maldito... corpo que, por incrível que pareça, Deus fez! Deus fez a gente com sexo, Deus fez as nossas formas, as nossas características, o que achamos atraente no outro, o que vemos e o que ocultamos. Se Deus nos fez, porque estamos seguindo ainda Platão, e sua demonização do corpo? (O corpo é o cárcere da alma, ele é mau, a alma boa). Eu prefiro pensar que se Deus nos fez, e como nos fez, foi por algo. Devemos tirar o corpo da sua punição imerecida! Devemos cuidar de nós mesmos, amar-nos, e sobretudo aceitar como somos, homens e mulheres de carne, sujeitos à materia. Se não, Deus teria feito um monte de espectros para povoar o mundo, sem corpo... se ele nos fez com corpo, não é para negá-lo!
6. O conceito de pecado. Este foi a ferramenta mais eficaz para manipulação de massas na Idade Média, porque o sacerdote era o único caminho para obter o perdão dos pecados. Agora dizemos que vivemos sob a graça. Mas que graça é essa que exclui as pessoas da comunhão porque estão "em pecado", um pecado muitas vezes ditado pela cabeça do líder? Já ouvi falar que ir ao cinema era pecado... pera aí, o pecado prescribe? Se era tem que ser agora, ou então nunca foi pecado. Essa questão de pecado ainda não deixou de ser ferramenta de manipulação. Cada um diz que isto ou aquilo é pecado, e as pessoas são ensinadas a viver com medo do próximo respiro, porque podem "pecar", e Deus fica chateado com elas. Eu não sei mais se Deus se importa tanto com as coias que dizem que é pecado fazer. Se for pecado dançar, Deus foi muito injusto comigo me colocando para nascer num pais que se mexe ao ritmo da cumbia, da salsa, do merengue e do vallenato. A dança está no meu sangue, e prefiro "pecar" feliz a reprimir meus passos (que também não são lá a grande coisa) por um pecado que, pelo que tenho percebido, não é mais que herança cultural. Assim como as roupas, herdamos dos colonizadores estadounidenses (no caso dos batistas, pelo menos dos que conheço) uma demonização da cultura na qual eles deviam ser os estranhos, mas da qual fomos extirpados como sem perceber. E assim, dançar é ruim, se vestir conforme ao clima tropical é ruim, dependendo do credo beber é ruim... e se volta à alienação, que não ensina às pessoas que se bebem muito podem estragar o corpo, ou se fumarem demais vão ter câncer de pulmão... é mais fácil dizer que é pecado, que ai o medo da condenação eterna as vai mater longe de tudo o que se queira (o que aqueles, que sabem um pouco mais, querem).
7. A doutrinação automática dos "crentes". Já na Idade Média as pessoas eram ensinadas a aprender sem questionar. O que eles aprendiam, as doutrinas, era revelação de Deus (uma revelaçao manipulada, disfarce de poder político e econômico), e por isso mesmo não era para pensar, era para aceitar. E nas nossas igrejas estamos assim, ainda enfiando "conhecimentos" nas cabeças das ovelhas (tadinhas, muitas vezes "ovelhas" mesmo...), e elas aceitam sem questionar, obedecem sem protestar, acreditam sem pensar. E o que nós sabemos, não, eles não podem saber, não estão preparados. E seguem assim, num mundo de fantasia, sem indagar pelo Deus da vida delas, aceitando a versão de Deus que cada pastor dá, que cada denominação ou liderança dá. Porque, isso sim, cada igreja tem sua própria versão de "Deus". Muitas coisas que se poderiam ensinar, coisas simples, como a formação da Bíblia, como a autoria e a originalidade dos textos sagrados, são ocultados, como se saber que muito provavelmente Jonas nunca foi comido por peixe nenhum abalasse a fé em Deus. Ou, talvez seja por isso mesmo, porque o "Deus" que é ensinado não bate com um Deus recontado em diversas histórias, construido em diversas tradições. O "Deus" que aprendemos é imutável, inefável, imóvel. E o Deus dos hebreus era tudo menos isso. E o nosso Deus, nem temos um, só seguimos o Deus dos outros, o Deus que nos contaram como era. E ai vamos, igreja medieval em um mundo pós-moderno, imperfeito, que cada dia está pior. E ficamos brigando pela nossa verdade, obrigando os outros a nos ouvir (quantas vezes passei nas praças onde sujeitos pregam ou cantam, com todo o fôlego, sem pensar que talvez isso, em lugar de ser testemunho do amor de Deus, é fastídio para quem passa ou vive, trabalha ou fica ali). E distorcemos a verdade do evangelho, a simplicidade de Jesus, em meio de um monte de normas, dogmas (e se você não tomar a Santa Ceia... não vai ficar em comunhão com Deus nem com os outros), regras, proibições.

E depois nos queixamos pelo sucesso obtido pelas "igrejas" manipuladoras que oferecem um Deus-boneco (ele TEM que fazer o que eu quero). Se não ensinamos as pessoas a pensar, a questionar o que se lhes fala, tudo que tenha o título de Deus é sagrado!
Jesus nos disse para amar ao próximo como a nós mesmos. Ele não especificou a religião, cor, sexo ou idade desse próximo. Só disse para amar. E esse amor não é aquele da boca para fora, tão comum e desgastado pelos "crentes" que saem repartindo "amor" por ai, falando a todo mundo que "Deus te ama". Sim, isso é verdade. Mas também é verdade o que disse Tiago, que se digo ao meu irmão que Deus o ama, mas não faço nada para suprir sua necessidade, para mostrar mesmo na pele o amor de Deus, não estou fazendo nada. Falar é, afinal, muito fácil. Cadê as ações? Cadê o compromisso com um Deus que morreu para dar vida ao mundo? Cada vez mais estamos mandando o mundo à morte, omitindo nossa responsabilidade na construção de um futuro, de um mundo melhor. Afinal, este mundo é máu. O homem é uma massa danada, condenado desde o início. Afinal, nosso lugar não é aqui, é lá no céu. Por isso estamos como estamos, porque se deixassemos de olhar tanto para o céu e olhassemos mesmo para quem está do meu lado, enxergariamos as verdadeiras dores, as verdadeiras injustiças, e o sangue ferveria nas veias, e nos levantariamos para fazer alguma coisa. Mas como este mundo não importa...
E ficamos presos, cativos na Idade Média, fechando os olhos e os ouvidos, os nossos e os dos outros, a fim de que a tradição seja continuada, a fim de que a hierarquia seja mantida. A fim de que a massa continue dominada, mansas ovelhinhas no rebanho do "pastor". Ai de nós, que temos tão grande responsabilidade pela ignorância e desespero dos outros!
P.S. Muitos pastores são servos sinceros de Deus. Muitos são ignorantes sinceros. Mas, lastimavelmente, a grande maioria são sinceramente safados, sinceramente políticos, sinceramente manipuladores (talvez minha visão seja muito sinistra, mas tenho experimentado isso na pele...). Queira Deus que surjam mais pessoas que enxerguem o mundo de verdade, o exemplo real que Jesus nos deu, e sigamos verdadeiramente os passos daquele que denunciou as injustiças, enfrentou aqueles que tinham o poder, e que morreu pela verdade!

12 de novembro de 2009

As Crônicas de Nárnia e teologia

As Crônicas de Nárnia são um livro (ou melhor, uns livros) maravilhoso(s). São livros que, mesmo escritos para a compreensão de uma criança, falam profundamente aos corações de todos. Sua mensagem é mais profunda do que um simples conto de fadas para crianças. Nestes livros C.S. Lewis conseguiu traduzir, numa linguagem simples e belísima, tudo o que para ele era importante. Sobretudo a sua experiência de Deus.

Em cada um dos livros C.S. Lewis mostra um aspecto de Jesus. O primeiro narra a criação de Nárnia. Também narra a compreensão que Deus tem de nossas dores. Os dois protagonistas são aventureiros através de vários mundos, e conhecem assim a feiticeira que mais tarde vai assolar Nárnia, e também Aslam, o Grande Leão, no dia em que ele cria Nárnia. A parte mais bela, para mim, é a da criação. O autor descreve tudo com tanta eficiência que parece que a gente está lá no meio do nada, vendo o sol, surgir e os bichos pipocando da terra. É muito belo. E a música que Aslam canta é um modo de expressar as coisas que não tem comparação. Dá vontade de que fosse verdade tudo.

