11 de fevereiro de 2012

Jesus Banal

Ontem no grupo de teatro, o professor pediu para a gente falar uma frase. Qualquer coisa. Uma das minhas colegas, espírita, disse: Eu acho ridícula a frase "Jesus te ama". Eu fiquei refletindo nos motivos que ela tem para achar a frase ridícula. Ela disse que acha a frase obvia, ou seja, ela já sabe que Jesus a ama, não têm que ficar falando isso o tempo todo para ela. E ai, juntando o que ela disse, com todas as coisas que tenho visto no Facebook, e com todos os chavões de "crente" que se usam nos programas evangélicos na televisão, percebi que o que faz as pessoas achar a dita frase banal, ou então pensar que os cristãos são um tipo determinado de pessoa (para as pessoas que não são evangélicas, crente é aquele que fala aleluias, glórias a Deus, discursa nas praças falando mal do capeta e fala "Jesus te ama". Os evangélicos tornaram Jesus uma figura banal. 
Você abre o seu Facebook, lá encontra um monte de postagens falando de Jesus, comparando como o diabo vê a gente, como Deus vê a gente, falando que a gente vive bem no ano inteiro enquanto os outros não, em fim, falando que somos melhores que aqueles que não são cristãos. E se toma o nome de Jesus e se coloca em tudo, desenhos mal feitos, montagens mal feitas, comparações sem sentido (como por exemplo uma que vi agora mesmo: quem ama de verdade, Jesus ou as pessoas bonitas?)(!) Está ficando tudo num nível absurdo. E não somente nas redes sociais, na vida real as pessoas levam o nome de Jesus a virar frase de efeito, é Jesus pra lá, Jesus pra cá, "Jesus te ama", "Jesus me deu o carro", "Deus me abençoa muito", "quer ser feliz venha pra Jesus", etc. Talvez as intenções dos sujeitos sejam boas. Talvez o que eles pretendem seja evangelizar. Mas se esquece que Jesus não é nossa propriedade, que não é só mais um nome. De tanto falar de "Jesus", as pessoas nem sabem mais quem é ele. 
Uma coisa interessante de ontem foi a afirmação que ela fez de que ela sabe que Jesus a ama, que é algo que não precisa ser re-afirmado. Ela é espírita. Geralmente, os crentes vêem as pessoas que não são evangélicas como pessoas ignorantes, que precisam aprender tudo sobre Jesus, pessoas dominadas pelo diabo e sabe-se lá que mais coisas. E, no entanto, ela sabe quem é Jesus, e sabe do amor dele, e o respeita, mesmo sem ficar usando o dia inteiro jargões e expressões de efeito com o nome dele. 
Eu creio que devemos rever a forma como falamos de Deus aos outros. Geralmente, e isso é evidente no Facebook, assim como em tantos outros lugares, os evangélicos chegam com um ar de superioridade, como se soubéssemos os segredos do mundo, como se fossemos os únicos seres humanos felizes e bons sobre a terra, como se fossemos de uma espécie superior. Eu já falei muito sobre isso no meu blog, mas as coisas que vejo por ai postadas são tão absurdas que me indignam, como sempre, aliás. Agora está na moda postar mensagens do tipo "somos melhores", coisas totalmente sem noção. Isto é, tudo bem, se o evangélico quer passar o carnaval na igreja, tem todo o direito, mas assim mesmo tem as outras pessoas de curtir o carnaval onde elas bem entendam, e isso não significa que alguém vai ser mais ou menos feliz no resto do ano. 
Achei interessante uma postagem que dizia: "Meu ídolo morreu e ressuscitou, e o seu?" Só que não falava de Jesus, mas de Goku, uma personagem de desenho animado. Obviamente eu achei muito sem graça, porém, alguns dos comentários ao desenho expressavam justamente o que as pessoas fora da igreja pensam de nós, "crentes". Alguns foram lá defender Jesus e falaram que era falta de respeito, etc. Até acho que é, falta de respeito à nossa fé. Porém, o que mais podemos esperar num site que todos compartilham, cheio de mensagens ofensivas contra os que não são evangélicos? Se a gente fala na cara deles que são uns infelizes que levam vidas miseráveis, porque ficamos chateados quando mexem conosco? Um outro dos que comentou falou que não aguenta os "crentes fanáticos, que metem Jesus em tudo", e outro ainda falou que crente só sabe ficar ofendido e levar tudo a sério. 
Não gostei da postagem, achei muito sem graça, mas é um aviso. Nós não podemos tratar os outros como espécie inferior e depois reclamar respeito. Nós devemos parar de ficar falando de Jesus no automático, ou, como se diz, temos que deixar de falar "evangeliquês". Se de verdade queremos que as pessoas conheçam Jesus, devemos deixar de falar dele como se fosse o filho do vizinho, ou um simples mantra, ou o gênio que concede desejos. E devemos deixar de encher o saco dos outros com a nossa "Fé" fervorosa. Se somos cristãos, muito bom. Mas não podemos chegar e impor nossas crenças, nossa fé, nossos pontos de vista, aos outros. E com certeza não podemos trata-los como se fossem ignorantes miseráveis, posto que, ainda que não sejam crentes, são pessoas iguaizinhas a nós, com sonhos, desejos, vidas e famílias. Depois, quando revidam, não achamos engraçado, sendo que nós mesmos estamos tornando Jesus um assunto totalmente banal.


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