1 de outubro de 2010

Por Quê Osvaldo?

Ontem foi um dia normal. Tudo estava normal, a gente foi às aulas na manhã, vimos Osvaldo como sempre, no seu escritório, falamos, aprendemos, saímos. À tarde as coisas foram comuns. E depois chegou a reunião da noite. Não sabíamos, ou pelo menos eu não sabia, o porque da reunião. E o diretor nos disse: A Convenção demitiu o professor e coordenador geral Osvaldo Luiz Ribeiro. Foi um choque.

Eu fiquei pensando em tudo o que aprendi. Foi engraçado. Essa semana mesmo eu pensei que estava com saudades de ter aula com Osvaldo, já que este semestre não tenho ele como professor, e, como acabei a monografia, não tinha mais sessões de orientação.

Para mim Osvaldo foi o professor que mais influenciou na minha formação, quem mais "dicas" sobre a vida me deu, de quem aprendi um jeito novo de ver o mundo, a igreja, a relação com Deus e a Bíblia. Graças a Deus por isso. Graças a Deus por ter tido a oportunidade de estudar com esse professor que me ensinou tanto, que me permitiu conhecer um novo modo de ser cristã. E foi meu orientador. Sem sua ajuda, teria ficado atolada no meio das minhas cambaleantes tentativas de traduzir um texto do hebraico, e minha monografia não teria sido o que agora é. Tive o privilégio de ser a única orientanda de Osvaldo este ano, visto seu trabalho como coordenador, que não lhe deixava muito tempo livre.

Osvaldo marcou mesmo a minha vida. E foi coerente. O que ele fala é o que ele é, e o que ele faz. Já vi muitos exemplos de pastores (lastimosamente minhas experiências em algumas igrejas têm sido meio ruins) e outras pessoas (seminaristas incluídos) que se proclamam "conservadores", filhos e servos de Deus, defensores da doutrina "certa", que não admitem novas formas de pensar. E vi depois que eles não eram coerentes, que muitas vezes eram, não me vem outro termo à cabeça, "safados", em muitos aspectos, na moral, no comportamento com os outros, criticando tudo que tinham pela frente, se importando pouco ou nada com aqueles que precisavam de ajuda. Proclamavam aquilo que não eram, pregavam aos domingos o que apagavam com sua ação logo depois do culto. E cada vez mais percebi que para ter pessoas assim dentro da igreja, melhor ter pessoas como Osvaldo, que falam claro o que pensam, sem por isso impôr seu pensamento aos outros, e que, sobretudo, com seu comportamento ratificam aquilo que falaram. Osvaldo é assim para mim, ele não usa máscaras, não se disfarça de "servo de Deus". Ele demonstra suas dúvidas, e não tem medo de pensar. E eu aprendi muito com ele.

Como ele disse ontem, ele chegou ao seminário fundamentalista, pensando que só sua igreja era salva. E saiu de aqui diferente, aberto, pluralista. Eu estou passando (ainda tenho tantas "crises de seminarista..." pelo mesmo processo: cheguei aqui pensando que tudo era pecado, que por qualquer coisa que fizesse tinha que pedir perdão a Deus, que não podia nem encostar em alguém "do mundo". E percebi que o mundo não é assim, que ser cristão não é assim. E grande parte dessa percepção foi graças ao que aprendi nas aulas com o Osvaldo.

Esse professor que ontem foi demitido de uma forma tão indigna foi muito importante para muitas pessoas, seminaristas, professores. E para mim. Saber que ele não está mais no seminário, que não vou ver mais ele no gabinete quando me dirigir à minha sala de aula, é triste. É triste pensar que muitos alunos desta instituição não vão ter a oportunidade de aprender com ele. Ele é um excelente professor.

Só tenho para dizer que a sua demissão foi causa de muita tristeza para mim. E para muitos outros. Que foi um golpe tão inesperado, que nos deixou tão impotentes! E, repetindo, que Osvaldo é o professor que mais me ensinou, que mais marcas deixou na minha vida, não só na parte acadêmica (aprendi muito mesmo), mas também na parte pessoal. Ele me ensinou que a gente pode pensar livremente. Que a razão não é um bicho papão. Também me ensinou que Deus não está limitado a uma doutrina, que Deus é muito mais do que a gente aprende na igreja. Me ensinou que pensar, mudar, crescer, dói. Agora o que está doendo é ele ter ido embora... e fica a pergunta: por quê Osvaldo?

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