28 de outubro de 2010

De Vocações e Expectativas

Com o fim deste ano acadêmico, chego ao fim da minha vida como seminarista. Me formarei, serei bacharel em teologia, e minha vida tomará outros rumos. Ser seminarista foi uma experiência maravilhosa, que me fez mudar muito minha forma de pensar, minha forma de agir. Aqui também encontrei minha vocação, aquilo que me faz feliz, mesmo sendo difícil. Eu gosto de teologia. Eu gosto de estudar. E eu gosto de exegese. É difícil, e ainda tenho muito que aprender, mas eu gosto.
E ai vem a confusão. Quando vim aqui tinha certas expectativas, que agora estão muito longe da minha cabeça e do meu coração. Não que Deus tenha deixado de ser meu Deus. Não que "o chamado" não fosse real. Só que enxergando as coisas desde outros pontos de vista, tudo fica mais complicado, sobretudo porque quando se volta ao redil todos os outros têm a mesma visão que eu deixei há muito, e à qual não pretendo voltar.
Rebeldia? Heresia? Desobediência? Não sei. Sei que muitos esperam de mim algo
que não posso mais oferecer. Sei que minha vida tem uma função, que não vim ao seminário à toa. Mas o que eu quero não estava dentro dos planes originais, e não sei como conciliar o que eu quero com o que se quer de
mim.
Sei que minha vocação é uma: me enfiar nos textos e fazer uma boa exegese. Eu gosto disso, gosto do hebraico, gosto de enxergar no texto coisas novas que nunca vi porque lia com os olhos da dogmática e da tradição. E sei que a exegese enriquece a vida também. Não é simples teoria. A Bíblia é mais complexa do que se pensa. E mais rica do que se fala. E menos rígida do que se impõe na igreja. Por muito tempo fugi da profissão de professora, mas acho que me persegue. Acho que o que eu vou fazer mesmo é ensinar (além da exegese, claro). E para isso tenho que estudar.
Agora minha vida está tomando outros rumos, e ai deixo nas mãos de Deus. Que faça ele o que quiser. Mas que faça e me mostre o que eu hei de fazer, como hei de fazer, como construirei a minha vida.
Eu penso que as pessoas são feitas para desenvolver diferentes tarefas. Na Bíblia também diz, que no corpo existem muitos membros. Eu não me vejo como os outros querem ver-me, mas não por isso acho que esteja fugindo do meu "chamado". Se eu gosto de exegese é por algo. E se fazendo exegese, e ensinando, eu posso fazer a minha parte, não vejo como esteja me afastando da "vocação" e do "chamado". O problema agora é saber o que fazer. Durante quatro anos estudei, me esforcei, vivi muitas coisas belas e ruins, casei, cresci. Agora o mundo está frente a mim, e eu não sei ainda como encará-lo. Tenho uma dívida a pagar, uma responsabilidade a cumprir. E sonhos, metas, ideais, tantos sonhos... tenho uma expectativa própria, também. Porém, por enquanto, tenho de deixá-la de molho. Primeiro tenho que responder às expectativas dos outros, experimentar um caminho, experimentar outro, encontrar meu lugar na vida. E não vou deixar de aproveitar as oportunidades, já que Deus está no controle. Afinal eu vim por isso, porque disse que minha vida estava nas mãos de Deus... e se Deus quer me mostrar um caminho, bem-vindo seja! Meu Deus... os nervos não faltam... o desconhecido dá sempre um pouco de medo!

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