O que mais me chocou foram os relatos que as diferentes pessoas envolvidas na umbanda faziam. Uma moça, que deixou de praticar a sua religião mas que não se "converteu" a nenhuma outra, contava que quando ia ao seu terreiro e tinha feito algo de errado, o preto velho dava uma "paulada" nela: montava nela, como se fosse um cavalo, e batia nela. A moça sentia dor como de pauladas, e saia do terreiro com dor de cabeça e o corpo doendo, apesar de não apresentar feridas visíveis. Também na própria casa, se ela falava alguma coisa indevida, o seu preto velho a castigava, fazendo-a voar de um cômodo ao outro da casa. Outro relato foi o de uma senhora, já anciã, que contou como perdeu a irmã. Esta última bebia a oferenda de cerveja que tinham feito à pomba-gira chamada "Rainha do Inferno", pelo qual a pomba-gira um dia montou nela e disse para sua irmã que a ia levar. A senhora contava como rogou à pomba-gira para não levar sua irmã, que tinha um filho pequeno, mas a pomba-gira não ouviu. A anciã falou para sua irmã comprar a própria cerveja, mas ela não quis, e um dia, estando no banco para receber um dinheiro, morreu. A senhora ainda contou que estando frente ao caixão da sua irmã, a pomba-gira apareceu e riu, dizendo: "Levei ou não levei?".

Um outro relato me deu foi vergonha. Um homem, envolvido na umbanda também, falou dos evangélicos, afirmando que ele como umbandista não ousa mencionar o diabo, e que não entende como os evangélicos, sobretudo da Universal, passam o tempo todo chamando o diabo. Para ele isso é querer ter o capeta por perto. Outro disse que os pastores ficam fazendo palhaçada, e quando as pessoas estão doentes chegam querendo expulsar demônios e gritando, fazendo muito barulho. Ele não gostava desse espetáculo, e por isso preferia ficar com a sua religião, novamente católico misturado com religiões afro-brasileiras. E fiquei pensando nas oportunidades que a gente perde de mostrar a essas pessoas a verdadeira mensagem do Evangelho. Agora estou lembrando de uma passagem em Atos, quando Paulo encontrou uma menina que adivinhava o futuro. Ele simplesmente chegou e a libertou em nome de Jesus. No texto não fala de gritos, barulhos ou objetos milagrosos. Não imagino a Paulo com copos de água ou sabões abençoados.
A mensagem do Evangelho é tão simples e tão libertadora! O nosso Deus é poderoso, e nos ama! E há tantas pessoas que não o conhecem, que até usam o seu nome, já que o Brasil é um pais altamente sincretista, onde, como uma mulher no filme falou, "qualquer coisa está bom, tudo dá no mesmo", onde se fala de Jesus e de Exú, onde os santos tem dois nomes, onde as pessoas assistem a missa de manhã e vão cultuar seus deuses nos terreiros à noite, onde quem vai à Universal pode muito bem "orar alguém". Deus está virando um nome, algo para juntar a muitos outros nomes e tradições. E a mensagem de Jesus se perde muitas vezes na nossa própria ignorância, na vontade de alguns de aparecer, nos ritos inúteis de pastores que usam o nome de Deus para fazer shows que nos ridicularizam, que ridicularizam o nome de Deus. Quantas vezes vi pastores expulsando demônios com paletós na televisão, querendo curar pessoas com copos de água! Só não tinha visto como isso afasta as pessoas de Jesus. Uma pessoa como o senhor do filme, para quem os cristãos são palhaços, como vai querer prestar atenção na mensagem que temos a comunicar?
Há muitas pessoas que não conhecem de Deus. E nós temos uma missão. Muitos há escravos das suas entidades, à mercê das vontades destas. Há muito a fazer. E nós, como cristãos, sabendo que temos um Deus que nos ama e que nos liberta, temos que rever a forma como estamos vivendo o nosso cristianismo. Cristianismo no Brasil muitas vezes é sinônimo de intolerância, de preconceito, de barulho, de ridículo. E enquanto se perde o tempo pregando uma mensagem que nada tem a ver com Jesus Cristo, discutindo se devemos ou não cortar o cabelo, beber, dançar, usar shortinho, expulsando demônios depois de té-los invocado, abençoando sabonetes e mandando ao inferno todo mundo, há pessoas que estão presas a suas entidades, escravas, ou simplesmente sem esperança, sem saber o que fazer com a própria vida, sem rumo e sem amor. Quando estava vendo o filme veio na minha cabeça a passagem de 1 João 4,18: "No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor." Deus é amor. Nele não existe medo. Há muitos que vivem no medo. E nós, que conhecemos Deus e o seu amor, o que estamos fazendo para que as pessoas o conheçam também?
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