Uma das coisas mais interessantes no livro é que ele não é doutrinário. Ele é uma história mesmo, onde Lewis da vida ao que ele mais ama: Deuses e deusas gregos, faunos, dríades, anões, centauros, unicórnios, e sobretudo, animais falantes e uma natureza belísima, os quais convivem todos em harmonia (todos sendo súbditos de Aslam). Quando algo vai mal em Nárnia a relação harmónica entre estes seres e seu entorno natural é rompido, quando as coisas são ruins árvores são cortadas, rios são deixados de ver como algo bom, a floresta é tida como cheia de fantasmas por homens que não amam o seu entorno. Isto é importante num mundo onde o homem esqueceu que não é o dono e senhor, e que há muitas criaturas que compartem o planeta conosco, dependem da água, da floresta, do ar para viver. Coisas que, pouco a pouco, lhes estão sendo roubadas. Isto quando não lhes são roubadas as próprias vidas.

O que é mais impactante é a claridade do texto, pelo menos para quem é cristão ou conhece um pouco de Deus (sempre me perguntei como os não cristãos lêm o livro, como eles o interpretam. Talvez só vejam o conto de fadas. Espero que não). Você pode ver claramente o que C.S. Lewis pensava de Deus, o que era Deus para ele. Como já disse, cada livro mostra um aspecto diferente de Jesus. O segundo livro, que foi convertido em filme recentemente, mostra o Jesus que deu a sua vida por nós. No livro, Aslam dá sua vida pelo menino traidor. Mas na morte obtém a vitória. O terceiro livro mostra a atuação de Aslam em todos os momentos da vida de um menino chamado Shasta, apesar de que ele se sinta só ou esteja passando por dificuldades, Aslam está sempre perto dele. O quarto livro, que também virou filme, mostra a potência do chamado de Aslam. A menina, Lúcia, deve seguir o Leão, sem importar o que os outros pensem. Ainda quando eles não são capazes de ver o entender o que ela vê e entende, e ainda que os outros zoem ou a tomem por louca. Isto tem várias mensagens para os cristãos desanimados do seu caminho, muitas vezes solitário, como seguidores de Cristo. O quinto livro tem o final mais lindo que se possa imaginar. Depois de uma viagem fantástica no mar, até chegar ao Fim do Mundo, passando pela correção do caráter malcriado de um menino chamado Eustáquio, o qual é curado (porque virou dragão) só quando Aslam faz um tratamento com ele (depois do menino ter tentado, inúmeras vezes, sozinho), os protagonistas chegam a um lugar onde vem um cordeiro. Para nós, cristãos, é evidente de quem se trata. Este cordeiro vira Aslam, e diz aos meninos que eles devem procurá-lo e conhecê-lo pelo próprio nome no seu próprio mundo. Este final é tão expressivo!

O sexto livro fala da importância de seguir as instruções de Aslam (Jesus). Numa parte com muito significado, que revela o que Lewis falava aos críticos, diz que as palavras (umas palavras antigas, entalhadas na escadaria de uma cidade em ruínas), mesmo que tenham sido escritas há muito tempo e em outro contexto, se referiam exatamente ao que os meninos tinham que fazer (eles estavam procurando um príncipe perdido, preso embaixo das ruinas. As palavras eram parte de um poema, e só tinham restado estas: DEBAIXO DE MIM). Isto fala muito a quem diz que a Bíblia não tem mais valor, que é só um livro velho...

O sétimo livro é o mais triste. E ao mesmo tempo alegre. Ele narra o fim de Nárnia. Aqui todos os protagonistas dos livros anteriores se reúnem, todos menos uma, e assistem ao fim de Nárnia através de uma porta. Nárnia é destruida, as estrelas caem, o sol e a lua se fundem e são apagados para sempre pelo Pai Tempo, bichos enormes destroçam as florestas e acabam com tudo o que nelas existia. Tudo a uma ordem de Aslam. E o mais impressionante é a entrada de todos os seres de Nárnia pela porta. Uns amam a Aslam, e vão junto com os protagonistas. Outros o odeiam (tudo com o olhar), deixam de ser bichos falantes e somem na escuridão da sombra do Leão. Este último conto mostra a visão do mundo que tinha Lewis. Eu não concordo muito com ela, mas é magistral o modo como ele descreve tudo. Ele é platônico. Para ele o mundo de Nárnia que acabou era só sombra da Nárnia real, que é aonde se encaminham todos os seres que amam Aslam. Um lugar maravilhoso, igual à Nárnia antiga, mas muito mais "real", mais "vívido". Para quem quiser ler estes livros maravilhosos não vou estragar o final, só digo que tem uma surpresa inesperada no final, chocante mas maravilhosa, criadora de esperança.

Outra coisa interessante neste último livro é o encontro de Aslam com o calormano Emeth, que toda a vida procuro achar o seu deus, Tash, um bicho fedorento e horrível. Aslam diz a ele que o que ele procurou foi a ele mesmo, a Aslam, porque não se pode fazer o bem em nome de Tash. E diz ainda que muitos fazem o mal em nome de Aslam, mas é a Tash a quem servem. Coisa muito verdadeira em um mundo como o nosso, onde tantas vezes pessoas mataram e cometeram todo tipo de iniquidades em nome de Deus. Mas não era a Deus a quem serviam. E ainda, mostra um mundo onde as pessoas deixam de acreditar em Aslam. O macaco, que aparece no início do livro, se finge Aslam, e começa a destruir Nárnia, vendendo-a aos calormanos. Os animaizinhos da floresta, esquecidos das histórias de Aslam e de como ele é, pensam que ele de verdade é portavoz de Aslam e obedecem, sendo manipulados. Mais uma coisa que cai como luva para o nosso mundo, onde 0 evangelho deixou de ser verdade e passou a ser manipulação.

Assim, estes livros, de uma forma tão linda que dá vontade de chorar às vezes, mostra tudo o que era, na conceição de Lewis, o caráter de Jesus, com o nome de Aslam. E isto é o mais belo que estes livros tem, já que muitas vezes Jesus é tão afastado da gente, tão posto "lá no alto do céu", em um lugar tão inatingível, que as pessoas não o conhecem como o Deus que ama. E, nos seus livros, Lewis consegue isto. De uma forma simples ele consegue pôr Jesus pertinho, e nos faz sentir amados, mesmo quando erramos, nos faz sentir que de verdade Deus está conosco. E da vontade de estar em Nárnia, e poder abraçar, junto com os protagonistas, o Grande Leão.

É um livro que fala ao coração, enquanto fala à imaginação. Ensina, sem ser chato. Diverte, recreia, maravilha o leitor. É um livro onde a teologia se revela na sua forma mais simples, a teologia pessoal de um homem com seu Deus, posta no papel. Um livro, finalmente, onde se pode aprender muito sobre Deus, de uma forma que em muitos aspectos chega a ser mais eficiente e formosa do que os tradicionais métodos de "discipulado" ou "evangelização".

Este livro é um dos mais belos que já li na minha vida. Espero que para vocês seja, igualmente, um livro interessante.

6 de novembro de 2009

Mundo encantado

A sociedade em que vivemos é uma sociedade fetichista. Isso eu já sabia, só não sabia o nome. Fetichista. Essa palavra vem do português "feitiço". Assim, a sociedade nos enfeitiça. Como? Com um instrumento mágico: a mídia. Porque? Para viver fora da nossa realidade.
Eu não quero falar aqui de desligar computadores e jogar televisões pela janela. Também não estou querendo voltar à era da pedra. Só quero chamar a atenção da nossa consciência, tantas vezes adormecida.

O mundo em que vivemos é um mundo de sonhos. Em cada loja de eletrônicos podemos adquirir um novo jogo de play station, para virar reis ou príncipes procurando tesouros, matando monstros, criando civilizações. Até há jogos para ter uma vida normal, com cachorros e filhos. Só que no jogo podemos evadir as nossas realidades, os problemas se solucionam com um click. Na internet viajamos por sites do mundo todo, fazemos amigos sem sair de casa, jogamos, compramos. A internet é uma ferramenta útil para a comunicação e para aprender. O problema surge quando deixamos de lado a vida real para passar cada vez mais tempo frente à tela. Dia após dia estamos virando virtuais. Nossa vida está deixando de ser real. Os amigos que temos são perfis de sites da internet. Ou quadradinhos à esquerda da tela, quando falamos pelo msn. Na internet podemos ser quem quisermos, esquecendo nossas vidinhas chatas. Nos livramos da nossa realidade.

