31 de março de 2012

Sobre a Invasão da Religião

Facebook é uma coisa muito legal. Por meio dele posso estar em contato com minha família, que está longe, e com muitos dos meus amigos, que também estão longe. Porém, ultimamente o Facebook se encheu de recadinhos, de mensagens de auto-ajuda, e também de mensagens "de crente". Tudo bem que as pessoas tenham liberdade de expressão. Mas isso me faz pensar, mais uma vez, na extrema religiosidade que se está vivendo na sociedade atual. Os cristãos, sobretudo, nos comportamos como se quiséssemos encher o mundo com as nossas ideias, mas não de uma forma respeitosa, não, mas do tipo que, se pudéssemos, tomaríamos o mundo pelo pescoço, o obrigaríamos a abrir a boca e nos engolir à força. Sobre essa atitude, duas coisas: Os cristãos sempre foram assim. Antes foram as Cruzadas, mas como agora a gente não pode forçar os outros a aceitar nossa religião, fazemos de tudo para mostrar que nós somos crentes, e que crente é tudo de bom. Ai vem esses mensagenzinhos de: "Deus me ama, Jesus te ama, Deus é minha força, Confio em Deus", etc, etc. E o Facebook fica um pé no saco. As mensagens de auto-ajuda também enchem o saco, mas as evangelistas me parecem, na maioria das vezes, arrogantes.
Mas eu não quero falar especificamente do Facebook e das mensagens de crente. Eu estava pensando no extremismo que está tomando conta do povo. Um extremismo cego, delirante, totalmente enjoativo, que faz com que você fique farto de ouvir qualquer coisa relacionada com Deus. Hoje em dia, para ser cristão, você precisa mostrar que o é, e não basta simplesmente ter uma relação com Deus, não, tem que pendurar na janela um aviso, andar pelas ruas com a Bíblia embaixo do braço, falar exclusivamente evangeliquês e meter Deus em tudo. -O café queimou, irmão!-diz um. -É da vontade dele, meu irmão!-diz outro. Tudo o que acontece, seja bom, ruim, seja simplesmente rotinário, tudo tem a ver com Deus. Até o fio de cabelo que caiu da cabeça, foi culpa de Deus (e bem podem usar aquela passagem que diz que Deus conta os cabelos da nossa cabeça...). É asfixiante. Eu, pelo menos, me sinto cansada, e me pergunto se tem que ser assim, se tudo tem que ser Deus pra lá, Deus pra cá. Coitado, não o deixamos em paz! E o que as pessoas falam que Deus disse, então! Deus mandou fazer isso, Deus me disse pra fazer aquilo, Deus quer profetizar na tua vida, meu irmão! E se você está passando por alguma situação ruim, é por duas coisas: ou pecou contra Deus, ou Deus está te testando, porque, você sabe, silêncio também é resposta!! Eu acho essa frase ridícula. Imagine você estar falando com alguém, ai do nada simplesmente fica calado. O outro não ia pensar: Ahh, é que silêncio também é resposta!. Ele ia era pensar que você é maior mal educado e ir embora. Eu, pelo menos, faria isso.
E a questão é que tanta expressão de religiosidade, tanto fanatismo, tanto "amor" por Deus, é chato e contraproducente. Tanto irmãozinho cantando hinos no ônibus vai deixar a impressão de que somos uns grossos, já que praticamente obrigamos os outros a nos ouvir (e é um saco, sei porque num ônibus que eu entrei tinha um irmão desses, e me cansou, e cansou o senhor do meu lado, que não parou de reclamar pela falta de respeito). Se quer louvar a Deus, use fones de ouvido ou cante na sua casa. As pessoas ficam entediadas, e em lugar de querer saber mais de Deus, ou mesmo se converter, saem correndo dos "crentes". Se eu, que sou cristã, fico aborrecida com tanto bombardeio de religião, imagina os que não o são!
Deus está perdendo a forma. Hoje em dia Deus é qualquer coisa, só basta as pessoas falarem. Deus é curandeiro, banco, bombeiro, segurança (tem uma mensagem por ai que fica falando daquele que "me vigia"), é amuleto contra inveja, proteção contra o capeta, escudo contra a maldade alheia... e por ai vamos, e a lista não acaba. E se você tem um problema, melhor não fale com ninguém, porque vão chover mensagens de "Deus te ajuda", "Seja feliz que Deus está contigo", "Confie em Deus", e assim por diante. Tudo bem, eu sei que Deus me ajuda, mas sabe quando você quer o conforto meramente humano? Quando quer compreensão, em lugar de frases de efeito? Nesses momentos essas frases são como socos no rosto. Poxa, você sofrendo, e te mandam ser feliz!! Dá vontade de mandar todo mundo tomar banho... pra ser boazinha. Tem alguns que ainda afirmam que o sofrimento é uma forma de se alegrar em Deus. Como assim, sou feliz porque estou triste?
