8 de agosto de 2011

De Preconceitos, Estereótipos e Hipocrisia

Preconceito é algo que muitos sofrem, mesmo que não sejam homossexuais, negros ou membros de minorias. Na sociedade as pessoas são frequentemente estereotipadas, e aquele que sai do padrão é objeto de preconceito. Eu quero falar aqui de certo tipo de pessoas que sofrem de bastante preconceito, que são bastante estereotipadas, mesmo que não se fale do assunto nos jornais. É conhecido que os "crentes", os "evangélicos", são um grupo bastante estereotipado. Para o resto do mundo, crente é aquele que não bebe, não fuma, não dança, usa cabelo comprido, não se maquia (dependendo da denominação), só sabe falar de Jesus e é alguém que se deixa manipular. Eu não concordo com este estereótipo. Para mim cada cristão é livre de pensar e de agir, de vestir como quer, dançar se ele gostar, fumar se quer morrer cedo, enfim, não há um caixão onde enfiar todos os crentes.
Mas o que me interessa aqui é falar dos líderes, e sobretudo, as esposas destes líderes. Dentro da igreja se tem a ideia de que esposa de pastor é uma espécie de sombra do pastor, que fica atrás dele, trabalhando junto com ele em todas as atividades que existam. A mulher do pastor não pode vestir de certa forma, não pode fazer isto ou aquilo, e os filhos não podem ir a certos lugares, não podem ser isto ou aquilo, e devem fazer isto ou aquilo outro. Como se fossem uma família de alienígenas, que devem ser diferentes do resto da comunidade só porque são o líder e a sua família. Isto se aplica, em maior ou menor medida (depende da igreja), também às famílias dos ministros de música e de quem for líder da igreja. E assim, existe um estereótipo de mulher de pastor perfeita, de filhos de pastor perfeitos, de líderes perfeitos. E se esquece que as pessoas têm direito cada uma à sua individualidade, que as pessoas não se casam com uma pessoa pela sua profissão e sim pelo seu caráter, que cada indivíduo tem o direito de procurar a sua felicidade e pôr em prática suas habilidades, que ninguém pode regulamentar as vestes ou o modo de pensar de alguém só por ser casado ou ser filho do líder.
E quem quer sair do estereótipo sofre preconceito. É alvo de críticas, é rejeitado, pressionado a assumir o padrão predeterminado. Isso sob ameaça do líder "perder seu cargo" (Não que se fale isso na cara da pessoa, mas o que se subentende é que "isso atrapalha o ministério...")! Quem disse que mulher de pastor é a sombra do pastor? Quem disse que mulher de pastor, que filhos do pastor não têm vida própria? Acaso os filhos do pastor nasceram com auréola na cabeça só pela profissão do pai? São descendentes de anjos ou algo assim? E a mulher de pastor deixou de ter personalidade, opiniões próprias, desejos de realização pessoal, gostos, afinidades, só porque o marido é pastor? A cobrança que a igreja faz sobre a família dos líderes é irracional, é injusta, porque o que se exige dos outros, o que se exige deles não é realizado por aqueles que exigem. A família do pastor tem que estar enfiada na igreja, tem que fazer tudo, estar sempre lá, enquanto eu não posso, estou cansado, trabalho, tenho que sair... assim é bem fácil!
Desse preconceito ninguém fala, e quem o sofre só tem duas alternativas: ou se submete ou se rebela. Quantos filhos de pastor revoltados com a igreja não há por ai? Mas se se rebelam, sofrem mais ainda o preconceito, são duplamente mal falados, são alvo de mais julgamentos. E o pior é que geralmente ninguém se dispõe a se importar com a pessoa, a perguntar como está indo a vida dela. Para o resto do grupo, a família do pastor não é composta de pessoas, mas de papéis a ser desempenhados. 
E eu me pergunto, no meio de tudo isso, onde fica o amor cristão? Onde fica o "não julgueis para não ser julgados" e o "cuidado com a língua"? As igrejas em geral sofrem de uma doença crônica de hipocrisia e de fofocas, parece que as pessoas se acham santas por não roubar, não matar, ir à igreja todo domingo, e isso lhes dá a liberdade de falar mal dos outros, de aqueles que depois vão chamar de irmãos. E quando se trata da família dos líderes, ai é que as línguas se afiam! Ai é que as máscaras se fazem universais, e os dedos mais prontos para apontar "falhas" e "defeitos". Que vestiu ou deixou de vestir, fez ou deixou de fazer, que o filho do pastor não pode ir na tal festa, que a esposa de pastor não pode vestir shortinho. E biquíni então, vira veste do capeta! E o amor de Deus, tudo o que Jesus pregou, até as músicas que se cantam, onde fica tudo isso? Como se pode cantar que somos irmãos, que somos um em Jesus, que vamos unidos em comunhão, e depois falar mal dos irmãos? Falar mal dos líderes e de suas famílias? Cadê a prática do cristianismo?
As igrejas esquecem que os líderes são pessoas iguais a elas. Que sofrem igual, têm lágrimas também, se cansam, pensam, sonham, e que as suas famílias têm sonhos, que são feitas de indivíduos. Não são uma massa grudada ao líder. Cada membro da família é único e independente. Esse negócio de que líder deve ser mais santo é uma desculpa furada. Ser humano é ser humano, não há ninguém mais perfeito ou melhor que os outros.
O estereótipo de família de pastor (e de forma mais ampla, as famílias de todos os líderes) deve desaparecer. As igrejas precisam reconhecer a individualidade dos membros da família do seu líder. Afinal, os filhos do pastor não escolheram os pais, e a mulher dele não casou com a sua profissão. Se tiver vocação para ajudar na igreja bem. Se não tiver, deve se respeitar sua postura. A família dos líderes deve deixar de ser vista como os alienígenas perfeitos que se exige que sejam, e passar a ser vista como simples membros da igreja, iguais a todos os outros. Além disso, a igreja deve deixar de prestar atenção no que os irmãos fazem ou deixam de fazer. A hipocrisia está acabando com as igrejas. O pior é que a pessoa não tem tempo para dar um alô para o irmão, chama-lo para um jantar em casa, mas todas as fofocas ao respeito dele sabe de cor, e tem tempo ainda de falar mal dele com os outros. A fofoca é um problema grave, um pecado como qualquer outro. Ninguém tem o direito de falar mal dos outros, sejam líderes ou não. E se alguém tiver queixas sobre o líder, fale com ele. Não pode ficar falando pelas costas dele. Os preconceitos e os estereótipos na igreja devem cair! As famílias dos líderes devem ser liberados do peso do estereótipo, devem poder ser livres para viver sua individualidade como cristãos e como seres humanos!

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