Mas além da internet, além dos jogos, a caixinha de encantos preferida de todos é a televisão. Pode ser grande ou pequena, de tela plana, de plasma. O importante é ter uma. Ontem aprendi que a imagem que vemos na televisão nunca é completa. A tela emite na realidade linhas, que se sucedem em 3.3 segundos. A imagem é completada no cérebro. O que isto tem a ver? Tem a ver que o esforço que o cérebro faz para completar as imagens uma após a outra é muito grande. Tanto que ele fica ocupado nisso, e a parte reflexiva dele fica "desligada". De modo que engolimos imagens e imagens sem ter tempo para refletir sobre elas. Como isto nos afeta?

Depois de 50 minutos assistindo TV o cérebro está funcionando no automático. Rolamos em uma "inconsciência" absorvente.

Além da parte "técnica" do negócio, temos o conteúdo da TV. Cores brilhantes. Musicas, histórias cativantes. Tudo muito bonito. E sobretudo, mágico. Na televisão tudo pode acontecer. Os sonhos são realidade. As escovas de dentes falam, os carros andam sós, ou viram robôs, é possível ganhar casas com "uma raspadinha". E nós ficamos envolvidos pelo encanto. O fetiche faz efeito. A TV é mestra em tirar-nos da própria realidade. Quando assistimos novelas vemos que tudo sai bem, que os máus vão à cadeia, que os pobres tem carros chiques e terminam ricos. E o encanto não acaba ai. Desenvolvemos rituais. A TV é, para alguns, uma espécie de religião. Não tem como deixar de ver a novela, porque é terrível. Não posso ir nem ao banheiro, está passando o programa que eu mais gosto...

No meio de tudo, esquecemos de nossos problemas. Até no jornal que mostra os horrores da vida diária, tudo parece ficção. As tragédias viram espetáculo, e deixam de nos importar. Tanto, é uma entre tantas... o que importa é o show.

Uma das coisas que de verdade odeio na TV, e acho que não deveria existir, é a denominada "programação evangélica". É falsa. De evangélica não tem nada. O que se vê é mais um feitiço. Milhares de pessoas comprando "óleos da unção", rosas mágicas, sabonetes que tiram pecados, que vão aos "templos" para que as toalhas com que tomam banho sejam "abençoadas, claro, pagando um pequeno preço antes... e não percebem que estão sendo manipuladas. O que era sagrado virou palavras vazias na boca de muitos, Deus é mais uma das mercadorias oferecidas em ditos programas, feitos por pessoas que, na sua maioria, o único que pretendem é encher o bolso às custas da ignorância dos outros. E estes outros, presos nos seus problemas, cheios de dificuldades, vêm nestes programas enganosos a única solução a tanto sofrimento. Só que:

1. A mensagem é errada. O sofrimento faz parte da vida humana, uma vida sem sofrimento não existe.

2. Os "pregadores" falam em bênçãos e prosperidade, como se Deus nos estivesse devendo alguma coisa. Para alcançar estas "bênçãos" devemos ter "fé" (e pagar o dízimo ou ser patrocinador, é claro). Só que esta fé não é nem sequer posta em Deus, mas nos objetos mágicos que os enganadores oferecem, desde martelos sagrados até canetas da prosperidade, passando por águas, pedras, alianças, e tudo o mais absurdo que se possa imaginar. Mais absurdo e desconcertante é ver que as pessoas acreditam em tudo isso.

3. As tais bênçãos e milagres são paliativos, e causam um mal maior do que o bem. Porque a pessoa acha que vai la, ou assiste o tal programa na esperança de ter seus problemas resolvidos para sempre. Só que novos problemas vão surgir. A vida não é tão simples assim e os óleos milagrosos não resolvem todas as complicações do dia-a-dia. E ai, ou a pessoa vai comprar outra peça mágica para enfrentar o novo problema, ou então vai deixar de acreditar. E como os enganadores estão oferecendo toda essa magia em nome de Deus, elas não deixam de acreditar nos safados que as enganaram, mas em Deus.

4. Em fim, os "pregadores" fazem uso de teologias (se se pode chamar a isso de teologia) simples e mal feitas, e quando se encontram sem palavras para solucionar de verdade um problema, colocam a culpa no ouvinte/assistente. Isto eu vi com meus olhos e ouvi com meus ouvidos. E fiquei em choque. Num desses programas da tarde, repetido em dois ou três canais por essas horas, eu vi um pedaço do programa, no qual os fiéis escrevem ao"missionário" para que ele os ajude a resolver os problemas. Bom, a mulher escreveu que o seu filho a maltratava, que estava sofrendo muito. O que fazer? Resposta do "missionário": Você não é uma autêntica cristã, não conhece o Deus que diz conhecer, porque se o conhecesse não sofreria. Você tem que se arrepender(!) e procurar Deus e "tomar posse da bênção" (aqui ele começou a recitar versículos bíblicos sem nexo um com o outro, todos fora do contexto).

É absurdo. Eles são tão descarados que nem importa ajudar os outros. A mulher sofrendo, desesperada, recebe uma resposta que a deixa mais sem moral ainda, afundando-a mais no poço. Se não tem resposta fácil, então não tem como ajudar. A culpa é dos outros.

Este sistema macabro de manipulação encanta milhares de seres, já enfeitiçados no dia-a-dia com todas as outras coisas que se passam na TV e que acontecem ao seu redor. A sociedade em que vivemos é experta em maquilar os problemas, em ocultar a realidade. Vivemos num mundo onde cada vez mais pessoas estão sendo convertidas em fantoches, alheias ao que lhes sucede, incapazes de reagir contra as situações adversas. E agora, para uma maior alienação, embebidos de magia barata, de remédios falsos, caros, vazios. Porque o "anel da prosperidade" tem seu preço. E não é pouco. São roubadas as vidas, as esperanças das pessoas. E pior ainda, lhes é roubada a oportunidade de conhecer o Deus real, que as ama e sustenta no meio da mais cruel dor.

E nós, cristãos, o que estamos fazendo? Nós que conhecemos mais da Palavra, que vivemos, muitas vezes, num contexto de ritualismo sem sentido, devemos deixar o feitiço! Devemos abrir os olhos, e ver as pessoas que estão sendo presas por este sistema falso e opressor! Não devemos deixar que a alienação tome conta também de nós, fazendo-nos seres apáticos, sem forças nem vontade de nos opor ao sistema dominante. Se as pessoas estão sendo enganadas pelos truques mágicos que aparecem a todo momento na Tv (como passar o palitó em cima de uma fila de "endemoninhados" e outras besteiras do tipo) é também pelo nosso letargo. Se nós sabemos, devemos ensinar. O único caminho para que as pessoas deixem de ser ignorantes é que elas aprendam! E se nós não lhes ensinamos, quem o fará? Os magos-pastores da TV? A sociedade fetichista?

5 de novembro de 2009

Pele e dor

Um gemido. Só um. Tímido, quase sem força. Um pequeno animal está sendo torturado, sua pele arrancada do seu corpo indefeso e fraturado enquanto ele ainda está vivo. Ainda está consciente. Só um gemido, no início da tortura. Gemido que expressa a dor, a surpresa. Por que? O que eu fiz? E sua pele é puxada, arrancada sem misericordia, enquanto só seus olhos expressam a dor profunda. Depois, o pequeno bichinho é largado na terra a morrer. Tenta se levantar, mas não consegue. Como, quem conseguiria? Está sem pele! Vivo! Ainda tentando andar!

Eu vi estas imagens chocantes ontem, e até hoje estou aterrorizada. Pasmada. Como pode alguém, que diz se chamar ser humano, fazer algo assim? Como pode "isso" (não tenho mais vontade de falar de "alguém") infligir uma dor assim a um ser inocente? Por que? Não tenho palavras suficientes para expressar minha dor e indignação. Não palavras "decentes", pelo menos.

O ser humano é a única criatura terrestre que se distingue pela sofisticação da sua crueldade (Se é possível falar em crueldade sofisticada...). Cada vez mais há métodos piores de tortura, cada vez mais a dor do outro é ignorada. Quem é capaz de erguer sua porca mão para machucar desse jeito um animal que nunca teve a chance de se defender, não tem o direito de ser chamado de humano. Se assim age contra uma criatura indefesa, que nem pode falar para se defender, quanto mais cruelmente agirá contra seu próximo! Quem é cruel com um ser vivo é cruel com todos.

E a indústria esconde isto. A moda não fala ao respeito. O que importa é aquelas mulheres bonitas, elegantes, vestidas de peles finas, exibindo o fruto da dor de outros. Da morte de outros. Para fazer um sobretudo são necessárias 100 mortes. 100 chinchilas que morrem para satisfazer a vaidade de uma só pessoa. Claro, o importante é exibir a "elegância" no tapete vermelho, ou nas capas das revistas.

