Hoje estava conversando com a minha amiga e pensei de repente na frase que é o título deste texto. Eu vinha pensando já há algum tempo sobre o assunto, sobre as diferenças, individualidades e sobre a igreja. Querida e velha igreja. A igreja de que eu falo não são as pessoas em si, cada uma, cada "crente". É a igreja instituição, aquela que é representada pelo prédio com a cruzinha, geralmente. Que é composta de pessoas, mas que ao se pensar nela se pensa como uma. Eu mudei muito desde que deixei a minha igreja na Itália e vim fazer teologia. Às vezes me pergunto até que ponto foi bom ter mudado. Mas acho, não, tenho certeza que não posso voltar atrás. Eu sou o que sou agora e não vou jogar fora quatro anos andados. E não quero ser o que eu era. Porque agora eu estou numa crise ferrenha, mas estou me encontrando. Antes eu
era mais uma "ovelhinha". Mais uma. Pensando igual, agindo igual, se der mole até vestindo igual aos outros membros da igreja.
Analizando a sociedade, vejo que as pessoas gostam de ser diferentes. Só que terminam se encaixando em algum grupo "diferente", onde todos são iguais. Tem os rastafaris, tem os punk, tem aqueles que gostam de hip hop e muitos outros grupos. Cada um proclama a sua vontade de ser diferente dos padrões normais da sociedade. Só que, dentro da sua própria sociedade, que é seu grupo, todos são iguais. Vestem as mesmas roupas, usam as mesmas gírias, ouvem as mesmas músicas. É uma homogeneização de pessoas em um grupo separado. Mas, para mim, afinal dá tudo na mesma.
E na igreja é a mesma coisa. Vivem proclamando que devemos ser diferentes, que a gente tem que se afastar do "mundo", que o "mundo" não presta e todo é do capeta, e que nós, crentes, devemos ser referência. Mas, afinal, terminam todos sendo iguais. Vira uma produção em massa de "crentes" que, dependendo da denominação, podem ser mais ou menos evidentes. Assembleianas que não cortam o cabelo, não usam maquiagem e não depilam as pernas. Crente não bebe. Crente não dança. Crente não pode fazer isso ou aquilo. Crente de verdade vive na igreja. Crente não vai de tomara-que-caia na igreja, não usa shortinho, não usa saia curta. Os homens vão de cabelo curto. Se der mole vão até pedir para as mulheres usarem véu! E todo
mundo fica igual. E eu cansei disso. Eu sou diferente, e gosto da minha individualidade. Gosto de fazer as minhas coisas, de vestir como eu quero, como eu me sinto bem. Gosto de ouvir minhas músicas, cantar, dançar. Gosto de sair, de curtir, de rir. Gosto de fazer as coisas sem ter que pensar se "vai pegar mal", se vou escandalizar alguém. E não gosto de fazer nada obrigada. E às vezes acho a igreja muito opressiva. Como se ao entrar ai me enfiassem num saco de generalização, e eu deixasse de ser eu, para ser igual aos outros (saindo um pouco do tema, mas dentro do mesmo raciocínio, penso que isso leva muita gente a aloprar. Essas pessoas que eram os super cristãos, e que de um momento ao outro saem por ai não querendo saber de igreja, indo na gandaia e vestindo roupas estrafalárias. Elas se libertam da "opressão", mas vão ao outro extremo, achando que agora tudo está liberado... isso porque nunca aprenderam a administrar a própria liberdade).
Eu penso que é algo normal dentro da sociedade. Como já disse, em todos os grupos que proclamam sua "diferença" acontece o mesmo. O problema é que eu não quero mais ser igual. Não sou igual àqueles que os evangélicos dizem ser do mundo. Mesmo porque eu acho que essa diferenciação entre "a gente, os cristãos" e "o mundo" é coisa do Agostinho, do Platão e de toda a teologia medieval, que já devia ter sido ultrapassada. Ainda por cima não gosto de Agostinho. Mas, voltando ao assunto, eu não quero mais seguir um padrão imposto de comportamento. Nem de uns nem de outros. Ou seja, não é que agora eu vá correndo fazer tudo o que a igreja diz que não posso fazer. Não é isso. Simplesmente peço o meu direito de ser livre. De poder ser eu. De deixar de fazer parte da massa, e de pensar com a minha cabeça, de refletir, até de criticar. O meu direito de não aceitar tudo que me falam como verdade absoluta, como algo que devo acatar em silêncio. O direito de poder decidir o que é que eu quero, o que é que eu gosto. Se eu gosto de dançar, não quero ter dedos apontando em minha direção. Se uso sainha, shortinho, e se bebo um ice ou um cuba livre, não quero fazer tudo isso escondida. Não tenho de que me envergonhar. Não estou fazendo nada de errado!! Eu quero ser livre daquela praga chamada "o que pensam os outros". Que se dane. Estou pouco me lixando para os outros!
Esse negócio de dar testemunhança da minha fé não rola mais comigo. Para mim ser cristã não é ser como dizem. Não é ir na igreja, orar e ler a Bíblia. É algo mais profundo. Às vezes me pergunto o que é mesmo. Só peço que Deus tenha paciência comigo. Eu estou como Jó, questionando esse Deus que a teologia tradicional lhe punha na frente. Porque o problema é esse: a igreja usa Deus no seu discurso, para poder fazer funcionar a sua produção em massa. E como é que uma pessoa em sã consciência pode falar contra Deus? Tem que estar mesmo em crise para poder fazer isso...
Para concluir, só espero, sinceramente, que as pessoas nas igrejas comecem a enxergar com seus olhos, e a pensar com suas cabeças. Deus é muito mais do que nos dizem, e muito do que se prega por ai é cultura, não Deus. Como se a minha salvação dependesse de um copo de caipirinha!! A vida é muito complexa, e o discurso das igrejas é muito simplista. E depois se queixam de que o povo tem o coração duro... o problema é que o discurso não satisfaz mais as perguntas da alma e da razão! E esse negócio de que Deus não se entende com a razão não é justificativa, porque para mim se Deus me deu um cérebro foi para usá-lo, em qualquer situação.
Espero muito que algum dia a produção em massa das igrejas termine, e as pessoas lutem pela sua individualidade. Afinal, diante de Deus não somos uma massa informe. A gente não prega que Deus se relaciona com cada um na sua individualidade? Então, se Deus faz isso conosco, porque a igreja espera que todo mundo seja igual? É mesmo um sem-sentido...