2 de junho de 2010

Da Saudade Quando Vem Às Vezes

Estes dias minha mãe me disse que minha vó, que está chegando da Colômbia neste mês para o meu casamento, perguntou o que eu queria que ela trouxesse. No momento me deu branco, como sempre me acontece nessas ocasiões. Mas eu fiquei pensando, pensando em tudo aquilo que há tanto tempo não vejo, não cheiro, não como. Muitas coisas que só Colômbia tem, muitas coisas boas para comer, para se ver, para cheirar.

Eu escrevi à minha vó a lista do que quero que ela traga. Mas enquanto espero, fico aqui com a saudade, que acordou ao me lembrar da minha terra, da minha vida lá, de tudo o que aconteceu nesses 17 anos em que não fui estrangeira no mundo, e me lembrei da minha escola, que, comparada com o modelo que tenho aprendido do que é escola aqui, é muito boa, dos meus amigos, das festas à tarde depois da escola, dos cinemas que pegava com minha irmã enquanto meu pai e meu irmão estavam viajando visitando meu avô. Me lembrei dos momentos ruins em que quase ficamos doidos, meus irmãos e eu, e de tudo o que fazíamos quando éramos crianças, como ir àqueles acampamentos de férias nos quais não me dava bem com as meninas da turma, nos quais aprendi a fazer velas e desfrutei bastante a piscina, ou quando as novelas na Colômbia ainda eram algo que valia a pena ser visto, e todos ficávamos juntos para assistir "Betty la Fea" ou "Pecados Capitales"...aqueles tempos em que pensava que ser grande era uma coisa para acontecer em um futuro tão remoto!

E é que a saudade, quando vem, vem com tudo. Não só traz a lembrança das coisas que se queria poder ver, mas também dos momentos vividos, dos problemas passados, das lágrimas choradas e até dos gatos perdidos (que foram dois, os dois morreram por andar na rua quando não deviam, graças à minha mãe e sua frase "coitados, eles sempre fechados em casa...").

É bom se lembrar das coisas. É bom se lembrar de onde viemos, lembrar as ruas pelas que andamos, os momentos simples que vivemos e que, no momento de ser vividos, pareciam tão complicados. É bom se lembrar da adolescência, com as crises de identidade, quando não se encaixava em nenhum grupo estabelecido (até hoje creio que não mudou, sempre tem os nerds, aqueles "bonitos", aqueles "populares", depois vem o resto... que era onde eu estava), quando se pensou que perder uma matéria da escola era o fim do mundo. Ah tempos bons, quando os problemas que se enfrentavam eram tão simples! Quando ainda se pensava que os pais resolviam as dificuldades das nossas vidas e que eles eram os responsáveis pelas nossas necessidades. Bons tempos... quando o mundo parecia uma coisa tão alheia e as injustiças dos poderosos não estavam nos pensamentos centrais da vida... quando o importante era saber o que se fazer depois da escola.

E Colômbia. As férias em Melgar, as piscinas, o "raspado", a manga verde com mel e limão, o café Dolca, o "roscón" de doce de leite, queijo e goiabada... ir aos centros comerciais, o Metrópolis, o Cafam, simplesmente para conversar com as amigas e passar o dia... Bogotá, com seus Monserrate e Guadalupe, com o centro histórico, com a "Plaza de Bolívar", cheia de pombos. E os ônibus (que na Colômbia são chamados de buseta, sem nenhuma vulgaridade na palavra), as bicicletas, o "Transmilenio". E a vida em casa, fazer os deveres de casa, lavar as louças, levar o cachorro a passeio. E meus irmãos. E meus pais. E minha vó. E meu quarto, com meus livros, minha cama, minha coberta de sempre, meu poster de Garfield e meu abajur de flores. O cotidiano que, visto como passado, assume um ar saudoso que não se pode mais deixar de respirar. Colômbia é um pais muito bom. Com gente boa, gente ruim, gente feliz, gente triste. E muita dor no coração de cada um, dor pela pátria que ainda perde seus filhos, ainda se banha de sangue. Creio que essa dor é característica dos colombianos, e de todos aqueles outros povos que vivem num pais em guerra.

Sentir saudades é uma coisa boa. É uma coisa que faz valorar o que se viveu de bom, revisar o que se viveu de ruim, por se tem alguma lição, já sem sentir a dor que se experimentou na ocasião, lembrar dos amigos e dos parentes, lembrar essas coisinhas que no tumulto de pensamentos do dia-a-dia se guarda no caixão do esquecimento.

E quando a saudade chega, é bom lhe abrir a porta, e deixar que ela nos leve da mão por todas aquelas coisas que fazem parte da nossa passada existência. Faz bem lembrar da própria terra, da própria história.

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