É mais do que indústria. Chega ao fundo dos valores humanos, do que é ser humano. Os animais matam para comer. Eles caçam, eles capturam suas presas. Mas é questão de sobre vivência. E o ser "humano"? Ele come carne. Tudo bem. Mas ele é um ser que se chama a si mesmo de racional, um ser que pensa, e que assim mesmo não consegue se desprender de velhos hábitos. Como se ainda precisássemos de peles para nos vestir. E mais do que isso. Por que, para tirar essas peles, o animal é tratado desse jeito? Por que tem que sentir sua pele sendo arrancada? Ao ver essas imagens da vontade (nada cristã, confesso) de ver essas mesmas pessoas sofrendo essa mesma tortura. Ai iam saber o que é dor.

Mas de nada adiantaria torturar os torturadores. Não resolveria o problema. Outros se levantariam e continuariam, porque a indústria demanda. O comércio pouco se importa com sentimentos ou dores, ou mesmo com a vida. Se importa com o dinheiro. Como ele chega aos bolsos não é coisa que importe. Cadê o respeito à vida? Cadê o ser humano integrado com a natureza? Todos somos moradores do mesmo quintal! Todos somos habitantes da Terra, usamos ela, precisamos dela para viver. Tanto plantas, como animais, como seres humanos, precisamos de ar, de água, de dormir, de comer. Todos nos reproduzimos sexualmente (as plantas são macho e fêmea também). Todos sentimos dor. Se alguém puxa o meu cabelo eu vou sentir dor. Imaginem então alguém puxando sua pele, cortando seus pulsos e seus tornozelos e puxando a pele, tirando seu couro cabeludo, a pele da barriga, o pescoço. Isso é o que fazem com estes animais, depois de ter eles vivido o tempo inteiro dentro de uma pequena gaiola suja e fedida, sem espaço suficiente para se mexer. Antes da dor suprema, para atordoá-los um pouco eles são lançados a chão como sacos de batatas, sofrendo fraturas e contusões.

Me pergunto: isso é coisa que alguém que vive proclamando sua civilização faça? E ai vem a resposta: claro! Se nem aos iguais eles respeitam, muito menos a um animal que, aos olhos deles, é uma coisa!

O ser humano está cada vez mais imune à dor. Claro, quando é a dor dos outros. Se não sinto na pele o que o outro está sentindo, então está tudo bem. É absurdo ver quem defende a indústria das peles falando em favor desta. Bom, não concordo também com lançar pintura nos abrigos de quem usa peles. Isso só vai fazer que matem mais animais para fazer novos abrigos, porque esse ai já estará arruinado. Mas é necessário fazer alguima coisa. Devemos ver o que estamos fazendo. O homem está deixando a sua humanidade. O ser humano compreende o respeito à dignidade do outro, a solidariedade com o outro. Esse outro é tanto o próprio ser humano quanto a natureza, os animais, as plantas. Todo o que nos rodeia. Muitaz vezes nos deixamos seduzir pelo feitiço da sociedade consumista, que oculta de nós a realidade. Vemos nas vitrines das lojas coisas belas, mas não sabemos da cruel realidade da produção dessas "belezas". Vemos as crianças nas ruas, e nos consolamos dizendo que não é nossa culpa se elas estão ai. A culpa é dos bandidos, ou dos pais que largaram a criança à sua própria sorte.

Mas nós somos culpáveis. Quem compra um abrigo de pele está legitimando o modo como esta pele chegou a ser abrigo. Quem é indiferente à dor e as necessidades do outro está legitimando a ordem social estabelecida, como se tudo estivesse bem. E a dor está ai, nos olhos dos pequenos animais torturados, nos olhos das crianças jogadas na rua. Está no meio de nós, e nós não fazemos nada. A igreja se preocupa tanto com regras e "espiritualidade", e esquece do que de verdade importa. Deus nos pôs no mundo não como peregrinos esperando chegar ao céu. Nós temos uma missão, que atinge mais do que a "alma" (no sentido grego) das pessoas. A dor existe. O mondo geme. Homens e mulheres, crianças, animais, clamam por ajuda.

Aquele que se diz ser humano está acabando com o mundo. E quem não acaba com ele assiste ao espetáculo, impassível. Quando vamos a voltar ao plano original? Quando vamos a nos levantar contra esta "ordem" social horrorosa, que pisa sobre as criaturas mais indefesas da Terra? Igreja, tu que te dizes filha de Deus, protege a criação de Deus! Protege teu próximo, criação de Deus! Protege o teu entorno, criação de Deus indispensável para nós mesmos! Acordemos! Algo há de ser feito! Não pode haver mais deshumanização neste mundo! Cadê o coração das pessoas?

28 de outubro de 2009

Adão e a humanidade

A história da criação do homem tem sido usada para muitas coisas. Tem sido usada para legitimar a suposta "superioridade" masculina (porque o homem "foi criado primeiro e a mulher depois"... claro, isto tendo em mente a segunda narrativa da criação, porque na primeira os dois são feitos ao tempo!), para legitimar o domínio do homem sobre a criação, o que lhe dá o direito de fazer qualquer besteira com a natureza... mas ninguém parou (pelo menos que eu saiba, pode ser falta de informação) para pensar no que representa Adão. Não no sentido do responsável pelo pecado da humanidade. Mas pela humanidade em si. O relato diz que todos os povos descendem de Adão. Ele, junto com sua mulher, foram os primeiros seres humanos a morar na Terra. Deles descendem todos.

Historicamente, é muito difícil conceber isto como verdade. Mas simbolicamente esta afirmação é muito importante. Todos descendemos de Adão. Cada ser humano é filho deste casal primordial. Se isto é assim, então todos somos iguais. O que significa que a "superioridade racial" é uma construção cultural, que defende o eu desprezando o outro. Por meio dela é mais nobre ser de uma determinada cor, morar em determinado pais, ter determinados costumes. Os outros são "o povinho", os inferiores, cuja cor, cultura e até pais são nada comparados com os do pessoal "nobre".

Assistindo um documentário percebi quanto há de absurdo no racismo. O documentário falava da Colômbia, meu pais, enfocando as diferentes raças e povos que nele moram. Há colombianos de gerações e séculos. Há colombianos ciganos, japoneses, alemães, árabes, que deixaram suas terras para vir se estabelecer no pais (porque, fala sério, Colômbia é tudo de bom, ne?). Eles se consideram colombianos. E não deixam suas culturas. Até ai tudo bem. Eles são de diversos povos, mas fazem parte do mesmo povo, o colombiano. Porém, começaram a falar em cores. É ridículo, em um pais resultado da colonização e migração de europeus, mistura de indígenas, negros e brancos, ver como pessoas morenas afirmam que são brancas, ainda se atrevendo a afirmar que "branco é a cor nobre". Se corrigindo depois, para não parecer racistas, dizendo que "negrito" também é nobre. Colombiano é um só povo, não importa a cor da pele. Ser humano é um, apesar das diferenças.

O racismo está tecido no DNA da cultura. Está no fundo do coração de muitos que não se consideram racistas. É uma praga que se misturou nos gens há muitos séculos, desde quando foi legitimada pela religião. Aquele velho papo de "Canaã era negro, ele foi amaldiçoado, os negros descendem dele". Quando foi que o europeu começou a se considerar superior, não sei, mas já na Bíblia temos relatos racistas, como quando o Esdras e o Neemias, judeus superiores, expulsam as mulheres moabitas, raça inferior. Os cristãos adotam até hoje estes textos para legitimar sua "exclusividade", como se fossem favoritos de Deus. Os povos, mesmo provenientes de misturas êtnicas, insistem em se separar do resto da humanidade, do resto dos seus próprios conterrâneos, e se declarar superiores. São muitos os exemplos de racismo que vemos nos filmes americanos. As brigas de gangues mexicanas com chinesas, negros com blancos, e toda a humanidade que mora num mesmo pais se destroi, um contra outro, por questões de "raça". O seriado "Todo mundo odeia o Chris" é muito engraçado. E ao mesmo tempo mostra como o racismo está na sociedade, como marginaliza as pessoas, classificando-as por sua cor ou proveniência. O Chris é um drogado, orfão, cheio de irmãos e sei lá mais o que na cabeça da sua professora, só pela cor da sua pele. Ele não tem direito ao ensino superior por ser negro. A professora não tem muitas esperanças de que ele passe dos 17 sem ter filhos ou morrer. E nem a polícia se preocupa quando ele ou sua família sofrem abusos ou perdas. Afinal, eles são simplesmente negros.

