A cada novo desastre que acontece, as pessoas estão ficando mais paranóicas. Se fala de fim de mundo, de aumento da maldade, de decadência da sociedade, de castigo pelas culpas. E o Deus que se descreve muitas vezes parece um carrasco interessado em destruir a vida daqueles que "não o seguem". Se o Japão sofreu um tsunami e terremotos, algo de mau eles fizeram. Se Haití foi destruído pelo terremoto do ano passado, a culpa foi deles por fazer bruxarias. Se fala que o mundo nunca esteve tão mal, que nunca tantas pessoas morreram, que os sinais do iminente fim do mundo estão por todas partes.
Só que analisando um pouco a história, ou mesmo simplesmente parando para pensar, se percebe que ao longo de tantos milênios de história humana sempre houve catástrofes, sempre houve guerras, mortes e doenças. E no passado, assim como hoje, houve sociedades que surgiram e foram embora, e pessoas que achavam que a sua sociedade era a última, que não dava mais para aguentar tanta maldade, que o fim do mundo já estava chegando. Mesmo os primeiros cristãos achavam que Jesus voltaria logo, até Paulo mesmo escreveu ao respeito, e muitos deixavam suas posses e vendiam tudo esperando o fim do mundo. Opressão, injustiça e desigualdade faziam parte do mundo desde as primeiras sociedades. Até os europeus, que se acham o modelo de igualdade, já tiveram pessoas morrendo de fome e exploradas enchendo suas cidades.
Cada época teve sua própria maldade, seu próprio sofrimento. Isso me faz pensar em Eclesiastes, onde diz que não há nada de novo debaixo do sol: "O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol. Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Não! Já foi nos séculos que foram antes de nós." (Eclesiastes 1, 9-10). Se se lê o texto no sentido literal, ele nos diz que o que foi será, tudo é cíclico. Eu gosto muito do livro de Eclesiastes, e acho interessante que ninguém pára para pensar no sentido destas palavras. Será que é melhor anunciar desastres apocalípticos? Claro, como cada coisa que acontece no mundo é sinal de fim de mundo, melhor fiquemos parados, atentos para identificar direitinho os sinais!
Para mim a sociedade atual é simplesmente sociedade, composta por seres humanos falhos. Como tal, sempre haverá coisas absurdas acontecendo. O ser humano não é tudo bonzinho. Muitos gostam de poder, muitos usam de violência. Isso sempre foi assim. Se queremos mudar alguma coisa, é melhor parar de esperar o fim do mundo e começar a fazer algo. Se uma catástrofe natural acontece, é melhor ajudar quem sofreu, em lugar de procurar causas sobrenaturais no acontecimento. A terra é muito frágil, o aumento da temperatura global tem consequências. E tudo está acontecendo pela ação do homem. Deus não tem que ser carregado com as culpas humanas. Ele não é criança mimada, que fica chateada com alguém e manda a tormenta para castigá-lo. E também, se existem guerras é porque uns poucos gostam do poder, de ter nas mãos a vida e a morte de outros. Se existe injustiça, é porque em muitos lugares há corrupção. Se há fome, é pela indiferença de muitos, o abuso do poder de outros, o acumulo de riquezas de uns quantos. A sociedade é falível, aliás, até agora, depois de mais de 2000 anos de história, nunca houve uma sociedade perfeita. Achar que o fim de mundo está perto por isso não quer dizer nada.
É claro que o mundo algum dia há de acabar. Os cientistas dizem que um dia o sol vai morrer, como todas as estrelas do universo fazem. Além do mais se a gente não fazer algo para encontrar medidas sustentáveis para nossa pobre Terra destruída, se não cuidamos o lar que Deus nos deu, aí é que o fim vai chegar rapidinho. Por isso temos que deixar de procurar causas apocalípticas em cada coisa que acontece, e começar a nos preocupar em melhorar nosso próprio presente, e nosso futuro.
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