15 de maio de 2011

Literatura policial e a destruição do assassinado

Nestes últimos tempos não tenho escrito muito aqui. Tenho passado o tempo de desempregada lendo, e lendo bastante, graças à biblioteca daqui, que, mesmo não tendo muitos livros, tem bastantes volumes interessantes. Depois de quatro anos lendo textos acadêmicos dei um descanso e passei a ler romances. Romances policiais, de amor, suspense, comédia, enfim, estou lendo à vontade.
De todos os livros que eu gosto, eu desfruto bastante o gênero policial e de suspense. Na minha vida de leitora eu tenho lido livros policiais de diversos tipos. Os clássicos, tipo Agatha Christie e Sherlock Holmes, os modernos, que parecem um CSI, os sangrentos, os que combinam humor. E devo dizer que gosto mais dos livros tipo Agatha Christie. Nada contra os livros de suspense modernos, onde os policiais esperam as provas forenses, os patólogos fazem as próprias pesquisas, tipo Kay Scarpetta, e onde os detetives se apoiam bastante nas provas de DNA e afins. O negócio é que o leitor não participa do desenvolvimento da obra. Ele simplesmente lê, esperando para saber a identidade do assassino quando o autor decidir, depois de ter descrito as provas, os parentescos estabelecidos pelo DNA e o tipo de fibras que foram achadas na cena do crime. Já nos livros da Agatha Christie o leitor recebe uma série de pistas, que, colocadas no lugar pelo grande Poirot, por Miss Marple ou algum outro dos personagens da Christie, dão como resultado a identidade do assassino. E o leitor pode tentar descobrir, pretender saber ou adivinhar quem é esse assassino tendo como base essas pistas. Não que a gente descubra. Eu pessoalmente às vezes soube quem foi, mas não é algo que aconteça sempre. Mas é muito legal se sentir parte da obra, como sabendo que a Christie escreveu o livro como um desafio, cada página dizendo nas entrelinhas "tudo está aqui, agora junte os pedaços". Às vezes até Poirot fala isso para seu amigo Hastings. Por isso, devo dizer que livros policiais como os da Agatha Christie, são dos que sempre vão estar em auge. Pelo menos essa é minha opinião.
Os outros livros são interessantes. Tem alguns que são séries, como a já mencionada Kay Scarpetta, criação de Patricia Cornwell. Os primeiros livros são muito interessantes, desses que prendem o leitor do início ao fim, apesar de saber que no final ela sempre vai ser perseguida pelo criminoso e este vai ser preso ou morto. Mas depois os romances passam de livro policial a livro rosa, com as aventuras amorosas da patóloga e da sua sobrinha gay em primeiro lugar, e os crimes e situações, cada vez mais absurdos, em segundo. P.D. James escreve outra série, brilhante e às vezes melancólica (e quem não gosta de melancolia quando bem colocada na trama?) de livros detetivescos, com o inspetor chefe Adam Dalgliesh.
Eu tenho lido muitos livros policiais, alguns memoráveis, alguns meio devagar, desses que fazem minha irmã parar na segunda página por falta de ação, outros muito cômicos, outros tão sangrentos que chega a dar repulsão ou ainda alguns clássicos (além da Christie não se pode esquecer Conan Doyle). Os livros policiais são parte importante do meu repertório de leitura. Eles me entretêm, e também me fazem pensar um pouco. Mortes violentas não acontecem, infelizmente, somente nos livros ou na tv. O mundo está cheio de violência e de insegurança, de pessoas doidas, cruéis, cheias de ódio contra o próximo ou simplesmente gananciosas ou passionais, e há mortes. Além, claro, dos mortos decorrentes de guerras. E uma coisa que eu penso ao terminar de ler um romance policial é que essas vidas, das pessoas assassinadas, foram truncadas. Seus sonhos, suas metas, desejos, tudo foi roubado. Claro que são só personagens de um livro. Mas no mundo real há muitos que são mortos. E suas vidas, com isso, são roubadas das suas possibilidades. Uma pessoa com sonhos, expectativas, lutas, que em determinado momento perde a vida, perdendo com isso tudo o que poderia ser e fazer, tudo o que poderia realizar no mundo. E filhos são roubados dos pais, maridos das esposas e vice-versa, parentes, amigos. O assassinato é a destruição total do ser humano. E isso me deixa uma certa tristeza pesando no coração. E penso na minha Colômbia, onde tantos morrem a cada dia, por causa da guerra, por causa da injustiça, por causa da intolerância.
Para terminar, uma última reflexão: os livros policias são uma distração, um desafio a descobrir o culpado, uma descarga de adrenalina. Seria tão bom se assassinato fosse só isso. Mas na vida real não tem nada a ver com distração: significa dor, significa destruição. E não posso entender como alguém, que se proclama civilizado, pode sair às ruas a comemorar o assassinato de um ser humano. Mesmo quando o morto é um "terrorista", mesmo que ele mesmo tenha sido um assassino. É desumano vitorear a morte. É absurdo. E não leva a nada, só criando um ciclo vicioso de ofendidos e vingadores. Quando as Torres Gêmeas cairam, muitos árabes celebraram a morte de inocentes. Quando Bin Laden morreu, muitos americanos e outros celebraram sua morte. E o único que ficou foi mais dor, mais mortes, mais lágrimas, e agora o Paquistão sofreu um atentado, e o mundo continua seu ciclo de violência e de dor. E a hipocrisia nessa (e muitas outras questões) está aí, mas ninguém fala sobre isso. Porque Bin Laden matou muitos, mas os americanos mataram muitos outros, mesmo se proclamando os mocinhos da história. Porém, ninguém é inocente quando se fala de morte.