Isso é nos Estados Unidos, na Colômbia. E também no Brasil. O passado comum de todos nós, negro e vergonhoso, é a escravidão, que pôs os nativos deste continente, e aqueles que foram arrancados da sua mãe África, sob um jugo pesado que ainda não caiu. Não era só o trabalho forçado, era o rebaixamento. Eles não eram humanos, eram simples animais. Índios e negros não valiam grande coisa, só como bestas de carga e trabalho. Pode ser que agora não haja mais escravidão, mas este rebaixamento na sociedade continua. E o pior é que as próprias etnias se rebaixam. Muitos se sintem inferiores, ou são, por sua vez, racistas contra os "branquelos". E assim a herança de ódio e ressentimento, de separação entre a humanidade continua, se perpetua nas palavras, nas tradições, nas guerras.

Mas Deus no início fez o homem e a mulher. Fez um de cada, um que representa a humanidade. Adão não tinha raça. Ele era humano, e isso bastava. Ele, para mim, simboliza a humanidade unida. Tenha ou não existido históricamente, o que ele representa é algo para ser refletido, algo para ser divulgado. Muitos estão morrendo pelo racismo. Racismo que não é expresso mandando os negros ao fundo o ônibus, como antigamente, mas que ainda existe nos corações e nos pensamentos das pessoas, mesmo sem elas perceberem.

Só quando aceitemos que somos um, e que não há diferenças entre uma pessoa e outra, só quando aceitemos que somos todos parte do mesmo povo, que fazemos parte do mesmo tipo de ser, aquele que é capaz de criar e de destruir coisas, de construir edifícios e desenvolver tecnologias, enfim, que somos todos seres humanos, vamos conseguir ter paz.

Adão é um símbolo, um exemplo do que deveriamos ser. Um.

19 de outubro de 2009

Mundo tóxico

O planeta está se derretendo. É um fato. No jornal falaram que é muito provável que para o verão do ano 2020 0 Polo Norte deixará de existir, pois terá se derretido completamente. E os muitos seres que têm esta região como seu lar, em consequencia, se extinguirão.
O que vamos fazer?

O planeta está, lastimavelmente, em nossas mãos. Os ursos polares não podem deixar de emitir gases tóxicos, não podem fazer campanhas de reciclagem. A responsabilidade é nossa.

Um pouco mais perto de nós temos o Amazonas. Faz parte do Brasil, os brasileiros se orgulham de ter este território, tão importante para o mundo. Porém, o que se está fazendo com ele? Estamos desmatando tudo. Pode ser que eu não esteja lá com uma serra elétrica cortando a árvore, mas também não estou fazendo nada para impedir que algum outro o faça. Temos muitas riquezas naturais, mas não as cuidamos. Em nome de um duvidoso progresso deixamos que todas as coisas maravilhosas da natureza sejam destruídas. E quando não tivermos mais o Amazonas? Quando todas as espécies de animais que nele moram se tenham extinguido, então, o que faremos?

Nós somos egoístas. Cuidamos de nossa casa, limpamos, arrumamos o nosso ambiente. Esquecemos que a nossa casa não é só o edifício feito de cimento e tijolos. Nossa casa é a terra. A rua onde moramos. O parque onde jogamos lixo "porque aqui se pode". É muito desagradável ver gente jogar lixo pela janela do carro ou do ônibus. Mas como "não é minha casa". E assim pensam também os nojentos que fazem aliviam suas bexigas nas pontes, nas árvores, nos túneis em baixo da linha do trem (isso eu sei, eu passo neles todo domingo, haja fedor!), em qualquer canto da cidade. Claro, depois vão embora e quem aguenta o fedor são os outros...

Os governos também são egoístas. Expõem suas próprias populações a riscos ambientais, se isto significa estar de mãos dadas com as grandes companhias cheias de dinheiro. Eu vi uma reportagem na MTV (e há quem fala que esse canal é do diabo...) falando de um bairro em Nova Iorque, que tem no meio uma usina nuclear. O rio que passa por esse bairro está cheio de petróleo, que foi vazando aos poucos durante muito tempo, vindo de uma companhia do lugar... que até hoje não recolheu o petróleo, o qual está contaminando o rio, está entrando por baixo das casas, está matando tudo o que existe nessa água que vai dar no mar. O governo não faz nada para obrigar a tal companhia a limpar as águas. O importante é ter dinheiro. Se minha memória fosse mais detalhada, poderia dizer o nome da companhia e do bairro, mas lastimosamente não escrevi na hora... e minha memória é muito ruim! Mas o nome da companhia é algo como Exxon, e vocês podem muito bem ver o programa, todas as quintas as 23,30. Se chama Toxic.

Passando a outra coisa, contaminação não é só aquela que faz derreter o Polo Norte. Também o barulho é contaminação. E barulho temos aos montes nas nossas cidades "desenvolvidas". Motoqueiros que passam buzinando, lojas com altofalantes enormes, carros que passam com o rádio no último volume. Geralmente ouvindo funk. Isto é, eu não posso obrigar aos outros a ouvir o que eu estou ouvindo no meu carro! É desrespeito pelos próprios ouvidos mas sobretudo pelos dos outros. Falta de educação... ela faz muita falta em nossa sociedade.

Contaminação é culpa de todos. Se o planeta está derretendo é culpa nossa. Nós não fazemos nada, e nem protestamos contra quem tem poder e não faz nada. Ai estão os Estados Unidos, o pais mais contaminador do planeta, felizes da vida se negando a fazer qualquer coisa para deixar de contaminar tanto. Claro, isso não produz dinheiro... mas as consequencias somos todos que as pagamos.

Vamos a acordar algum dia? Ou será que vamos esperar a que os nossos filhos nadem num mundo sujo, inundado pelo que antes era a casa dos ursos polares e outros seres? Vamos esperar que eles herdem um planeta sem remédio? Ainda há tempo...

P.S: Foi uma briga para escrever este texto, o blog não queria abrir...


6 de outubro de 2009

Da arte de escrever

Escrever é algo muito engraçado. Às vezes se quer escrever e não se encontram as palavras justas para expressar o que se quer dizer. Outras vezes as palavras saem aos torrentes, aparecem na mente de um momento ao outro, como querendo pular para o papel (ou a tela, claro). E enquanto mais se escreve, mais vontade se tem de escrever.
Escrever é uma arte, é uma paixão. Poder expressar o que se sente, poder desenhar com palavras paisagens inteiras, descrever emoções, inventar vidas, situações, pessoas, mundos inteiros. Ou falar do próprio mundo, opinar, tentar mudar um pouco as coisas. As palavras são armas. Não se alguém já disse isso. E podem ser bem usadas, ou mal usadas.

As palavras sempre chamaram minha atenção. Não elas em si (para gramática nunca fui boa, confundo tudo...) mas o que elas transmitem, o que expressam. São meio que um enigma para mim. Me falam que eu escrevo bem, mas não sei realmente se o faço. Foi uma surpresa para mim a primeira vez que ouvi dizer isso. Não que seja falsa modéstia, alias, sempre quis ser escritora, mas ouvir as palavras concretas de elogio é algo diferente do sonho. Muitos podem querer escrever. Ou pintar quadros. Mas do querer ao fazer há muita distancia.

Eu escrevo. As vezes gosto do resultado. Outras vezes não. Desde cedo tentei escrever histórias, contos, sei lá, qualquer coisa. Achei os resultados muito chatos. Muitas vezes nem terminei. Mas o tecido dos textos, a arte de misturar as palavras de tal forma que se tornem um conjunto interessante, coerente e compreensível, isso é um mistério para mim.

Escrever. Todo mundo escreve: scraps no orkut, e-mails, trabalhos para a escola, apuntes no trabalho. Mas isto não tem nada a ver com arte. É a arte convertida em simples ferramenta. Escrever de verdade é algo que se faz com vontade, com amor. Os grandes escritores não escreveram enquanto tinham um tempinho livre, ou quando passavem comerciais entre as novelas. Eles se dedicaram. (Disciplina. Algo que eu ainda estou procurando. Não que não tenha, só tenho pouca). Mas os sonhos se construem, e a vida nos é dada para desvelar os mistérios que nos encontramos pela frente. Como a caixinha de música se abre para entoar uma melodia nunca ouvida, as palavras surgem do fundo da mente, do coração, para descrever coisas que se encontravam ocultas, que não existiam. Assim, não existia o mundo de Nárnia até que C.S. Lewis o criou (de um modo magistral, tenho que apontar). Cada um tem seu próprio mistério. O enigma do músico se encontra no seu instrumento que, antes de saber tocar, era inútil e sem sentido para ele. Aprendendo a tocar, dominando seus segredos, se abriu para ele um mundo novo de sons, melodias e músicas emocionantes. O mistério do médico é o corpo humano. E assim, cada um vai na vida, conhecendo, aprendendo a desvelar seus mistérios.