Esse pequeno exemplo me leva a outra questão, que está no miolo da extrema religiosidade que vemos por ai entre os nossos "irmãos". Esse tipo de pessoas geralmente cumpre um papel de papagaio. Eles repetem tudo o que aprenderam na igreja. Falam as frases de efeito, acreditando nelas, mas muitas vezes sem parar para pensar no que estão falando. Ou cantando. Tanto lixo com o nome de gospel é cantado por ai, tantas músicas sem qualidade nenhuma, nem musical, nem de conteúdo. "Quero ir além do véu", cantam. Mas, desculpa, a gente não acredita que Jesus rasgou o tal véu? Então qual véu que você quer ultrapassar? E vão colocando mensagens na internet, e falando frases prontas para as pessoas, e não percebem o que estão fazendo. E se alguém chega com uma ideia diferente, ou simplesmente contesta o que eles escrevem, publicam no Facebook, ou o que dizem, misericórdia! É o acabou-se! Você é herege, inútil, desinformado. Porque, claro, o que você disse não bate com o que gravaram com fogo no cérebro do sujeito, e ele não assimila a nova informação, nem tenta, simplesmente a nega, e a rejeita como coisa do capeta. Que é parte importantíssima da vida do tal. Porque, assim como é Deus pra lá, Deus pra cá, também é capeta pra lá, capeta pra lá. Você está deprimido? Culpa do diabo. Doente? O diabo atentando contra você. Não quis ir à igreja esse dia? Está fazendo a felicidade do capeta. E qualquer coisa que você faça ou alegra ou faz aborrecer o capeta. Porque, se você jejua, é a barriga do diabo que ruge. Sei lá, deve ser por isso que ele fica chateado...
Eu olho para a sociedade antiga. Semana passada estava lendo um livro que amo, "Orgulho e Preconceito". A sociedade inglesa dessa época era totalmente cristã. Mas as pessoas viviam suas vidas normalmente. Eles viviam suas vidas pensando no que o vizinho fez, em arranjar um bom marido, enfim, vidas comuns e correntes. Não há, em nenhum dos livros que já li, e dessa época eu já li bastante, não somente o acima citado, diálogos como o seguinte:
-Minha querida Ana, você precisa orar a Deus. Eu sei que ele vai fazer o senhor Ritgh se apaixonar por você. Deixe de chorar, que Deus nos fez alegres. Vai ver que logo, logo, o rapaz vai pedir sua mão.
Hoje em dia Deus é o resolve tudo. Qualquer coisa, ele faz. Claro, ele não é Onipotente? Não encheu a Bíblia de "promessas"? Hoje em dia, se o tal Ritgh não se declarar em determinado tempo, ou Deus está "preparando algo melhor", ou a Ana está em pecado. Tudo, em tudo, e por tudo, sempre tem Deus no meio.
Me pergunto porque essa febre de Deus. Eu sei que Deus é Deus, nosso Senhor, e cada cristão deseja uma relação pessoal com ele. Mas, se é assim, porque o resto? Porque a proclamação sem trégua da nossa fé via internet, ou pessoalmente? Para que tanta ostentação de "olhem para mim, sou cristão"? Tipo um daqueles mensagens do Facebook: "Sim, sou crente". Eu pensei, e dai? O que eu tenho a ver com isso? Em que afeta a vida dos outros? Beira no ridículo. As pessoas se põem em ridículo, ridicularizam Deus, ridicularizam até a sua prezada e proclamada fé. E andam por ai como ovelhas. Eu acho que já falei antes, mas eu não gosto de ser chamada de ovelha. As ovelhas são burras, não pensam nem um pouco na própria supervivência. São um monte de maria-vai-com-as-outras. E a maioria dos cristãos, são ovelhas, não só "do rebanho de Deus", mas literalmente. Como disse acima, papagaios. Ovelhas, indo atrás do que o pastor disse, o que o televangelista disse, do que o cantor tal cantou. Eles não pensam no que ouvem, não refletem, não criticam. Leem a Bíblia sem ler, pois nela há tantas divergências que é impossível afirmar, de cara limpa, que não há contradições nela. Uma coisa simples de exemplo: As genealogias de Jesus. Numa, ele descende de Salomão, na outra, de Natã. E ai, como fica? Durante muito tempo eu fiquei na dúvida com esse texto, e ninguém podia me responder. Ai, fui no seminário e aprendi que essas genealogias não são literais, mas que foram escritas para servir a um propósito específico do seu autor. E ai, fiquei em paz. Porque os que sabem não passam a informação aos que não sabem?
Eu não vejo nada de saudável na atitude que as pessoas "crentes" em geral estão tomando. O excesso de religiosidade para mim é um pesadelo, algo que me faz sentir presa, me da vontade de sair correndo. As frases prontas me dão raiva, ver as pessoas repetir, todas, as mesmas coisas me irrita. Culpa dos pastores que, informados, sabendo das coisas, não repassam a informação aos fiéis, porque, como disse um, "a igreja não está pronta", ou, como disse outro "de todo o correto que há, as pessoas não precisam saber muito" (parafraseando, não me lembro exatamente da frase). Se eles não precisam, porque nós aprendemos? Se não é relevante, porque foi importante para nós aprender? É hipocrisia. Retenção de informação. Manter o povo na ignorância. E uma grande irresponsabilidade. Mas também é culpa das pessoas que, alienadas, não tentam se libertar da alienação, que não se preocupam em analisar o que ouvem, criticar, pensar por si mesmos. Preguiça espiritual (Sabe, o mundo espiritual é importante, a gente tem que estar atento, tudo tem a ver com o espiritual, blá, blá, blá)? Talvez seja culpa do capeta... ou vontade de Deus.


P.S. Os cristãos somos bem hipócritas quando queremos. Invadimos o Facebook, os outdoors, os espaços públicos, com a nossa "pregação". A gente pode, é liberdade de expressão. Quero ver quando começarem a sair mensagens espíritas, ou de Alá, no Facebook... vai ser o grito no céu, porque o capeta está invadindo os espaços públicos!! 


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