Porém, quando quem te sustenta acha que por você depender dele, ele tem direito ilimitado sobre a sua vida, as coisas mudam. Não direito no sentido de chefe-escravo. A questão é mais sutil. É direito de maltratar a dignidade. Em termos mais simples, humilhar a vontade.
Uma coisa é ter um caráter brincalhão. Outra coisa é zoar o próprio ser das p
essoas. Uma coisa é que o carioca seja engraçado. Outra que não respeite os sentimentos alheios. E quando se depende de alguém que cada dia, em público e em privado, muitas ou poucas vezes, magoa a própria dignidade, a própria identidade, o ser dói. O orgulho ferido vai sendo guardado no coração, que, pouco a pouco, se enche de raiva, de rebeldia.

E um dia a taça se enche. E um dia o coração ferido acorda os sentidos, e se percebe que não vale a pena. Não vale a pena estar numa prisão de desrespeito, engaiolar a dignidade por simples dependência económica. Não vale a pena vender a dignidade por tão pouco.
E sim, não há dinheiro. Sim, é uma grande ajuda. Mas, é mais importante isso do que sentir-se bem consigo mesmo? Estar em paz e com um coração limpo de ressentimentos e mágoas me parece algo mais importante do que uma efêmera e muito incerta estabilidade monetária.
A vida é mais do que dinheiro. E as vezes o que aparenta ser uma bênção vira um pesadelo. Uma vida degradada e vazia, cheia de raiva e mágoa. E não vale a pena. A dignidade não tem preço.
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