Eu estou começando minha caminhada. Mas quero desvelar o mistério. Enigma das palavras, que podem se fazer chatas como num livro que a gente não gosta, ou envolventes, como nos livros que chegam ao coração e não saem mais. Espero que desvelando meu mistério tenha algo para oferecer. Algo para ensinar. Mas também algo para me revelar a mim mesma, isso que eu sou e que até agora tão pouco conheço.

A Colômbia que ninguém conhece

Como colombiana que mora em outro pais (e tenho morado em dois até o momento) tenho ouvido falar muito do meu pais. Não no jornal, é claro. Não sobre como é belo, ou sobre o que está acontecendo atualmente nele. Alias, ninguém fala da minha Colômbia. Falam de clichés, zoam sobre o sofrimento dos colombianos, riem às nossas custas. Alguns nem sabem onde a Colômbia fica (já me perguntaram se fica perto do Marrocos). Outros nem sabem quem é o presidente, ou qual e a capital do pais. Geralmente falam da Colômbia como uma grande plantação de maconha, de coca e sei lá o que mais. Falam dos colombianos como se todos fossemos membros da guerrilha, ou gostássemos muito das FARC. Acham que vivemos drogados, ou traficando drogas. E ninguém sabe. Ninguém nunca foi pelo menos para dizer que sabe como são as coisas. Ninguém viveu nunca na pele a dor que os colombianos carregamos no coração.
Dor pela pátria. Dor pelos compatriotas que não podem morar tranquilos em suas terras, que têm que abandonar tudo porque a guerrilha ou os paramilitares os obrigaram. Dor pelas famílias massacradas, pelos filhos sem pais, pela violência que tinge de vermelho a nossa terra preta, tão fértil e bela.

É muito fácil debochar quando não se conhece de perto a situação real. É fácil falar mal, e fácil rir e simplificar tudo a uma plantação de drogas. Mas quando se viveu uma grande parte da vida num pais que foi o berço, quando depois de muito tempo fora, com a saudade enorme que mora na alma, crescendo a cada dia, se ouve ainda falar besteira da própria nação, cresce a ira. Cresce a vontade de mandar todo mundo calar a boca. Quem dera eles fossem, conhecessem de verdade o pais que tanto denigram, olhassem de perto a beleza e a realidade da Colômbia.

Colômbia é um pais de lutadores. Além da desigualdade típica de um pais latino americano, se convive com a violência desde cedo. No jornal, na televisão. Mas não é só isso que existe em Colômbia. Em nós prevalece sempre a esperança. Esperança de que um dia a terra descanse. Que um dia o sangue deixe de ser espalhado. Que um dia a justiça chegue, as mágoas sarem, a vida prevaleça e a paz reine.

Colômbia e um pais belo. Bogotá é uma cidade que cada dia mais melhora, cresce, se desenvolve. A cidade mundial do Livro. O campo é fértil, as diferenças climáticas permitem o cultivo dos mais variados tipos de verduras, frutas, legumes. Viajando três horas desde Bogotá se passa do frio da cidade ao calor do interior, descendo a montanha. A paisagem muda, o gado é diferente, as vaquinhas brancas com preto dão lugar aos imponentes cebú. E o mar. E as ilhas: As ilhas do Rosario, a bela San Andrés. Com um mar perfeitamente azul, areia completamente branca. E peixes. Corais enormes, caranguejos. Providência e Santa Catalina com sua Ponte flutuante, colorida como a alma dos moradores do lugar. Como a alma dos colombianos.

Em Colômbia já vi terra preta, e já vi terra vermelha como o sangue. Já conheci a terra do café, Quindío, e visitei a planície. Já passei aventuras inacreditáveis, andei de cavalo, nadei no rio. Em Bogotá fui no Museu das Crianças (que até hoje não vi igual em nenhuma outra parte), conheci Maloka (outro museu único e divertido). Visitei a cidade velha (La Candelaria), com suas ruas estreitas e suas casas coloniais, cheias de histórias de fantasmas. Cheias de história pátria. Estudei de frente para o parque de atracções mecânicas. Fui nas livrarias. Quase passei tardes inteiras na biblioteca. Em Colômbia a cultura é importante. Dai saiu Fernando Botero, nela nasceu o grande Gabriel García Márquez. Foi em Colômbia onde se inventou a cumbia, onde nasceu o vallenato. E surgiu Rafael Escalona. E Alejandro Durán. Nela também nasceu Shakira (se bem que não gosto particularmente dela), e se formou Juanes.

A minha pátria tem problemas, como todos os outros. A violência mancha o que temos de belo, esconde o que temos de bom. E o mundo não vê o que realmente importa. Nestes anos todos morando fora do meu pais, só tenho ouvido falar dele no jornal em casos de violência, de tráfico de drogas. Mas ninguém fala das coisas boas que se fazem na Colômbia. Ninguém fala do Dia sem Carro, do Dia das Bicicletas. Ninguém fala do Natal iluminado de Bogotá, das bibliotecas que se construem, do Transmilênio. Ninguém sabe das águas termais que ficam perto da cidade, das cachoeiras, dos parques, represas e reservas naturais. Não se conhece a alegria dos colombianos, a sua vontade de sair adiante, de melhorar. O seu respeito por quem nos visita (diferentemente a... deixo para vocês refletir), a sua vontade de agradar. Sequer se fala dos que sofrem, dos camponeses que ficaram sem lar, dos sequestrados que há mais de dez anos estão longe de suas famílias, penando pela maldade de um grupo armado. Como se só Ingrid Betancourt tivesse sido sequestrada.

A Colômbia é mais que drogas. Muito mais do que violência, guerrilha e narcotráfico. Alias, a guerrilha e os narcotraficantes não representam a Colômbia. Eles não têm nada a ver com quem sofre. (Bem, alguns militam forçados, outros não têm muitas opções. Eles são vítimas, mas viram vitimários). Colômbia não é representada pelas quatro letras das FARC, nem pela droga que e consumida em tantos outros países. Os mesmos países que debocham de nós (haja ironia nesta vida). Somos mais do que um cliché. Somos mais do que uma piada.

E quem ri, não sabe. Quem faz piada ignora. E como se diz na Colômbia, a ignorância e atrevida. Que vergonha. É vergonhoso falar do que não se sabe, nesses casos geralmente só se falam abobrinhas. Que a Colômbia que ninguém conhece possa, algum dia, descansar em paz. E que quem aponta o dedo contra ela, contra nós, veja a si mesmo, e cale.

5 de outubro de 2009

Do valor da dignidade

Depender dos outros é muito chato. Isso é algo que já sabia mas experimentar em carne própria só confirma o pressuposto. Só que confirmação dói na carne. Não que seja desagradecida. Aliás, se agracedece o sustento, é uma bênção de Deus.
Porém, quando quem te sustenta acha que por você depender dele, ele tem direito ilimitado sobre a sua vida, as coisas mudam. Não direito no sentido de chefe-escravo. A questão é mais sutil. É direito de maltratar a dignidade. Em termos mais simples, humilhar a vontade.

Uma coisa é ter um caráter brincalhão. Outra coisa é zoar o próprio ser das pessoas. Uma coisa é que o carioca seja engraçado. Outra que não respeite os sentimentos alheios. E quando se depende de alguém que cada dia, em público e em privado, muitas ou poucas vezes, magoa a própria dignidade, a própria identidade, o ser dói. O orgulho ferido vai sendo guardado no coração, que, pouco a pouco, se enche de raiva, de rebeldia.

E um dia a taça se enche. E um dia o coração ferido acorda os sentidos, e se percebe que não vale a pena. Não vale a pena estar numa prisão de desrespeito, engaiolar a dignidade por simples dependência económica. Não vale a pena vender a dignidade por tão pouco.

E sim, não há dinheiro. Sim, é uma grande ajuda. Mas, é mais importante isso do que sentir-se bem consigo mesmo? Estar em paz e com um coração limpo de ressentimentos e mágoas me parece algo mais importante do que uma efêmera e muito incerta estabilidade monetária.

A vida é mais do que dinheiro. E as vezes o que aparenta ser uma bênção vira um pesadelo. Uma vida degradada e vazia, cheia de raiva e mágoa. E não vale a pena. A dignidade não tem preço.

18 de setembro de 2009

A letra escarlate e o costume

Nestes dias li e me apaixonei pelo livro "A Letra Escarlate", de Nathaniel Hawthorne. A medida que o lia imaginava todas as coisas que poderia escrever sobre ele. Lamentavelmente não tinha um computador por perto... mas este livro maravilhoso, reflexo do pensamento de uma inteira sociedade, colonizadora das então terras virgens dos Estados Unidos, tem muito para nos dizer.

Uma coisa que eu amei do livro é como ele mostra, tão claramente, o impacto que a sociedade tem sobre a vida das pessoas. Os protagonistas viviam numa sociedade rigidamente puritana, onde as crianças não podiam brincar e onde todos os aspectos da vida tinham a ver com a religião (pelo menos aparentemente). Um pastor era santo só pelo cargo que tinha. E um pecador era irremissivelmente condenado ao fogo do inferno, de acordo com a gravidade do seu pecado.

O autor faz um tecido maravilhoso de consciências humanas, costumes, ideias. O pastor e a mulher. Unidos pelo pecado. Afastados pelas aparências. E a consequência do seu pecado, manchada no caráter por este mesmo pecado.

Hester é um modelo de sofredora. Numa sociedade que tinha esquecido que Deus é misericordioso e perdoa o pecador, que tinha degradado Hester a mais ínfima das posições na escala social, rejeitada, humilhada e criticada por todos, evitada como se tivesse uma doença mortalmente contagiosa, ela luta por viver. Ela não foge, aceita sua condenação com paciência, consciente de que é merecida. (Aqui tem um aspecto da mentalidade daqueles dias.) Ela vive sua vida procurando apenas se manter e manter a sua filha, a quem não entende. Borda com paixão o seu martírio, a letra vermelha, como se fosse algo digno de orgulho e não de dor. Nem acusa ao pastor, covarde e mentiroso, pela sua ação. Ela é rebelde, no meio de tudo. Não se deixa levar pelas humilhações, não desiste. Continua sempre, fazendo cada vez mais belos trabalhos, vestindo a sua filha como se fosse uma princesa.

O pastor Dimmesdale. O hipócrita. Tanto nessa época como hoje, tantos vão por ai com uma máscara de santidade, mostrando ao mundo o bons e virtuosos que são. Mas o autor não o deixa impune. Ao contrário de hoje, a sociedade de outros tempos tinha consciência dos seus atos. Se ninguém sabia o adultério do pastor, Deus sabia. E ele sabia disso. Por isso sua alma foi cada vez mais atormentada, suas leituras da Bíblia não lhe revelaram o amor e a compaixão de Deus. Se sabia condenado para sempre. (Conforme ao pensamento puritano da época) E queria confessar. Muitas vezes quis confessar. Porém, as aparências ganhavam. O medo do que os outros falassem, o medo de afrontar as consequências do pecado fechava a sua boca, fazendo-o mais culpável, por deixar a mãe da sua filha afrontar a punição sozinha. Esta personagem vive ao longo do livro um conflito intenso, que o desgasta, o martiriza mais profundamente do que a letra fazia com Hester, acaba com a sua razão e com sua vida. Ele foi vítima do seu pecado, afinal. Seu pecado maior, que não foi o adultério. Foi a hipocrisia.

Pearl. "Filha do pecado", o autor lhe da um caráter ao mesmo tempo rebelde e independente, original. Ela, ao ser gerada fora dos padrões estabelecidos pela sociedade, nasce diferente aos outros. É única. Sua mãe não a entende os outros a rejeitam. Pequena e linda, desde cedo aprende a se defender dos outros, das opiniões dos outros, dos ataques dos outros. Se afasta assim do contato humano, não só dos que a rejeitam, mas também da sua mãe, que como já disse, não sabe como lidar com ela. Nathaniel Hawthorne faz de Pearl o reflexo do seu pensamento. Ele era puritano convicto, mas dentro de si não aceitava as convenções. Achava injusto o que eles fizeram com Hester. E assim, fez de Pearl uma criatura livre de convenções humanas, flutuante, livre como um pássaro, que é a descrição mais frequente que ele faz da menina. Porém, o autor se recusa a condenar completamente a sua sociedade. Assim, Pearl, o passarinho livre, só vira ser humano completo, só fica gentil e amorosa com sua mãe e os outros quando o pecado do pastor é revelado, quando ela descobre a sua culpa, ou melhor, a culpa dos seus pais, e entende porque ele andava sempre com a mão no coração, e porque sua mãe carrega a brilhante letra escarlate no seio. O pecado revelado da à menina uma consciência moral que ela não tinha.

O médico Chillingworth. O marido traído. O vingador. A outra face do pecado. Ele é vítima, mas ao empreender o seu plano de vingança contra o pastor, vira um pecador também. Ele é muitas vezes comparado com o demônio, feito inumano por guardar maldade em seu coração contra outro ser humano. Hawthorne escreve tão bem que se pode até imaginar seu coração apodrecendo no meio do peito, comido pelo rancor.

Este livro espelha não somente os costumes da sociedade puritana, suas crenças, seu folclore, mas também é uma janela para o caráter e pensamento do seu autor. Ele nos faz refletir muitas coisas, como o peso da sociedade sobre as pessoas, a grande parte que os costumes e ideologias de cada sociedade têm na vida privada do indivíduo, na sua própria consciência. Na atualidade um casal de adúlteros seria apenas mais um do montão, o caso se resolveria tranquilamente com o divórcio e os "pecadores" nem estariam ai para o que os outros pensassem. Mesmo na igreja, muitas coisas se fazem em baixo do tapete, desde que nenhum irmão saiba, tudo bem. A nossa conciência cada vez mais está ficando adormecida, relativa.

É interessante ver, no livro, como as personagens se debatem com a sua consciência, que foi sendo formada desde seu nascimento, conforme às crenças, conforme ao que se considerava bom e correto. Hester, que aceitou a culpa e o castigo, se pergunta se algum dia Deus irá perdoar ela. O pastor, cuja culpa está escondida às consciências de todos, se atormenta pela sua hipocrisia e porque sabe que, apesar de tudo, Deus sabe de seu pecado. E se acha mais condenado ainda que Hester, pois sua covardia não o deixou confessar o crime. O doutor, tão entregue está à sua vingança que não pensa em Deus, nem na piedade, nem na salvação. Só no final admite ser condenado, também, pela sua maldade.

Esta consciência de culpa é totalmente oposta ao nosso cristianismo moderno. O pessimismo antropológico de Lutero ficou no passado. Agora sabemos que temos perdão. O Deus da Bíblia não nos condena, ele tem misericórdia de nós. E ai temos outro ponto de reflexão. As diferentes interpretações da Bíblia. Como é possível que esse pastor, que pregava cada domingo um belo sermão, que lia a Bíblia com devoção, não tenha encontrado nas suas leituras a misericórdia e o perdão de Deus que nós lemos, que nós encontramos? Como a concepção de Deus pré-moldada que se tem na sociedade pode estabelecer os parâmetros para entender o que lemos? E ainda dizem que cada um interpreta ao próprio modo. Cada um interpreta seguindo o modelo que aprendeu desde sempre! Por mais que o pastor Dimmesdale lesse e relesse textos como João 3,16, ele nunca ia ver nele o amor de um Deus perdoador. Ia ver o amor de um Deus que ama a quem é socialmente íntegro, socialmente correto, responsável e puro.

"A letra escarlate" é um livro fantástico. A leitura é absorvente, se tem vontade de saber o que vai acontecer com tão atormentadas personagens, se sofre pela dor de Hester, da raiva pela covardia do pastor, se odeia o médico cruel. E no entanto, se conhece uma sociedade que foi precursora da atual sociedade americana (se eles vieram ver como esta USA agora!! iram morrer de novo em segundos... de um ataque). Se percebe até que ponto a sociedade pode magoar as pessoas, pode fazer das pessoas alguém digno ou alguém miserável. E se vê até que ponto estamos presos na nossa sociedade, amarrados aos nossos costumes, crenças e ideologias. E se levanta (pelo menos em mim) a rebeldia. Dá vontade de entrar na situação só para defender a pecadora, para levantar sua moral, para opinar. Mas o puritanismo já foi. Agora temos é que opinar na nossa sociedade, mudar as coisas erradas, sair da gaiola do costume.

16 de setembro de 2009

Um ano... passa voando!!

Hoje é um dia muito importante para mim. Hoje já faz um ano que estou compartilhando a minha vida com a pessoa que virou a mais importante do mundo para mim, a pessoa que mais compartilha comigo das minha vida, minhas dificuldades e alegrias, meu noivo.

Um ano é muito tempo, mas passa muito depressa. E mais quando se é feliz. Não que este ano tenha sido um mar de rosas, ou alias, tem sido um mar de rosas... sem esquecer que as rosas têm espinhos. Mas no meio de tudo é bom saber que se tem alguém para ajudar, alguém para animar, alguém que compreende quando todos os outros julgam, criticam ou simplesmente ignoram o que se passa na cabeça da gente. Alguém com o qual se fazem planos para o futuro, que se imagina ter ao lado no ultimo momento da vida, quando não importa mais o que vai ser da nossa vida.

Um ano compartilhado com alguém como meu Leo é uma experiência que quero repetir, quero passar ano após ano junto a ele, aprendendo juntos, caminhando juntos, errando juntos até. A vida passa voando, em menos de nada vou olhar atrás e ver que fiquei velha... e quero ver ao meu lado aquela pessoa especial, que envelheceu comigo, viveu comigo.

Um ano... tão pouco, mas ao mesmo tempo tanto... por alguma coisa se celebram os aniversários, seja de casamento, namoro, nascimento, alguns celebram até da morte... um ano, que passa sem nós mesmos percebermos, colocando rugas no rosto, fazendo nossas vidas mudarem ou continuarem iguais... (se bem que a vida passada ano após ano do mesmo jeito deve ser a coisa mais chata do mundo) que passa muito rápido, fazendo que pareçam poucos dias o lapso de tempo entre as datas importantes para nós(por exemplo, é muito comum ouvir por ai "parece ontem que ele nasceu", e expressões similares).

Mas um ano também pode parecer que passa muito devagar, quase não acaba, sobretudo nos momentos mais difíceis das nossas vidas, nos momentos da dor, e até mesmo quando estamos esperando por um acontecimento muito especial para nós, como casamento ou o nascimento dos filhos. Isto me leva a concluir que o tempo se mede pelas emoções, mais que pelo calendário.

Bom, para terminar, tenho que dizer que este ano que, para mim, passou voando, foi o início de muitas mudanças na minha vida, na minha forma de enxergar o mundo, na minha forma de ser. Este ano foi especial... especial como meu amor, maravilhoso como é experimentar coisas novas, sentir coisas que nunca se pensou que se poderiam sentir.

E sem meu amor, nada do que sou hoje, nada do que sonho hoje, penso hoje seria possível. Obrigada amor, por tudo. Feliz aniversário de Namoro! Hoje e para sempre, vou te amar, e vou ficar com você. Te amo.


Dedicado especialmente a Leonardo Cotta Podlyska, a pessoa a quem mais amo!

4 de setembro de 2009

E a vida sigue...

Ainda quando achamos que os nossos problemas não têm solução

Mesmo depois da dor, da decepção e do desânimo

Mesmo quando não sabemos o que será de nós no dia de amanhã

Sigue sem ter compaixão, impassível ao que sintamos ou pensemos. E a vida reclama ação. Não podemos simplesmente ficar olhando-a passar, pois ela nos agarra, nos obriga a caminhar com ela. Nossa vida sigue, dia após dia, e temos que vivé-la com ânimo (ainda quando não o temos), com coragem, com vontade.

A vida sigue, sigue até o nosso fim, e quando um dia olhemos atrás, vamos ver suas marcas no mundo... mas isto só acontecerá se a vivemos de verdade, se a aproveitamos, se a pegamos e a desfrutamos em cada momento, em cada minuto, se sofremos de verdade as nossas dores e gozamos de verdade as nossas alegrias. A vida que deixa marcas é aquela vivida intensamente, relevante num mundo apâtico, interessada em mudar as coisas ao seu redor.

Sim, a vida sigue... estamos vendo-a passar o estamos caminhando com ela?

1 de setembro de 2009

Vida Frágil

Semana passada aconteceu uma tragédia pessoal que me fez pensar no frágeis que somos. Nós sabemos que algum dia vamos morrer. Temos consciência disso, só que nunca esperamos a morte hoje, nem amanhã. Sempre a vemos como algo que virá lá longe. E quando ela vem e leva com ela alguém querido, alguém que pensávamos que viveria até chegar à velhice, alguém que tinha tudo para continuar com vida, vemos que não somos nada, que não somos donos dos nossos dias, que a morte está por perto, e que não vai avisar quando ela vir por nós.

E ai tantas confusões, tantas dúvidas e problemas, tanto caos que formamos dentro de nós mesmos, atormentando os nossos dias sem saber como parar, ficam de lado. E vemos que a vida é mais que problemas, mais que dúvidas, mais que lamentos. E que devemos aproveitar cada minuto dela, porque talvez em cinco minutos já não estejamos neste mundo.

E pensamos em Deus. Pelo menos eu pensei em Deus. No meio de tantas coisas que se falam de Deus, no meio de tantas versões de Deus (Deus caixa de banco, Deus-faz-milagres-quando-eu-quero, etc), no meio de tantas dúvidas e tantas palavras faladas por ai, vi que Deus é, sobretudo, esperança. É bom saber que ele nos cuida. É bom saber que ele nos ama apesar de sermos tão fracos e falhos e ruins. É bom saber que ele está conosco nos momentos mais tristes da nossa vida. E é bom saber que quando morrer, estaremos com ele. Talvez seja algo que nem todos acreditem, mas é o que me da forças, é o que eu acredito. Algo tão simples de pensar, que ainda não entendo porque as pessoas pegam essa esperança e a colocam numa caixa fechada, à qual se tem que chegar por meio de rituais, sacrifícios, coisas faça-não faça. Como se Deus ligasse para as convenções humanas. Como se ele se interessasse no tamanho da saia, do cabelo, da alcinha da blusa. Como se ele classificasse as pessoas pelo seu jeito de vestir e se expressar. Para mim o que Deus vê é o coração. Está escrito na Bíblia, essa Bíblia que é tão usada por ai, tão levada em baixo dos braços de tantos, mas que muitas vezes é usada só de adorno, ou para tirar dela coisas que ela não diz.

Talvez seja bom não pensarmos que vamos morrer. Se vivessemos pensando isso, nada fariamos, viveriamos com medo, medo de morrer. Mas também não podemos deixar de ter consciência da nossa fraqueza. Somos frágeis, devemos nos cuidar, e sobretudo aproveitar ao máximo o que a vida nos ofereça. Mesmo nas dificuldades mais difíceis, onde nos sentimos presos, como se não tivessemos saída, devemos lutar, esperar, sonhar. E saber que Deus está conosco. Isso dá um consolo à alma que é difícil sentir imaginando que estamos sozinhos no mundo. Que bom que Deus cuida da nossa vida frágil!

20 de agosto de 2009

Voltando...

Depois de um mês e meio sem escrever nada, afastada da internet e deste meu blog, voltei com tudo. Hum... com tudo... não sei, acho que ainda tem um leve desânimo por ai, mas fazer o que. Está sendo um ano bastante difícil emocionalmente. Porém tem muitas coisas que tenho acumuladas e por fazer, tenho obrigações que cumprir e o estudo... tenho que me concentrar no que vale a pena, nê?

Bom, depois do desabafo obrigatório (afinal o blog é bom para desabafar...), só quero dizer que o mar está morrendo. Estamos fazendo dele o nosso grande lixão. Até quando vamos tomar consciência? Os corais estão morrendo, abafados pelo lixo que é jogado no mar, desde eletrônicos até camas, cadeiras, celulares. As piadas dos Simpsons, que achamos tão engraçadas, só refletem a nossa realidade e a nossa irresponsabilidade...

Outra coisa, ainda tenho dúvidas sobre metade das coisas que ouço falar por ai... ainda estou muito desconfiada das pessoas, sobretudo aquelas que andam por ai com carinha de "santas"... ainda fico pensando na sinceridade de certos cantores, pregadores, mercenários que usam o nome de Deus como eles bem entendem... já até ouvi falar de um martelo que faz milagres!!
Talvez estou sendo excessivamente crítica (na verdade sou consciente que sou mesmo uma crítica extrema), mas... o que posso fazer? Cada dia vem com um novo absurdo!
Bom, o importante é agir, não ficar só na crítica... porém as vezes queria voltar a ser aquela ingênua que achava tudo tão liiiiiindoooo, tudo tão "espiritual"... o que é pior?

Para finalizar, falo o mesmo que no início: voltei... bem ou mal, aqui estou, com um novo semestre para enfrentar, dudas, medos e confusões que ressolver, muitas pessoas das quais sentir saudades... bastante para estar ocupada por agora!